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Rope Show: a versão dos bastidores (parte 2)

Redação Webventure/ Montanhismo

Marcello Santos, vice-presidente da AAEERJ – entidade que deu apoio técnico aos eventos – aponta erros e soluções para os campeonatos, com base no que aconteceu nos dois últimos fins de semana, no Rio, sede do Carioca e o Brasileiro. “Grandes eventos, trazem grandes problemas. Estamos aprendendo o lado da organização”, diz, em entrevista à Webventure.

Webventure – Vamos começar pela questão mais polêmica: a prova se estender pela madrugada…

Marcello Santos – Nós não esperávamos tanta gente para competir. Achávamos que viriam 40, 50 pessoas quando apareceram mais de 60. Eu não estava no momento em que se decidiu que as semifinais aconteceriam mesmo com o avançado da hora. Fui levar para o hospital um atleta que bateu as costas no muro, para ver se estava tudo bem. Quem tomou a decisão foi o Tom (Tomás Grid Papp). Atletas e os route-setters chegaram a pedir que ele deixasse a semi para o dia seguinte, mas ele optou pela continuação. Mesmo porque muitos atletas vinham de outras cidades e, se a prova fosse mais longa no domingo, isso poderia atrasá-los.

Webventure – Mas os atletas sabiam desses atrasos e imprevistos?

Marcello – Pode ser que esse lado da comunicação tenha sido falho. Mas isolamento é lugar de concentração, não de conversa. A gente também não pode passar estresse aos atletas, dizer: ‘olha, a via ainda não está montada’… isso gera nervosismo no escalador.

Webventure – E a costura sobrando no caso do Belezinha?

Marcello – O que faltou foi o juíz parar 30 segundos e dar uma olhada na via. Mas isso, usando as palavras que ouvi do Portela, é um incidente técnico e já vi acontecer outras vezes.

Webventure – O que você considerou um erro até agora?

Marcello – Eu não usaria a palavra erro, é que não podia ter acontecido dessa forma, eliminatória à noite. Mas teve até gente que elogiou, achou legal escalar de madrugada. O que eu considero erro é a não-liberação da pontuação por parte do juíz Ricardo Leiser. O atleta tem direito a esses dados. E também questiono os critérios de eliminação – por que a paulista Cláudia Cleman não foi à final, se tinha pontuação para isso?

Webventure – Houve um boato de que se trocariam os route-setters para o Sul-Americano. É verdade?

Marcello – Em hipótese nenhuma faríamos isso. Se houve problemas na via foi porque tudo foi montado às pressas, não tinha quem testasse. No domingo passado deu tempo e a via estava ótima. O Portela é um dos melhores, senão o melhor do Brasil.

Webventure – Quais as soluções para o próximo fim de semana?

Marcello – Grandes eventos trazem grandes problemas, é normal. A AAEERJ representa o atleta. O Thomás, a organização. Nós estamos aprendendo esse lado de logística e acho que a organização também deve ceder um pouco mais para o lado do atleta.

O juíz do Carioca, Brasileiro e Sul-Americano, Ricardo Leiser, responde às questões levantadas na entrevista acima.

Webventure – Deveria haver verificação da via antes de cada escalador entrar para evitar problemas como o que aconteceu com o Belezinha?

Ricardo Leiser – No Brasil, a gente corre atrás do prejuízo, estamos longe da perfeição porque não há dinheiro para oferecer aos route-setters o equipamento ideal para montar a via. No exterior, por exemplo, existem gruas para levá-lo ao alto do muro. O elevador que eles estão usando aqui no campeonato não vai nem à metade do muro. Costura sobrando é um erro, mas é difícil esquadrinhar o muro a cada escalada para ver até o que é imperceptível. Nós verificamos a via antes de cada fase.

Webventure – Houve retenção da pontuação dos atletas?

Leiser – Não, já enviei tudo à organização.

Webventure – E o caso da Cláudia Cleman, por que ela não foi classificada para a final?

Leiser – O critério de desempate foi a regularidade dos movimentos dela na agarra. Ela ficou menos tempo que as outras.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: abril 19, 2000

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