Para Luiz Azevedo estar no Dakar é algo mágico (foto: Luciana de Oliveira)
Ele fazia uma jornada dupla no Dakar 2001: durante o dia, ajudava na direção do caminhão de assistência da equipe brasileira BR Lubrax e, à noite, cuidava na manutenção das motos de Jean Azevedo e Juca Bala. Era muito cansativo, mas, ao mesmo tempo, muito gratificante, explica Luiz Azevedo, o Luizão que ganhou, durante a prova, o apelido de vovô do Dakar.
Para mim, era muito importante saber que parte do meu trabalho estava contribuindo nos resultados da equipe. Como eu também já corri de carros e motos, sempre dava alguns conselhos. Além disso, me preocupava em tranqüilizar os meninos explica Luiz, que é primo do piloto André Azevedo.
Muita areia, moscas e pobreza – Enquanto os pilotos da equipe andavam à toda velocidade buscando boas colocações no maior rali do mundo, Luiz Azevedo, embora tenha percorrido o mesmo trajeto dos competidores, via a experiência de um Dakar diferente.
Como nós não andávamos tão rápido, tínhamos mais contato com os costumes e as pessoas do deserto, explica o mecânico. Azevedo sentiu-se tocado com basicamente três coisas durante esta sua jornada paralela: a grande quantidade de areia, as muitas moscas nos pequenos vilarejos e a pobreza.
A areia é algo que causa um desgaste muito grande, é terrível. Você não consegue fazer nada sem se sentir desconfortável. Já as moscas, você encontra em quantidade assustadora nos vilarejos, principalmente perto dos açougues improvisados no meio do deserto, explica.
A pobreza, porém, foi o que mais comoveu o mecânico da equipe brasileira. É complicado você ficar vários dias vendo adultos e crianças na mais completa pobreza. Eles passam o tempo como pedintes, querendo que você dê coisas. E até um tablete de açúcar serve… O problema é que nem um navio cheio de coisas seria o suficiente para todos. É muito triste, conta.
Vale pelas conquistas – Uma prova como o Paris-Dakar acaba tendo uma quantidade muito grande de imprevistos e desconfortos, mesmo para os membros da equipe de apoio como Luizão.
Era uma dificuldade, por exemplo, para tomar banho. Fiquei seis dias sem ver um chuveiro e, quando vi, pensei até em não arriscar. O lugar era muito precário e a água me parecia estranha. A única solução que eu encontrei foi tomar o tal banho, mas de coturno, para não colocar o pé no chão, explica Azevedo.
Todos essas situações, porém, não tiram de Luiz Azevedo o sorriso e a verdadeira paixão pelo maior rali do mundo. Eu adoro o Dakar, não tem jeito. Por mais cansativo e desgastante que seja, sei que é uma experiência maravilhosa. Só quem está lá, sentindo o calor, a poeira, o cheiro, vendo tudo aquilo, sabe de fato o que é, conta.
Este ano, com a vitória de Juca Bala na categoria Super Production para motos até 400cc, o rali ganhou, para Luiz, um significado ainda mais especial. Esta é a quarta vez que eu vou ao Dakar e , chegar ao final e ser campeão teve um gosto muito especial. É uma sensação que eu quero guardar para toda a vida.
Este texto foi escrito por: Débora de Cássia
Last modified: janeiro 24, 2001