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Niclevicz é o primeiro brasileiro no cume do K2

Redação Webventure/ Montanhismo

Niclevicz também foi primeiro brasileiro no Everest  com Mozar Catão  há cinco anos (foto: Divulgação)
Niclevicz também foi primeiro brasileiro no Everest com Mozar Catão há cinco anos (foto: Divulgação)

Depois de duas tentativas frustradas, Waldemar Niclevicz conseguiu o que chama de seu “grande sonho”: torna-se o primeiro brasileiro a escalar o K2, no Paquistão, a segunda maior montanha do mundo e considerada a mais difícil. O feito foi obtido no último sábado, às 18 horas e 30 minutos, mas só hoje o alpinista conseguiu contactar o Brasil para anunciar o sucesso da expedição.

“A neve, sempre na altura do joelho, atrasava nossa progressão, além do mais, estávamos sem o uso do oxigênio artificial. Mas pelo menos
o tempo estava ótimo, sol num céu azul, sem vento. Que maravilha, tínhamos de continuar! E continuamos, para chegar, Abele Blanc, Marco Camandona e eu, um atrás do outro, às 18 horas e 30 minutos, do dia 29 de julho, no alto dos 8.611 metros de altitude. Abraços emocionados! Conseguimos, meu Deus, conseguimos!!!”, escreveu Niclevicz diretamente da montanha.

Como disse, o brasileiro teve a companhia de dois experientes alpinistas italianos: Abele Blanc, com quem executou as duas primeiras tentativas, em 98 e 99, e Marco Camandona. Apesar do sucesso, o trio teve problemas com a baixa temperatura. Camandona, com três dedos congelados, deverá sofrer amputações. Niclevicz também está com uma mão imobilizada.

Leia abaixo o relato do alpinista com detalhes da escalada:

“Parti do base dia 26, junto com nossos quatro carregadores de altitude. Meu amigo meteorólogo Daní Ramires dizia “quatro dias de ligeira melhora no tempo, talvez boa oportunidade para tentar chegar ao cume”. Eu acreditei! (…)

Assim, com quatro dias, no primeiro saltei o acampamento 1 e fui direto ao acampamento 2 (6.700m). No segundo dia, 27 de julho, Abele Blanc e Marco Camandona, partiram de madrugada, direto do base para me encontrar no acampamento 3 (7.450m). Dia difícil este, muita coisa deu errado. Logo depois de eu partir do acampamento 2 com os carregadores aconteceu um acidente. Um deles foi atingido por uma pedra na cabeça. Mesmo estando de capacete delirava, chorava. Meu Deus, logo agora – pensei! O tempo melhorava e eu não queria descer. No final dois dos carregadores acabaram descendo dos 7.100m levando o colega ferido.

Ficamos apenas com um outro carregador, mas com pouquíssimos mantimentos. Nos seguiam, contentes, Ivan e Fabrizio, da Expedição Americana, dizendo que, se quiséssemos, poderíamos usar uma
das três barracas que dias antes haviam montado a 7.300m. Chegamos lá e nenhum vestígio das barracas, todas haviam desaparecidas abismo abaixo, levadas por uma avalanche. Enquanto nossos amigos estavam desconsolados, subimos mais um pouco, até os 7.450m, o verdadeiro lugar do acampamento 3.

O tempo ficava cada vez melhor. Dia 28 de julho seguimos entusiasmados, Abele, Marco e eu, rumo aos 8 mil metros. Terreno virgem à nossa frente, sem cordas fixas, sem uma única pegada. Aos 7.700m tentamos encontrar seis garrafas de oxigênio que abandonamos em 1998, dentro de uma barraca. Busca em vão. Isso significava que iríamos tentar terminar a escalada sem o uso do oxigênio artificial. Algo muito difícil!

A 7.950m de altitude montamos nosso acampamento 4. Às 23 horas do dia
28 de julho eu iniciava o ataque final junto com o carregador Meherban Shah, um dos quatro paquistaneses que já havia escalado o K2. No final do “Pescoço da Garrafa”, 8.300m, era já a décima vez que ele reclamava do frio, assim ele acabou voltando ao acampamento 4. Mais tarde, às 4 horas e 30 minutos, Abele e Marco se juntavam a mim, a cerca dos 8.400m. O sol nos esquentava na “travessia do japonês”, enquanto um muro de gelo (serac) de quase 80 metros de altura ameaçava despencar sobre nossa cabeça.

Por fim, o verdadeiro o cume do K2, lá no fundo, muito longe, eram 15h30, muito tarde. A neve, sempre na altura do joelho, atrasava nossa progressão, além do mais, estávamos sem o uso do oxigênio artificial. Mas pelo menos o tempo estava ótimo, sol num céu azul, sem vento. Que maravilha, tínhamos que continuar! E continuamos, para chegar, Abele Blanc, Marco Camandona e eu, um a trás do outro, às 18 horas e 30 minutos do dia 29 de julho, no alto dos 8.611 metros de altitude. Abraços emocionados! Conseguimos, meu Deus, conseguimos!!!”

A descida – “Às 19 horas começamos a longa descida, sob um lindo entardecer. Longa e terrível descida! No atrapalhar do ar rarefeito, Marco e eu perdemos a lanterna. Abele iluminava nossa descida na escuridão, mas uma lanterna para três era pouco. Abele e Marco se adiantam.

Eu me vejo sozinho, a 8.400 m de altitude, e procuro abrigo numa greta (rachadura no gelo). Passo a noite tremendo de frio, a 30 graus negativos. Marco e Abele chegam a nossa barraca às 4 da madrugada. Às 7 horas Abele se espanta e diz “um fantasma”, era eu quem também conseguia chegar ao acampamento 4, vivo. Nós três descemos muito cansados ao base. Estamos todos bem. Tenho princípio de congelamento em três dedos da mão esquerda, nada grave. A situação de Camandona é mais complicada, provavelmente terá que amputar a ponta de dois ou três dedos das mãos. Abele, como sempre, está ótimo. O K2 continua imponente, quase imbatível!”

Clique aqui para conferir os relatos diários que Niclevicz enviou do Paquistão, e continuará escrevendo, com apoio da TAM.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: agosto 1, 2000

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