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Raio X de um campeonato inesquecível

Redação Webventure/ Montanhismo

Após três finais de semanas muito importantes para escalada esportiva do país, encerrou-se no último domingo, no Rio, a 1ª Copa Sul-americana, parte do megaevento entitulado Rope Show. O campeonato foi excelente. Obviamente, como em qualquer atividade, poderia ter sido um pouco melhor. Mas basta relembrar o que possuíamos em um passado não muito distante para entendermos o quão bom este torneio foi. Aproveito para fazer um raio-X do campeonato, dando detalhes principalmente das vias para deixar vontade em quem não estava lá…

As vias do Sul-americano estavam PERFEITAS! Os route-setters Alexandre Portela e Half receberam reforço do paulista Paulo Gil (90 Graus), formando um time excelente. As eliminatórias foram “BOMBÁSTICAS”. A via (8c) foi minando aos poucos os competidores, diluindo os pontos de queda e, mesmo para o “monstro” Diego Marsella (Argentina), foi bem cansativa. Errando um movimento e eliminando uma das últimas agarras, ele não desistiu, conseguindo terminar a via bastante exausto.

Nas finais, a via exigia tudo dos competidores. Havia alguns pontos de descanso extremamente úteis aos que os perceberam. Os primeiros dez movimentos eram bem esticados, com agarras boas, gerando confiança e servindo como um pré-aquecimento. Uma agarra grande encerrava esta parte da via, onde os atletas utilizavam para descanso.

Após algumas respiradas e sacudidas de braço, a galera encara uma seção bem forte onde um movimento dinâmico para o lado. Saindo de uma agarra em forma de pinça e com os pés quase no ar, tinham de alcançar uma agarra boa. Ufa! Este “crux” acabou com a alegria de muitos competidores, pois mesmo quem conseguiu executá-lo gastou tudo que tinha de energia.

A queda era inevitável nos próximos movimentos. A seqüência do teto foi muito bem explorada e enriquecida com uma pirâmide de madeira colocada invertida no teto. Com muito empenho, os atletas tiveram de explorar as agarras nesta pirâmide para vencer a virada do teto. Além da seqüência ser extremamente extenuante, a virada exigia muita técnica de escalada em teto, pois sem a utilização dos calcanhares para o auxílio do escalador, vencer a pirâmide seria impossível.

Ops! – Passando o virada do teto, ops!, tivemos um probleminha…. Uma proteção acabou “derrubando” dois atletas por estar fora da linha da via. Uma pena… Desesperados, após a virada do teto, Thiago Balem e André Berezoski não conseguiam alcançar a costura. Não havia um ponto ideal para fazer a proteção e eles se soltaram com potencial para continuar a escalada e a menos de cinco movimentos para concluir a via. ATENÇÃO ROUTE-SETTERS!

Mesmo com esse detalhe, a extrema precisão e resistência de JuanJo (Chile) o impulsionaram aos últimos movimentos. Contudo, a força do argentino Diego predominou na competição. Todos ficamos boquiabertos: em perfeita forma física, Diego mostrou a todos nós, mortais, que só treinando muito sério é que vamos conseguir nosso lugar entre os primeiros. Mesmo errando alguns movimentos que poderiam ter comprometido sua escalada, conseguiu se recuperar em locais impossíveis e quase pegou a última agarra da via (9b), onde só os últimos movimentos já graduavam 8a.

Show das irmãs – No feminino, igualmente boa, a via (7a) proporcionou um belo show. O destaque ficou com Janine Cardoso que, se recuperando de uma fratura no pé, mostrou que não veio para brincar e sim para brigar pelo pódium. Nas finais, a via foi consumindo gradativamente nossas meninas em pontos isolados. Só pela inclinação da parede, a via já se tornava um pesadelo para a eterna luta do escalador contra a gravidade. Janine bombou e caiu na virada do último teto, mas sua irmã Paloma e a chilena Sara Aylwin completaram com folga e foram para a superfinal.

Enquanto os route-Setters adaptavam a via para o desempate, Paloma, sentada ao meu lado, observava sistematicamente o trabalho deles. Parecia confiante, mas como a conheço bem, percebi um certo nervosismo. Ao iniciar a escala, ela mostrou que algo mais transparecia em meio aos movimentos: vontade de vencer e determinação.
Paloma completou a via de forma única (e eu quase tive um ataque cardíaco!).

Nitidamente exausta na sua vez, Sara se empenha. Num movimento dinâmico para alcançar uma agarra no teto, erra e cai. Uma sensação de alívio paira no ar, o Brasil estava no pódium!

Estrutura

Após sete anos envolvido diretamente com escalada esportiva, definitivamente não me recordo de um campeonato tão singular como este. Vale a pena ressaltar outros aspectos, como o muro. Este sim vai deixar saudades…. Perdi a conta dos atletas que, admirados com tamanha grandiosidade, se perguntavam quando teriam outro desses para escalar. Eu mesmo, que estou me recuperando de uma lesão, lamento muito não ter tido a honra em escalar no maior muro de escalada já montado na América do Sul. Para tirar nota dez, faltou mais largura e uma borda para evitar o grande problema que o atleta enfrenta em ultrapassar o limite lateral da parede, não podendo utilizar seu calcanhar como apoio.

Também foi nítido o esforço da organização do Sul-americano para evitar surpresas, como os atrasos e problemas técnicos vistos anteriormente, que poderiam colocar tudo à perder. Após três finais de semana de competições, a equipe estava entrosada e muito bem “pilotada” por Tomás Papp, veterano na área de organização de competições. Parabéns a todos!


Eduardo Carceroni, da Casa de Pedra, colaborou com a Webventure na cobertura do Sul-americano de escalada.

Este texto foi escrito por: Eduardo Carceroni

Last modified: abril 28, 2000

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