A notícia da morte do alpinista americano Alex Lowe, vítima de uma avalanche ontem, no Shishapangma (8.046m), causou surpresa na comunidade dos alpinistas no Brasil. Ainda hoje muitos deles desconheciam a tragédia. Entre eles, Luiz Makoto, que teve contato com Lowe por diversas vezes nos EUA e na Patagônia.
“Lowe não entraria ingenuamente numa enrascada”
Luiz Makoto
“Não éramos amigos, mas eu conversei com ele algumas vezes. Era um grande nome do alpinismo, sempre foi tido como uma pessoa à parte”, diz. Makoto preferiu não julgar o fato. “Ninguém sabe o que aconteceu realmente, não acredito que Lowe entraria numa enrascada ingenuamente com a experiência que tinha e principalmente por ser um pai de família”, observa. “Existem vários tipos de avalanche, nunca estive envolvido numa mas já vi muitas de perto. Às vezes ela é totalmente imprevisível.”
“O Shishapangma é o mais baixo dos 8 mil. Mas é um 8 mil”
Paulo Coelho
O paulista Paulo Coelho também prefere não tirar conclusões precipitadas. “Fica difícil sem ter todos os dados do que aconteceu. Quando se está perto do cume, como foi o caso deles, é complicado”, analisa. “A rota que eles escolheram (Suíço-Polonesa) é a mais difícil. E o Shishapangma é o mais baixo dos 8 mil, mas é um 8 mil e deve ser respeitado como tal.”
Coelho discorda imediatamente dos que afirmam que a expedição americana começou tarde demais. “Não existe isso de temporada ideal. Estive no Shishapangma em maio de 96 e não pude fazer o ataque ao cume por causa do clima”, explica. O alpinista aproveita para lembrar que a expedição de Lowe seria a primeira a esquiar no Shishapangma pela rota Suíço-Polonesa, mas o italiano Hans Kammelander foi o primeiro a descer a montanha com esquis, em 96, semanas antes de repetir o feito no Everest.
“Tenho certeza que ele estava fazendo o que mais gostava”
Helena Artman
A carioca Helena Artman planejava ir ao Shishapangma neste ano, mas ainda aguarda um patrocínio. Com a experiência que tem, acredita que avalanches são uma fatalidade. “Tem pessoas que moram nos Alpes e estão em casa, quietas, quando vem uma”, lembra.
Helena acompanhava a carreira de Lowe por revistas e lamentou o fato. “O consolo é que, tenho certeza, ele estava no lugar que mais gostava, fazendo o que mais gostava. Só quem vive na montanha sabe o que é isso, não somos suicidas”, defende. Com uma frase, tirada numa das muitas publicações internacionais que elegeram Lowe como o melhor alpinista do mundo, ela resume o destino do americano. “Existem alpinistas velhos e existem alpinistas ousados. Não existem alpinistas velhos e ousados.”
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: outubro 6, 1999