Sangue, suor e lágrimas, literalmente. A brasiliense Carolina Ribeiro cruzou a linha de chegada do Iron Biker, ontem, em Belo Horizonte (MG) conquistando o maior título da carreira. Minutos depois foi levar pontos no braço, cortado num tombo durante a prova. “Nem senti dor, estava tão preocupada em passar a frente da Jacqueline (Mourão, líder da corrida durante quase todo o domingo) que peguei a bike e fui embora”, conta Carol, rindo. “Só quando cheguei é que vi o cotovelo cortado e sangue na roupa, no relógio, na luva… Mas vale a pena!”
Carolina esbanjou confiança durante todo o Iron. “Me preparei muito bem para a prova, não foi só pegar a bicicleta e andar”, conta. Para ajudar, ele dispensou o hotel e viajou para Minas num trailler, com outros bikers de Brasília. Lá tinha de tudo: chuveiro, massagista, comida trazida de casa, água.
O primeiro dia, sábado, foi o pior para a campeã, apesar de ela ter liderado toda a etapa, de Ouro Preto a Lavras Novas. “Foi o pior trecho de todos os anos. O chão estava duro, levantava um pó que a bicicleta afundava… Fora o calor e aquele sol de rachar”, descreve. “No final, a Jacquelina ainda encostou, mas eu consegui manter a ponta.”
Dormindo na largada – Com tanta vontade de vencer, Carol dormiu no local da largada do sábado para domingo. “Pegamos o trailler e fomos para Honório Bicalho. pude me concentrar e percebi que seria muito mais importante vencer no segundo dia, em que a pontuação era maior. Não podia dar moleza”, lembra. Mas o reinício do Iron não foi tão bom. “Minha sapatilha começou a sair do pé toda hora. Vi a Jaqueline abrir uma distância grande”, conta.
O esforço teve de ser dobrado por causa do trajeto. “Era só subida e descida. Mas eu tenho facilidade em subir”, diz. No meio da prova, veio o tombo. “Não consegui fazer uma curva após uma descida e caiu no cascalho. Um cara parou e perguntou se eu estava bem. Peguei a bike e falei ‘Vambora, meu irmão!’.
Carolina só alcançou Jacqueline nos últimos 10km. “Vi que ela estava morta e passei. Os últimos 5 km eu corri sozinha.” No pódio, a biker preferiu dividir a conquista com os companheiros da equipe Specialized, entre eles o namorado, Abraão Azevedo, segundo colocado no masculino.
Pedalar ou trabalhar? – Agora, a brasiliense só pensa em conquistar o novo sonho: o Brasileiro. Para isso, terá de vencer a briga de anos com a paulista Adriana Nascimento, pentacampeã. “Ela não é imbatível, mas é raçuda demais. Mas, fora das pistas, somos muito amigas”, conta Carol, que quase deixou de pedalar neste ano ao receber uma tentadora proposta de emprego na área de informática. “Desisti não por causa do esporte, mas por causa da minha faculdade, que vou concluir neste ano. Deixaria de competir por um bom emprego, porque a gente tem que pensar no que vem depois.”
Por enquanto, para Carolina, virá a Copa Ouro e o meeting de ciclismo (pista) de Brasília. Depois, férias, formatura e… “não vou pensar tanto no futuro. O importante é que hoje faço o que mais gosto.”
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: outubro 18, 1999