O público foi recorde na Adventure Sports Fair. (foto: Arquivo Webventure)
Saldo positivo. O ano de 2001 pode ser encarado como mais um passo para a afirmação do mercado dos esportes de aventura e ecoturismo no Brasil. A alta do dólar, nos primeiros dez meses, e a paranóia do terrorismo no exterior, a partir de setembro – apesar de ser a maior infelicidade deste 2001 -, também contribuíram para valorizar os destinos nacionais.
Foi muito comum ligar a TV e se deparar com reportagens ou até programas inteiros dedicados às atividades que ainda levam o rótulo genérico de radicais. Espaço garantido para as principais competições como a EMA, o Dakar e o Sertões.
A movimentação culminou em outubro, com a realização da terceira Adventure Sports Fair, a maior feira de aventura da América Latina e possivelmente a única a reunir num só lugar expositores das principais modalidades de aventura.
Crescimento – O off-road ganhou mais espaço ainda decididamente as montadoras reconheceram o potencial do consumidor para esses produtos. E foram as empresas deste setor as principais anunciantes em veículos de comunicação e patrocinadoras de alguns dos principais eventos de aventura no ano.
É só comemorar? Nem tanto. Um dos acidentes que maior cobertura da mídia tiveram e mancharam a reputação de um esporte cujos praticantes lutam para tornar cada vez mais seguro e organizado, o canionismo, foi, entre outros não divulgados, a carga negativa nesta balança de 2001.
Confira, neste Aventura Brasil, uma retrospectiva da aventura em 2001.
Os números são cada vez maiores. A Adventure Fair teve recorde de público em 2001: 76.500 visitantes em cinco dias. Foram 195 expositores e atrações interativas. Além do off-road, com estandes das principais montadoras, test-drives e a oportunidade de encarar um circuito ao lado de experientes pilotos, foi destaque a ampliação da área de equipamentos. Uma megastore surgiu da reunião de várias marcas e muitos lançamentos foram feitos especialmente nesta ocasião.
Além da internet, consagrada como um dos principais meios de divulgação do setor de aventura, a TV e o rádio abriram mais espaço. Na telinha, atrações consideradas populares, como o programa da modelo Adriane Galisteu, na Record, criaram até um espaço fixo semanal para as mais variadas aventuras. A própria MTV retomou o MTV Sports em novembro e, na estréia, abordou o rafting, entre outros esportes de natureza.
On line – Definitivamente as coberturas on line conquistaram o público. Numa iniciativa inédita, o próprio Webventure abriu um canal entre os torcedores que ficaram em casa e pilotos e navegadores espalhados pelos mais de 5 mil quilômetros de Rally dos Sertões. Eles escreviam mensagens de apoio que eram entregues pela nossa equipe.
De tanto ver, ler e ouvir sobre aventura e natureza, o resultado é cada vez mais praticantes. Dados divulgados neste ano pela Organização Mundial de Turismo apontam que, enquanto o turismo tradicional cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo apresenta crescimento de mais de 20%. Lembrando que este tipo de viagem normalmente está ligada a alguma atividade de aventura, que seja a caminhada por uma trilha.
Apesar das boas notícias, a segurança continua sendo uma pedra na divulgação e aceitação dos esportes de aventura. Em novembro deste ano, praticamente na mesma semana, enquanto mais de 100 praticantes do canionismo interessados no desenvolvimento do esporte se reuniam em Brotas (SP) numa conferência nacional que discutiu as perpectivas desta modalidade, um acidente fatal chocou e, claro, ganhou ampla cobertura da mídia.
Praticando o canionismo na Cachoeira da Fumaça, um dos principais cartões-postais da Chapada Diamantina, uma fisioterapeuta morreu. A provável causa do acidente seria o uso de um equipamento incorreto para a descida num local tão alto. Falha de planejamento.
Iniciativa – Na luta para auxiliar na prevenção dos acidentes em montanha, Pedro Amaral, da empresa Parede, está concluindo o Relatório sobre o tema, com histórias de quem viveu ou presenciou experiências ruins na modalidade. O espaço para que esses episódios fossem relatados esteve disponível durante todo o ano no Webventure e “Hang On”. E Pedro confirma: os erros mais comuns são principalmente por falta de planejamento e o chamado comportamento de risco.
Agora só falta patrocínio para que o relatório se torne uma publicação que será distribuída às entidades de montanhismo que se cadastraram. Para contactar os organizadores do Relatório, basta enviar e-mail para pedro@parede.net.
Novo baque – Outro gigantesco abalo na imagem brasileira não envolveu o risco de uma aventura, mas de estar num lugar à mercê da violência. Em novembro, o maior navegador do mundo, o neozelandês Peter Blake, foi assassinado a tiros durante um assalto a seu barco, no rio Amazonas (região do Amapá). Ele e sua equipe estavam estudando a bacia, em mais uma “Blakexpedition” visando a preservação da água no planeta. A tragédia teve repercussão internacional.
No Brasil, os competidores representam uma parcela dos praticantes de aventura. Possivelmente a mais exposta na mídia. Neste ano a oferta de eventos foi grande e, por tabela, atraiu ainda mais cobertura. Em compensação, teve atleta migrando de um esporte para outro. Neste cenário, é indiscutível o domínio das corridas de aventura.
Não foi à toa que, numa enquete* realizada no Webventure na segunda semana de dezembro, 48,5% dos internautas responderam que corrida de aventura foi o esporte de aventura que mais se destacou em 2001. Em segundo ficou o off-road (18%), quase junto com o montanhismo (16%).
Ainda carregando um pouco da imagem polêmica, pela tendência de criar desafios cada vez mais incríveis e as frias em que os participantes menos preparados podem se encontrar, elas atraem atletas de diversas modalidades. A nº 1 do mountain bike brasileiro, Adriana Nascimento, adotou a corrida como a outra paixão e passou sem maiores problemas pela experiência da Expedição Mata Atlântica na Amazônia, no fim do ano. Sua equipe, porém, não concluiu o percurso.
Fazendo escola – Vindo de outro ambiente, o time campeão da 11ª Copa Paulista de trekking, Sankussemns, depois de colecionar títulos no enduro a pé já planeja partir para as corridas. Fora isso, há adeptos vindos do triatlo, da canoagem, do montanhismo e muita gente vinda das academias de ginástica.
Entre as corridas consideradas grandes, houve 12, contando com a EMA, a Rio Eco e os campeonatos Circuito Brasileiro e Reebok Ecomotion. Fora as organizadas regionalmente e as provas-escola, que estão ensinando os iniciantes a se tornarem multiesportistas. É bom que se preparem mesmo, pois em muitos eventos do tipo surgiram casos de equipes perdidas ou que precisaram pedir resgate por não ter mais condições físicas de seguir.
(*) Esta enquete refere-se a freqüentadores do site e não tem valor científico.
A EMA 2001 conquistou o direito de fazer parte do Mundial de corridas de aventura, junto com outras provas dos EUA, da Europa e Oceania. Realizada na Amazônia, a edição 2001 levou mais de 200 atletas, incluindo estrangeiros para encarar desafios da região da floresta no Pará. Curiosamente não foi registrado nenhum incidente envolvendo os temidos animais da região. O que derrubou os atletas foi o calor.
A desidratação e mal-estar, possivelmente causado pela ingestão de água suja segundo o médico da prova, Clemar Correa, foram os maiores adversários. Sucumbiram a eles 18 times; 29 conseguiram completar a prova, cujo percurso acabou reduzido devido ao ritmo mais lento que o esperado das equipes.
A campeã foi a finlandesa Nokia, campeã mundial. Em segundo ficou a brasileira mais regular em toda a temporada 2001, a Lontra Radical.
Histórico – Outro marco deste ano foi a volta ao mundo em motoplanador realizada por Gerárd Moss com intuito de coletar amostras do ar para pesquisas científicas. A viagem durou 100 dias, repleta de desafios como o mau tempo e a intensa burocracia dos países.
No montanhismo, o destaque foi a escalada da Trango Tower por uma equipe liderada por Waldemar Niclevicz, que se tornou a primeira do Brasil a chegar ao cume desta torre de granito. E as alpinistas chilenas se tornaram as primeiras mulheres sul-americanas a escalar o Everest.
Outros fatos marcantes foram o recorde mundial de Karol Meyer, na apnéia estática, com 6min13, durante a seletiva para o Mundial de mergulho. Na competição, o Brasil ficou em 13º entre 29 países. No off-road, o título de Juca Bala na Super Production no Dakar 2001 e da dupla Reinaldo Varela e Alberto Fadigatti na T3.3 do Mundial de rali cross-country.
E 2002 já poderá chegar com novas importantes conquistas. Nesta última semana do ano, dois brasileiros estão tentando se tornar os primeiros alpinistas do país a escalar o Aconcágua pela via mais difícil, na face sul. E foi dada a largada para mais uma edição do Dakar, o rali mais famoso do mundo. É… este ano, mesmo sem ter começado, promete.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: dezembro 28, 2001