. (foto: Arquivo pessoal)
Depois de meses debruçados sobre mapas e livros, identifiquei tudo o que teria pela frente. Completar 45.000 km, não era apenas um sonho, seria um grande desafio. Aquele instinto curioso, que tenho de conhecer o mundo, estava preste para acontecer. Havia superado o meu maior medo. O medo de nunca partir!
Meu objetivo era buscar formas de preservação ambiental a partir de visitas a diversos parques ambientais da América, assimilando os mais diferentes métodos de administração utilizados e, dessa forma, ampliar a preservação e praticar a exploração adequada de nossas riquezas naturais. Uma mensagem de paz entre os povos foi levada e transmitida a diversas nações.
Foram 17 países, na bagagem, só o necessário. Destino, o inóspito Alaska, em um pequeno espaço de apenas 30 cm, neste, tive que me acomodar durante este milhares de quilômetros. Sobre duas rodas enfrentei ainda a falta de espaço, o desconforto e a falta de potência que, em alguns trechos, não me permitia exceder 60 Km/h. Fazendo com que exaustão e o estresse chegassem ainda mais rapidamente.
Enfrentando as dificuldades – Enfrentei tudo cara a cara. Frio, calor, ventos, chuvas, tudo isso de uma forma indescritivelmente intensa e, às vezes, inesperada. Não era um simples observador das paisagens, mas sim fazia parte delas. Após alguns dias depois da partida, já havia perdido a noção de limpeza.
O contato direto do meu corpo com a mochila fazia com que estivesse sempre sujo, sendo várias vezes lavados pela água da própria chuva. Paisagens únicas, deslumbrantes, desertos, geleiras, picos nevados. Tudo foi mudando durante a expedição. A cordilheira Andina me saudou com a sua altitude e seu povo.
Campezinos que vivem no alto das montanhas e preservam toda a rica cultura de seus ancestrais os Incas. Em seus rostos, marcados pelo frio, guardam a pureza de um povo ainda esquecido e passam a vida, vivendo da pecuária, guiando grandes grupos de ovelhas e lhamas. Estradas de terras ou mal construídas, cortam a Bolívia até o Peru e, orientado pelo som das montanhas, cheguei a Machu Pichu, o templo sagrado dos Incas.
Cortando centenas de quilômetros de curvas, cheguei a um Peru desconhecido. Depois de tanta neve, atingi um enorme deserto, que me acompanharia até o Equador. Pura areia, que com a força do vento invadia a estrada , criando um cenário perigoso e exótico. Estava na rodovia Panamericana, que vai do Chile até os EUA, cortando toda América Central.
Mudanças – A paisagem mudava a cada instante, estava em ponto um pouco desconhecido de nós brasileiros, a América Central. Terra pequena em área, mas grande em cultura, praias e vulcões. Países como a Costa Rica abrigam em seu pequeno território, lindas praias e grandes vulcões, como o enorme Arenal.
Vulcões que já causaram grandes destruições, como a histórica cidade de Antígua, na Guatemala, que foi parcialmente destruída. Ou que margeiam as estradas da Nicarágua. Meus olhos pararam admirados diante das grandes obras Maias em Copán, Honduras. Seguindo a Panamericana, cheguei à terra da Tequila. Muito deserto e cactus, um povo acolhedor e alegre. Estava no México. Foram quase 4.500 km para cortar todo país.
Tive a oportunidade de presenciar enormes e aterrorizantes tempestades de areia. Se você quer viajar ao México de carro, prepare o bolso, pois as estradas apesar de boas, possuem os pedágios mais caros do mundo! Cinco dólares e alguns são de 100 em 100 quilômetros.
Fim da Panamericana e entrada na terra do tio Sam, segui para a costa Oeste, Califórnia. E de lá para cima , rumo ao Canadá. Depois de cruzar as três Américas. Cheguei ao único acesso ao Alaska. Uma carretera, com o mesmo nome, Alaska Highway. Lendária, de muitas histórias, esta solitária rota, fica fechada durante 9 meses do ano e depois de um inverno sempre rigoroso ela se abre e dá passagem a intrépidos aventureiros, que ousam dividir com animais os 3.200 km de uma das estradas mais isolada de nosso planeta.
Tive a sensação de ser um estranho diante daquela natureza gigante, fria e isolada. Em alguns momentos, tinha que pedir licença à mãe natureza, pois seus filhos ursos, moozes e viados, não se preocupavam em atravessar a estrada, fazendo daquele asfalto, já estragado pelo rigor do inverno, parte de suas casas.
Chegando ao Alaska – Meu sujo e arranhado capacete se molhou, uma emoção muito grande tomou conta de mim. Chegava ao Alaska! Lágrimas escorriam sobre o meu rosto já exausto. A sensação de missão cumprida, de um sonho realizado, uma viagem que me custou muita estratégia, paciência e principalmente determinação. Depois de 45.000 km pude ver que podemos acreditar em nossos sonhos.
Chuva, muita chuva, em uma delas uma inesperada chuva de insetos, fenômeno que só você estando pelo mundo você pode vivenciar. Situações inesperadas, improvisos para dormir e para sobreviver. A descoberta de que somos capazes de conhecer o mundo, e vivê-lo como ele realmente é. Foram dias que vivi na maneira mais simples de ser, me transportando como nômade em cima de motocicleta.
Vivendo e aprendendo muito. Passando por grandes metrópoles e seus formigueiros humanos, mas também podendo curtir a solidão dos desertos e das regiões mais inóspitas. Precisamos vencer nossa grande barreira de viver sonhando! Viaje em seus pensamentos, acredite e conquiste o seu próprio Alaska.
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que participaram e deram a maior força! As empresas patrocinadoras: Ale combustíveis, Albergues da Juventude, Eldorado motos, Max Market, UAI, Estado de Minas.
Rodrigo Fiúza é estudante de turismo da faculdade Una e instrutor de esportes de aventura
Este texto foi escrito por: Rodrigo Fiúza
Last modified: novembro 26, 2002