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Riamburgo volta para mostrar que ‘o Ceará não está magoado’

Redação Webventure/ Offroad

“Vou retornar para a última especial para mostrar que o Ceará não culpa o Rally pela morte do Beto”, diz um entristecido Riamburgo Ximenes. Em Fortaleza, onde chegou na última segunda-feira após desistir de lutar pelo segundo título, o atual campeão dos Sertões, Riamburgo Ximenes, fala, em entrevista à Webventure, de como está lidando com a morte do companheiro de vitória em 99, Paulo Salles, e da volta à prova, amanhã, em Quixadá.

Webventure – Como foi tomar a decisão de deixar o Rally?

Riamburgo Ximenes – Pois é, eu tinha resolvido continuar para tentar o título em homenagem ao Beto, mas aconteceu um problema bobo no carro no domingo. A tampa do capô estava batendo na tampa do radiador e esta empenou e não vedava mais, então jogava a água para fora. Acho que foi um sinal de que eu não deveria continuar. Disse: “chega, não agüento mais!” (Riamburgo chorou ao decidir não largar na última segunda-feira) O tempo vai cuidar de botar as coisas no lugar.

Webventure – A situação da família Salles, como ficou?

Riamburgo – Esta é minha missão agora: perdi um amigo e ganhei quatro filhos. Quatro adolescentes, meninos de ouro, sem vícios, nota mil… o Beto soube plantar.

Webventure – Por que vocês não formaram a dupla neste ano?

Riamburgo – O Beto competiu nos Sertões em 96 e capotou, não pode terminar a prova. Então ficou com isso atravessado, queria concluir o Rally pilotando, independente do resultado. Era o sonho dele.

Webventure – O Rally neste ano já vinha sido marcado por vários acidentes menores…

Riamburgo – Todos os acidentes, fora o do Beto, foram todos previstos, simples. Nas motocicletas é que o pessoal abusou um pouco mais. O Jalapão mostrou que temos que nos preparar mais porque pouca gente chegou, aliás era a minha esperança. Como o areião predomina, nós do Nordeste teríamos vantagem. Ia ser um show, nosso carro estava preparado, com autonomia para chegar até o fim, suspensao à altura, tínhamos treinado com carro pesado… Mas Deus não quis.

Webventure – O que mudou ter vencido o Rally do Sertoes em 99?

Riamburgo – Ganhamos reconhecimento nacional, eu já era muito respeitado no Nordeste, mas o sul, o Brasil não sabia do nosso potencial. Na edição de 99, tinha a posicao de azarão e agora tinha virado o favorito.

Webventure – Foi mais difícil ser o favorito?

Riamburgo – Para mim, é indiferente. Faço a prova sossegado e os resultados vêm. Não tenho vaidade, gosto de disputa, não faço para me exibir.

Webventure – Você vai voltar ao Rally amanhã, em Quixadá. Esse retorno é uma homenagem ao Beto?

Riamburgo – Como as coisas agora estão em ordem, a viúva está mais sossegada, a oficina voltou a funcionar… naquele momento eu tinha de parar, mas agora vou retornar para mostrar à organização que o Ceará não ficou triste, nem deturpou esse acontecimento. Quero mostrar que o Rally não teve nada a ver com o que aconteceu com o Beto. Infelizmente, a culpa foi do amigo.

Webventure – Que outras homenagens estão sendo preparadas?

Riamburgo – Vai haver o Troféu Beto Salles, no Dunas Race Day. É uma bela escultura, feita pelo Zé Guedes, renomado artista plástico cearense, que vai ser entregue aos três primeiros de cada categoria. Vamos fazer também 500 fitas brancas com nome do Beto para as antenas dos carros. E também cartazes com fotos Beto no Dakar, no Baja 99, quando fomos campeões, e nos Sertões, para as pessoas conhecerem ele mais um pouco e entenderem essa emoção nossa. E por último haverá um livro onde os competidores poderão escrever mensagens ao Beto e que vai mostrar à viúva que ele era um homem carismático e que todos gostavam dele.

Webventure – Falando em fim do Rally, você acha que o Édio Füchter já levou este?

Riamburgo – É igual aconteceu comigo o ano passado: se o Édio não vencer com essa vantagem toda e o mérito dele, temos de ir num cartório assinar um atestado de imbecil, o que não vai ser o caso porque ele é um homem inteligente. A prova está na mão dele. Ele pode se dar o luxo de vir passeando até aqui. Mas num rali tudo pode acontecer… Eu torço pelo Varella, por conta que é um Troller feito pelo Beto. Pela minha espiritualidade acho que o Beto, onde quer que ele esteja, vai conduzir esse carro para o melhor resultado possível. Julgo que ele vença, acho que o Varella deve vencer no geral, em segundo deve ficar o Füchter. Isso quem fala é a minha espiritualidade.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: julho 21, 2000

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