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Belezinha sai da fila e vence no Brasileiro

Redação Webventure/ Montanhismo

Ele já participou “de uns 20 campeonatos brasileiros” e depois de tanto tempo saiu da fila, conquistando anteontem, pela primeira vez, uma etapa do nacional. André Berezoski, o Belezinha, credita a vitória no Rio à nova vida de patrocinado – ele agora tem mais tempo para treinar – e nunca ao fato de ter escalado duas vezes, devido a um erro técnico da via. “Fui prejudicado na primeira escalada. Tinha o direito de voltar, mesmo tendo experimentado boa parte da via. O fato de escalar pela segunda vez podia nem ter sido positivo, afinal eu já estava cansado”, justifica, em entrevista exclusiva à Webventure.

Webventure – Como é ganhar pela primeira vez?

André Belezinha – Faz anos que eu estou na cola, sempre pegando segundo, terceiro lugar. Já participei de uns 20 Brasileiros, 15 com certeza. Finalmente chegou a minha hora.

Webventure – Foi uma final polêmica, com a história da costura que “sobrou” na sua vez. Conte o que aconteceu.
Belezinha
– Antes de eu entrar, teve outra vez aquele problema de agarra que rodou. Esse campeonato bateu o recorde de agarra rodando, isso não pode acontecer, elas têm de estar muito bem apertadas. Então, o route-setter subiu pra apertar e, para se prender, soltou uma das costuras que estavam na via e não faziam parte dela. Acabou esquecendo isso e desceu. Quando eu subi, já tinha a via memorizada e sabia que não tinha costura naquele ponto. Passei por ela e o público gritou: “Costura!” Resolvi voltar, mas os meus dois pés já tinham passado dela, o que me desclassificaria. Retornei três movimentos e fiz a costura. Acabei fazendo seis movimentos a mais e faltou energia para os dois movimentos que me levariam à última agarra.

Webventure – Imediatamente, ao descer, você reclamou com o juíz…

Belezinha – Foi, falei com o Tomáz Grid Papp (Proesportiva) e com o Ricardo Leizer, eles já tinham tomado conhecimento daquilo e logo me isolaram dos outros competidores para que eu voltasse a escalar. Fiquei uma meia hora esperando, pensei: ‘Vamos tentar de novo, vai contar a melhor tentativa. Já conheço a via, então vou tentar ir rápido’. Sabia que tinha ido bem na primeira vez, então estava meio desencanado. Consegui dominar a última agarra, mas não fiz a costura. Pela reação do público, achei que tinha empatado com o Guilherme Zavaschi, só que eu tinha dominado a agarra que ele apenas tocou. Como os favoritos já tinham ido, minha única preocupação foi o Thiago, que foi muito bem, tocando na agarra final.

Webventure – Teve gente achando ruim você voltar a escalar a via que já conhecia?

Belezinha – Isso sempre surge, mas não tem o que questionar. Houve um incidente técnico e fui prejudicado. Isso é mais grave do que eu escalar duas vezes. Depois, estava cansado, podia ter ido pior que da primeira vez, como aconteceu com o Ricardo Shen, que esperou um tempão para começar a escalada por falta de luz, depois voltou porque uma agarra rodou.

Webventure – Falando nisso, como você avaliou a organização do campeonato?

Belezinha – Desde o fim de semana passado, quando participei do Desafio de Velocidade, houve muitos problemas com as vias. Ou muita gente caia do mesmo lugar ou muitos completavam a via. É preciso que a dificuldade apareça gradativamente… Acho que a visão dos route-setters do campeonato está meio ultrapassada, eles não devem estar muito em contato com o que acontece hoje. Isso atrasou todo o cronograma das provas, virou uma bola de neve. Cheguei a ficar 13 horas no isolamento, isso cansa psicologicamente. Dos 50 campeonatos que já participei, este certamente foi um dos mais estressantes.

Webventure – Por que a maioria das críticas fica só nos bastidores?

Belezinha – Tem esse lado de todo mundo ser amigo, existe muita consideração pra chutar o balde. Depois a gente sabe, que ou é desse jeito, ou não tem campeonato. Quando eu despontei, veio toda uma nova geração com o Helmut, o Formiga, o Fafá e tinha 10 vezes mais campeonatos que hoje.

Webventure – Como é ter um patrocínio remunerado?

Belezinha – Meus patrocinadores são a Casa de Pedra e a Pé na Trilha, é um esquema raro no país, que dá muito mais tranqüilidade e estímulo ao escalador. Eu trabalhava com ressolas de sapatilhas, agora reservei esse tempo para treinar.

Webventure – O Sul-americano do próximo fim de semana vai ser resumido a um Brasil x Chile?

Belezinha – Diria que é o Brasil contra o Juan Jose Fernandez, que ganhou todos os Pan-americanos desde 94. Ele é um escalador preciso, sabe a hora de descansar e tem uma interpretação da via quase perfeita. Mas o nível não se mantem entre os demais atletas chilenos, aliás devem vir só três, enquanto nós temos 16 inscritos, todos num nível muito alto. O Brasil pode colocar mais gente no pódio.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: abril 18, 2000

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