Na América, Raphael Karan deu início ao plano audacioso de percorrer os Cinco Continentes. No diário de bordo, exclusivo para a Webventure, acompanhe esta viagem.
Eram 9h30 de sábado, no último dia 8 de janeiro, quando saí da garagem do prédio em direção à pracinha perto de casa, onde costumo correr todas as semanas, em São Paulo. Havia marcado lá o meu ponto de partida. A despedida foi emocionante, com muitos abraços, fotos e algumas lágrimas. Parti quase uma hora depois, sendo seguido por alguns amigos motoqueiros que me acompanharam até a entrada da Rodovia Castelo Branco. Emparelharam-se comigo e tocaram suas buzinas, que pareciam dizer “até logo”.
No primeiro dia, viajei até Londrina (PR). Percurso tranqüilo e
sem sustos. De lá, fui para Cascavel e Foz do Iguaçu, onde conheci as famosas cataratas. No domingo, uma semana depois da partida, cheguei à fronteira do Brasil com a Argentina, parando para visitar as famosas ruínas das missões jesuíticas de San Ignácio. Para minha surpresa, parecem ter mais fama do que merecem. Na minha opinião, as ruínas de São Miguel, no Rio Grande do Sul, são muito mais impressionantes e melhor conservadas.
Depois de dormir em Posadas, segui para o norte, entrando no estado de
Tchaco que, além de muito pobre, é extremamente quente. A temperatura
muitas vezes ultrapassa os 40 graus, inclusive na parte da tarde! Nesse trecho, precisei ser cauteloso e andava muito devagar, evitando de trombar na estrada com porcos, vacas e galinhas. Mesmo assim, consegui manter minha média de quilometragem: de 250 a 300 km por dia.
Ensaboado – No povoado de Taco Pozo, procurei abrigo na única hospedaria do lugar. Na manhã seguinte, levantei cedinho para tomar banho e, enquanto me ensaboava, a água acabou. Com sabonete por todo o corpo, viajei 364 quilômetros até San Salvador de Jujuy… Sempre que paro numa cidade para dormir, abasteço a moto. Ao fazer isso em Jujuy, notei que o consumo de combustível aumentara de 18 km/h para 14 Km/h. Um mecânico que me explicou que isso estava ocorrendo por causa da altitude – a cidade fica a 1,5 mil metros acima do nível do mar.
O problema é que eu ainda iria subir muito mais. Na cidade seguinte, San Sebastian de Tilcara (2.460m) procurei outro mecânico: queria
saber por que a motocicleta custava a subir mesmo em primeira marcha.
Descobri que as velas estavam sujas, pois, com a falta de oxigênio,
queima-se muito mais gasolina do que ar. O excesso de combustível suja
as velas, fazendo o motor falhar. Troquei-as pelo par sobressalente que havia trazido de São Paulo e logo a moto voltou a andar bem. Pude
comprovar subindo a montanha Garganta del Diablo – a quase 3 mil metros de altura. De lá, apreciei uma vista fantástica, que aliada a falta de oxigênio, ajuda a tirar o fôlego.
Daqui vou seguir para a Cordilheira dos Andes, entrando no Chile, onde muita estrada e paisagens diferentes me esperam. Até a próxima!
A expedição Cinco Continentes tem apoio de Webventure, Berlitz, DHL, Morumbi Shopping, Michelin, Leather Way, Braitner, Mercearia, Eldorado FM e revista Motociclismo.
Este texto foi escrito por: Raphael Karan
Last modified: fevereiro 12, 2000