Pausa para descanso na estrada (foto: Arquivo pessoal)
De 11 a 23 de julho, mais de 150 pilotos enfrentaram o quinto maior rali do mundo. Dirigir por estradas de terra cruzando o Brasil é uma verdadeira aventura… Mas, fora da competição, a gente também tinha um desafio a cumprir. A missão era realizar a mais completa cobertura on line do VIII Rally Internacional do Sertões, percorrendo 5.000 mil quilômetros, por sete estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí e Ceará), trazendo todos os detalhes da prova: notas de hora em hora, matérias jornalísticas diárias e o envio de galerias de fotos, áudios e vídeos.
Para que isso fosse atingido, profissionais da Webventure, escolhida pela segunda vez como site oficial do evento, trabalharam exaustivamente por três semanas, desde a criação do site até o último dia, com a festa do Dunas Race Day, em Fortaleza. Antes do início do rali, ficou estabelecida uma estrutura de cobertura, dividida em três estações, cada qual com as devidas responsabilidades.
Havia fotógrafos acompanhando o percurso por terra, repórter sobrevoando a prova para dar informações continuamente e outra equipe dando suporte em São Paulo. Até aí, nada de anormal… Mas as aventuras que esta equipe de trabalho vivenciou tomaram outro rumo daquelas vividas pelos pilotos nas trilhas. Foram dificuldades específicas da profissão aliadas às de um rali, sem contar ainda com o cansaço. A gente até brincava que nosso dia tinha que ter 36 horas: 24 junto aos pilotos e 12 para trabalharmos, comentou André Chaco, um dos integrantes do time da Webventure nos Sertões, ao término da cobertura.
Neste Aventura Brasil, você conhecerá este lado diferente do evento off-road mais importante da América Latina: o rali da informação.
Para ter acesso a todas as informações durante as especiais a única solução existente era sobrevoar a prova. No céu, a radicomunicação e o sinal de telefonia móvel eram suficientemente bons. Foi por estes motivos que enfrentei a aventura, pela primeira vez, de voar mais de 5.000 km, pousando em pistas, muitas vezes, de terra.
À bordo do Coyote U – 5004, monomotor para dois lugares, percorri, ao lado do piloto Cláudio Ambiel Jr., todas as etapas do Rally dos Sertões. De propriedade de Marcos Ermírio, diretor da prova, nosso avião fazia parte do apoio aéreo, em conjunto com mais dois (o Coyote U 4571, do piloto e médico Eduardo Gualberto e um pelicano pilotado por Marcos Ermírio) e três helicópteros (dois da Unimed, com as equipes médicas, e um de filmagem). A comitiva ainda fora acompanhada pelo Coyote de Henry Abreu, que já participou do rali de carro, pilotado pelo instrutor Rogério.
De lá de cima, o apoio aéreo circulava por todos os trechos das especiais, avisando a equipe técnica terrestre de possíveis problemas, como a entrada de veículos alheios na pista, ou de acidentes ocorridos.
Gato e rato – No decorrer das especiais, nosso Coyote perseguia os competidores. Houve vezes que a velocidade dos carros e motos era tão altas, que quase não conseguíamos alcançá-los. Outras, dávamos rasantes. Tudo para que conseguíssemos um enquadramento perfeito para uma foto.
Havia também o privilégio do visual. Por cortar sete estados brasileiros, pude observar os diversos tipos de vegetação e as diferentes formas de topografia. Em Minas Gerais, por exemplo, via-se muitas serras. Em Goiás, toda a exuberância da Chapada dos Veadeiros. E no Tocantins, o deserto do Jalapão. No final de cada dia, já que éramos obrigados a pousar por falta de visibilidade, ainda recebíamos a bênção do maravilhoso pôr-do-sol.
Além disso, o apoio aéreo sempre chegava ao destino final bem antes dos pilotos, que estavam em deslocamento. Com isso, a coleta de informações foi rápida, facilitando a produção de matérias jornalísticas. Quem diria que, em um rali-off road, eu faria um rali aéreo…
Da mesma maneira que os competidores, André Chaco e Tomás Gridi Papp percorreram todas as trilhas rali de carro. Por doze dias, uma Ford Ranger Supercab 4×4 Diesel, cedida pelo Ford para todas as coberturas da Webventure, foi o escritório de ambos.
A rotina para quem quisesse acompanhar os Sertões por terra era puxada. Como é proibida a locomoção de qualquer veículo durante a especial (trechos cronometrados), todos os dias a dupla de fotógrafos saía cedo, quase sempre sem o dia claro, para achar um lugar apropriado e assim clicar as emoções de uma curva em alta velocidade, de um salto. E, só depois de do último carro passar, eles poderiam se dirigir para o destino final.
Segundo Chaco, tínhamos um grande problema comparado aos pilotos. Era preciso sair antes deles, com uma boa vantagem de horário, porque não podíamos andar na mesma velocidade que eles. E sempre chegávamos bem depois do último carro.
Concentração – Para aumentar as dificuldades, eles tinham apenas uma chance de conseguir captar o líder ou qualquer outro piloto naquele trecho. Tinha de ficar atento. Se você se abaixasse para amarrar o tênis, poderia perder sua melhor foto, explicou Tomás.
Passada a última moto, normalmente a organização largava os carros trinta minutos depois. Neste espaço de tempo, a dupla entrava na Ranger e pisava fundo até encontrar um novo local para fotografar. Quando havia um intervalo de normalmente de meia hora entre a passagem das motos e carros, a gente fechava tudo, entrava no carro, andava mais ou menos por 20 minutos para ter fotos de locais diferenciados, conta Chaco.
No caminho ao destino final, seja pela trilha ou por fora dela (com um deslocamento muito maior), Tomás ligava o notebook, trabalhava em cima das fotos e até enviava algumas por satélite. Como sempre, chegávamos bem depois do último piloto, eu já selecionava as fotos e adiantava o trabalho, lembra. Mesmo assim, eles tinham de ir até a sala de imprensa para tratar vídeos e enviá-los para a redação em São Paulo. Além do percurso ser mais longo, era mais demorado. A gente tinha o trabalho das atualizações diárias quando chegávamos nas cidades. Somado ao agravante do cansaço, que no final era bastante, não foi fácil, finalizou Chaco.
De todo o trajeto deste Sertões, é preciso destacar que a especial de 500 anos (509 km de Palmas-TO a Alto Parnaíba-MA), realizada no deserto do Jalapão, no dia 19 de julho, foi traumática para muita gente. Não só os pilotos sofreram, mas as equipes de apoio, a técnica e a imprensa também. Durante todo o dia e a madrugada seguinte muitos carros quebrados e pilotos de moto esgotados de cansaço ainda estavam no meio do trecho.
Entre os que ficaram para trás, estava o carro da Webventure. Com problemas mecânicos nos últimos 40 km, o veículo ficou a noite inteira preso na etapa e só no dia seguinte foi guinchado. “A gente classificou aquela etapa do Jalapão como a etapa do inferno. Chegamos lá um dia antes dos pilotos e saímos um dia depois”, desabafou Chaco.
À beira do caminho – A dificuldade foi tanta que, mesmo quando encontraram um reboque, eles não conseguiram completar a etapa. “Na hora que conseguimos ser levados a reboque no caminhão da BR Lubrax (301 – pilotado por André Azevedo), o cabo de aço arrebentou, o piloto não viu e foi embora. Ficamos de novo, lá abandonados”, conta.
“Naquela noite a gente até pensou em escrever uma matéria “show de horrores”, sugeriu o repórter. “Era impressionante o que tinha de carros e motos parados no caminho. Os motociclistas que não agüentavam mais andar e deitavam no mato para tentar dormir algumas horas”. Apesar de todo o sofrimento, todos terminaram bem a etapa e a Ranger conseguiu vencer os desafio do Jalapão.
Chegar às praias de Fortaleza, no último dia do Rally, foi uma benção. É sinônimo de missão cumprida. Com muito sucesso e, claro, dificuldades, completamos mais esta cobertura, que aliás foi a mais aventureira das tantas que já temos no currículo. Não podemos deixar de citar que muita gente nos acompanhou Sertões afora, diretamente de seus computadores. Mais de 300 quiseram se manifestar em mensagens no Muro de Recados do site dirigidas à nossa equipe, pilotos, mecânicos e à organização do Sertões.
Um dos textos nos incentivou ainda mais: “Parabéns André Chaco, André Pasco, Tomás Gridi Papp, Luciana e toda equipe da Webventure!!! Foi uma cobertura de grande profissonalismo aliado a muito coração! Obrigado a vocês pela força e pela companhia nas longas madrugadas de trabalho. Até a próxima!!!! Sueli Rumi, assessora de imprensa da Chevrolet Team”. Pode ter certeza, Sueli, ano que vem estaremos lá de novo, sempre com coração… e muito espírito de aventura!
A cobertura on line e oficial da Webventure no Rally dos Sertões teve apoio da Ford. Confira tudo sobre o Rally no site oficial www.rallydossertoes.com.br
Este texto foi escrito por: Andre Pascowitch
Last modified: julho 29, 2000