Burocracia, turismo e quase 450km sem desgrudar da moto. Confira a terceira parte do diário de bordo da expedição Cinco Continentes, exclusivo para a Webventure.
Depois que parti de Iquique, ao norte do Chile, fui para Arica, cidade litorânea, quase na fronteira com o Peru. O lugar pertenceu a esse país até 1764, quando o Chile a tomou na batalha de El Moro, que recebeu esse nome por causa de um forte no alto de uma montanha.
Quando cheguei na fronteira do Chile com o Peru, me deparei pela primeira vez com a burocracia latino-americana. Primeiro, inspecionaram minha bagagem; depois, tive de pegar uma fila para conseguir o carimbo que me daria o direito de ingressar no país.
Mas não parou por aí. Entrei em outra fila para apresentar a documentação da moto. Quando finalmente fui atendido, descobri que precisava tirar fotocópias do passaporte e do documento da moto. Serviço feito, voltei para a primeira fila na qual fui atendido por três funcionários diferentes. O último deles me acompanhou até o veículo para pôr um adesivo de identificação no vidro, mas como moto não tem pára-brisa, o tal adesivo foi colocado de uma forma que não se podia ver o que estava escrito. Ao todo, foram duas horas e meia de espera debaixo de um sol terrível, suando à beça sob minha roupa de couro preta.
Dia de turista – Segui para a pequena cidade de Moquegua para descansar. No dia seguinte, viajei de ônibus em direção a Cusco. Por causa da altitude, seria impossível chegar de moto até lá. Minha primeira parada foi em Arequipa, segunda maior cidade peruana, onde tive a agradável surpresa de conhecer a grande Plaza de Armas, construída pelos espanhóis na época da colonização, para comercializar produtos locais e de outras regiões.
Em Arequipa comprei passagem para Cusco. O engraçado é que, ao chegar à rodoviária, me senti numa própria feira livre: as empresas de ônibus vendem suas passagens aos gritos.
Cusco, que tem formato de um Puma, foi a primeira capital da América do Sul. Para construí-la, os incas desenvolveram uma engenharia muito avançada para a época, à prova de abalos sísmicos. A próxima parada foi Machu-Picchu, para onde fui num trem a diesel. Em três horas e meia, se vê uma bonita paisagem, na qual se destaca um caudaloso rio cheio de pedras conhecido como Vilcanota o Wilcamayu.
Enfermaria – Depois desse breve passeio turístico, fui para Camana, pela rodovia Pan-americana, que margeia a costa do Pacífico entre montanhas de rocha e areia. Naquele dia, dirigi 438 km, horas e horas, numa estrada praticamente sem retas. À noite, já na hospedaria, quando fui guardar a moto apareceu um enorme vira-lata que veio para cima de mim. Havia enchido o tanque e não agüentei o peso, deixando-a cair. Quando levantei seus mais de 230 quilos do chão, minha coluna, que já não é tão nova, entortou de vez. Por sorte, na posição que fico na moto, encostado na bagagem, não sentia dor e assim pude seguir viagem.
A expedição Cinco Continentes tem apoio de Webventure, Berlitz, DHL, Morumbi Shopping, Michelin, Leather Way, Braitner, Mercearia, Eldorado FM e revista Motociclismo.
Este texto foi escrito por: Raphael Karan
Last modified: março 10, 2000