Dando seqüencia às noções de primeiros-socorros em caso de acidente na aventura, esta matéria explica o que é o estado de choque.
O termo “choque” é freqüentemente utilizado de forma errônea. Muitas vezes, ouvimos pessoas perguntando “ele estava em choque?” quando se refere ao susto de um pequeno acidente ou algo similar. Mas o que é o choque? Choque é uma desordem no sistema circulatório. Em um estado de saúde normal, o coração bombeia o sangue através das artérias, veias e capilares, para alimentar os órgãos e tecidos do corpo com oxigênio e nutrientes. Mais importante, o sistema circulatório irriga o cérebro, o que nos mantém vivos. Algumas vezes, o corpo não consegue fazer com que o sangue chegue aos órgãos e tecidos, levando ao choque. Isto pode ocorrer, por um dos motivos abaixo:
1) Falha no mecanismo que bombeia o sangue (coração);
2) Problemas nos vasos sangüíneos;
3) Baixo nível de fluidos no corpo (sangue, água)
Existem quatro tipos de choque que podem ocorrer em caminhadas ou escaladas: Hipovolêmico, Cardiogênico, Vascular e Anafilático.
Choque Hipovolêmico
O choque hipovolêmico se dá quando existe uma diminuição do volume de fluidos no corpo. De uma maneira geral, isto é causado por grande perda de sangue (hemorragias) ou grande perda de fluidos corporais, através da transpiração excessiva, vômitos, queimaduras ou diarréia.
Choque Cardiogênico
Este tipo de choque está relacionado a problemas com o sistema de bombeamento do sangue através do sistema circulatório, ou seja, o coração. Ataque cardíaco, atigimento por raio e trauma podem causar uma diminuição significativa na perfusão sangüínea, mesmo não havendo perda de volume.
Choque Vascular ou Neurogênico
O corpo humano tem um intricado sistema de comunicação interna, que tem como parte principal, o sistema nervoso. O cérebro está conectado a este sistema e é quem nos diz quando respirar, quanto respirar, quando bater o coração, quanto sangue bombear e quão largos os vasos sangüíneos devem estar para permitir que o sangue passe com uma determinada pressão. Quando este sistema é interrompido, como acontece em traumas espinhais, o controle do sistema circulatório é perdido. Os vasos aumentam em diâmetro (vasodilatação), o que faz com que a pressão do sistema circulatório caia, resultando em choque vascular.
Choque Anafilático
Inúmeras pessoas são alérgicas a várias coisas. Umas a comida, microrganismos, outras a picadas de insetos, como abelhas. Ser ferroado por uma abelha, pode levar muitas pessoas a um estado de choque vascular, resultante de uma reação alérgica. Neste caso, a histamina liberada pelo corpo com o objetivo de combater a alergia, causa uma vasodilatação, levando a um choque anafilático.
Os sintomas gerais do choque são o pulso rápido, fraco e irregular (a pulsação normal em um adulto é de 60 a 100 batimentos por minuto – bpm); respiração rápida, curta e irregular (respiração normal em adulto é de 12 a 20 incursões respiratórias por minuto – irm); sudorese; palidez; ansiedade; náusea; vômito; e, em algumas vezes, perda parcial ou completa da consciência.
Em uma pessoa com suspeita de trauma na coluna cervical, os sintomas diferem um pouco. A vítima irá apresentar pele seca, pulso lento e, em alguns casos, paralisia.
Pessoas sofrendo de choque anafilático apresentarão, no estágio inicial, pele avermelhada, partes do corpo inchadas, urticária ou outras erupções semelhantes na pele e náusea. Indivíduos em estado mais severo de choque anafilático poderão apresentar obstrução das vias aéreas, o que se não for cuidada rapidamente, pode resultar em morte.
O que fazer
Enquanto o socorro não chega, assuma sempre que a vítima vai entrar em choque. Comece o tratamento pelo ABC da Vida (desobstrução das via aéreas com controle da região cervical, manutenção da respiração e controle de hemorragias). Se o indivíduo estiver sangrando excessivamente, controle imediatamente a hemorragia. Uma perda sangüínea de 20% já faz com que haja uma taquicardia, elevando o pulso a 120 bpm.
No caso de choque anafilático, onde a probabilidade de obstrução das vias aéreas superiores é muito grande, esteja preparado para executar ventilação artificial (respiração boca-a-boca) até a chegada de auxílio médico.
Se possível, coloque a vítima de costas para o chão, mas apenas se isso não for comprometer a região cervical. Eleve as pernas da pessoa cerca de 25 centímetros, a fim de aumentar o retorno de sangue para o coração e cérebro. Se a vítima apresentar ferimentos na cabeça, esta atitude não é aconselhável.
Aquecimento – Mantenha a vítima aquecida. Remova qualquer roupa úmida e isole-a do chão (com isolente térmico ou saco de dormir). O objetivo é manter a temperatura interna do corpo o mais próxima possível do normal. Em casos severos de choque, o corpo perde sua capacidade de gerar calor, podendo levar a vítima à hipotermia. Para que isto seja evitado, é preciso que uma ou duas pessoas fiquem junto à vitima, para que o calor de seus corpos a aqueça.
Caso a vítima esteja consciente, ministre fluidos (Atenção! Nunca dê bebidas alcoólicas, chá ou café. Como essas bebidas são diuréticas, elas aumentarão a perda de fluidos). Dê água ou bebidas isotônicas.
Pacientes em choque cardiogênico devem ser mantidos em repouso, para não sobrecarregar o sistema circulatório que já está debilitado.
Pedro Lacaz Amaral é engenheiro
especializado em meio ambiente, tem formação de socorrista pelos Anjo do Asfaltos e foi monitor dos cursos do grupo. Pratica escalada e caminhada há 8 anos e há dois anos possui a agência de ecoturismo e aventura “Parede” e está à frente do Relatório de Acidentes de Esportes de Montanha – se você tem informações sobre algum acidente, cadastre-se em www.hangon.com.br/acidentes
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: junho 17, 2000