A história de Pernambuco não é marcada apenas pelo ciclo da açúcar, nem pela vida pomposa dos senhores de engenho. No agreste pernambucano se desenvolvia um intenso comércio que girava em torno da exportação de couro de boi e peles de cabra. Muitas fortunas se fizeram com a comercialização destes produtos que, após um primeiro beneficiamento, era remetido para o Recife, do mesmo modo que a carne, sob a forma de charque, a chamada carne do Ceará.
O gado introduzido na região no século 18 e se tornou base da economia local: a boiada caminhada por centenas de quilômetros tangida por vaqueiros. Enfrentando as dificuldades do agreste, sob sol escaldante, esses valentes homens tinham a missão de conduzir as caravanas em viagens que duravam dias e até meses, com pousadas demoradas em alguns pontos, motivo do surgimento de algumas cidades e povoados do Estado.
Foi em busca do regate deste tempo, que nosso grupo partiu em direção a Gravatá, cidade localizada à 83km da capital pernambucana, para pecorrer uma trilha de 48Km que leva até o municipio de Sairé. A trilha era um veio de passagem da caravanas que se dirigiam a Gravatá para o transporte do gato, que era embacado em trem com destino ao Recife.
O que eu tô fazendo aqui?
Uma checagem no equipamento e partimos para a trilha. Chovia muito na hora da saída, a trilha estava muito escorregadia, mas resolvemos seguir em frente. Debaixo da chuva forte, o frio cortava nossos pensamentos e o silêncio tomava conta. Era quase que impossível não se perguntar: o que é que estamos fazendo aqui?
Após uma caminhada de 20km entre fazendas de gado, chegamos ao Distrito de Mandacaru, único ponto no caminho para abastecimento, e um merecido descanso para conhecer um pouco da vida cotidiana do local. Seu Antônio, morador do povoado desde criança, nos falou que o Distrito nasceu do ponto de pouso dos vaqueiros que pernoitavam por lá. Aos poucos, foram surgindo os primeiros sinais de comércio.
Pedimos algumas informações sobre o caminho para Sairé e partimos – a aquela altura o sol já se fazia presente com todo o seu brilho. A paisagem agora começava a mudar, algumas plantações de laranja, cajú e banana já se faziam presente, sinal que nosso objetivo estava próximo.
Passado de riqueza
Sairé é hoje a maior produtora de laranja do Estado. As construções são sem dúvida outro referencial de um passado de riqueza e prosperidade ao longo do caminho. São casas imponentes, algumas com sinais de abandono há algum tempo, vitímas certamente do êxodo rural. Com o aparecimento da “rodagens”, o transporte do gado passou a ser feito pelos caminhões e foi acabando o tempo saudoso da caravanas.
Hoje as únicas ligações com esse passado são os “causos”, contados em rodas de amigos, que relebram os atos de bravura desses homens que fisseram nossa história local.
O caminho ainda oferece uma opção, que é pegar uma variante em direção ao povoado de Uruçu-Mirim, lá a natureza presenteia os caminhantes com um relaxante banho de cachoeira. Para essa trilha, é necessário que o caminhante tenha: roupas leves, bota confortável, mochila, cantil, boné, protetor solar, lanche. As fazendas não estão abertas a visitação, mais com um pouco de sorte, é possivel negociar uma visita.
Este texto foi escrito por: Robertson Ribeiro
Last modified: janeiro 31, 2000