Lontra Radical surge na ponta da praia de Carauary (foto: Gustavo Mansur)
Quem conhece corridas da aventura sabe que os momentos que antecedem a chegada da primeira equipe costumam ser os mais intensos. Não foi diferente aqui na EMA 2001 Amazônia.
Quando os jornalistas que acompanham a prova acordaram no PC17, em Monte Alegre (PA), na última quinta-feira, a mais otimista estimativa indicava a chegada da primeira equipe para a manhã de sexta (30/11). No entanto, desde que a equipe Nokia acordou todo o QG da prova, à meia-noite de quinta-feira, a organização da EMA 2001 viveu momentos correndo contra o tempo para preparar a chegada dos líderes em Alter do Chão (PA).
Jornalistas e parte da organização foram transladados às pressas para Alter do Chão em uma corrida na tentativa de conseguir acompanhar o desembarque do primeiro time. A distância nem é tão grande, cerca de 160 quilômetros, mas, na Amazônia, onde o transporte é todo feito em barcos, a situação começa a ficar um pouco mais complicada.
A equipe Nokia partiu do PC18 com as catraias (barcos locais) às 9h33 da quinta-feira e poderia chegar ao final da prova antes das 22h. Os jornalistas só chegaram ao PC18 às 16h e a ligação com Alter do Chão demoraria longas nove horas de barco. Ou seja, era aparentemente impossível alcançarmos a equipe líder.
A solução foi uma viagem de quatro horas pelo rio Amazonas até a cidade de Santarém (PA), de onde em 30 minutos se atinge de ônibus a vila de Alter do Chão. Mas que ônibus? Evidentemente, nada disso estava no script da prova e não é simples arrumar um ônibus na cidade de Santarém para transportar um grupo de 15 jornalistas em tão pouco tempo.
Do PC18, após alguns telefonemas através de um telefone via satélite, conseguiram um ônibus que possivelmente encontraria o grupo no porto de Santarém. No caminho, o mesmo dos competidores em suas catraias, passamos por duas equipes da categoria Aventura, que saíam do canal do rio Amazonas rumo a Santarém e depois Alter do Chão.
Alter do Chão é um pacato vilarejo e uma das principais áreas turísticas e ecológicas da região de Santarém. Praias virgens nas águas claras do rio Tapajós. Um verdadeiro paraíso. Mas, às três da madrugada de sexta-feira (30/11), na praia em frente ao hotel Beloalter, nada lembrava a tranqüilidade que fez a fama do lugar.
Na praia de Carauary, o último PC da EMA era montado para receber a equipe Nokia Adventure, que podia chegar a qualquer momento. Infláveis montados, agitação de fotógrafos e jornalistas olhando constantemente para a ponta da praia em busca das luzes de sinalização noturna da equipe campeã.
Já eram duas horas da madrugada quando as primeiras luzes de navegação foram vistas ao longe, na curva da praia. A agitação aumentou, champanhe foi trazida no gelo de dentro do hotel. Equipes de filmagem pediam silêncio, enquanto o batalhão de fotógrafos tentava organizar a melhor forma de registrar a chegada da equipe líder.
Às duas horas e vinte minutos da madrugada, os finlandeses da Nokia Adventure Team tocam a areia da praia Carauary, em frente ao hotel. Flashes cortaram a madrugada em frente ao rio Tapajós. Como de costume, os finlandeses Petri Forsman, Mika Harvinen, Jukka Pinola, Elina Mäkirautila demoram a abrir algum sorriso que demonstrasse a alegria de ter vencido o duro calor tropical, a secura das planícies queimadas e as fortes correntezas do rio Amazonas.
Durante um minuto ficou o silêncio geral entre jornalistas e os vencedores da mais difícil das edições da EMA. Só o ruído dos flashes se escutava na praia. Alguém grita contratulations! tentando quebrar o gelo. Só então, Petri Forsman abre um tímido sorriso, que é seguido pelos demais da equipe. O time segue para a linha de chegada e ultrapassa a faixa para vencer a EMA Amazônia 2001.
Com o fim da festa da Nokia, grupos de jornalistas continuaram na praia esperando a chegada da Lontra Radical, com um segundo lugar brasileiro na EMA. Previsões otimistas marcavam a chegada da catraia com os integrantes da Lontra para duas horas após a chegada da Nokia. Os jornalistas resolveram esperar na areia. De nada adiantou, a Lontra acabou só desembarcando às nove horas da manhã.
Quem viu a chegada da equipe brasileira Lontra Radical até pode ter pensado que o grupo formado por Vítor Lopes, Luís Antonio Teixeira, Rafael Reyes e Marina Verdini estava vencendo o EMA, tal era a festa nas areias da praia. Quero tomar um banho, disse Vitor Lopes assim que perguntaram qual seria a primeira coisa a fazer. Não é para menos, foram cinco dias intensos junto dos finlandeses. A Lontra confirmou o favoritismo entre as equipes nacionais apontado pelo próprio Vítor antes da largada em Santarém.
Valeu, eles são um dos melhores do mundo e a disputa que fizemos aqui na Amazônia com eles prova que estamos prontos para um passo maior, comentou Luís. Mais tarde, em entrevistas, ele voltou a falar da disputa contra a Nokia na descida do rio Maicurú. Eles realmente aproveitaram a nossa navegação, desabafou. Ficaram na nossa cola, é a estratégia deles, principalmente porque não falam nada de português e a comunicação com a população local foi fundamental na localização, comentou.
Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur
Last modified: novembro 30, 2001