Nuvem sobre o Cho Oyo a sexta maior montanha do mundo (foto: Helena Coelho)
A colunista Helena Coelho desvenda os mistérios da capital nepalesa, terra de espiritualidade e muita aventura!
Fascínio puro. Kathmandu, capital do Nepal, é como um megaportal para o Himalaia. Ponto de partida para trekkings inimagináveis. Ponto de partida para as mais altas escaladas do planeta. Um burburinho incessante, sons de vozes, de vendedores de bálsamo, de relíquias de templos, de facas antigas dos gurkas (tudo feito agora, mas não importa), de oferta de change money, de tapetes tibetanos, de rickshaws, de qualquer coisa que se queira fumar. O tempo todo buzinas e mais buzinas. E que cidade poluída! A névoa que a encobre nada mais é do que o monóxido de carbono expelido pelos tuc-tucs, uma espécie de lambreta com três rodas.
E, no entanto, centenas de milhares de turistas, ali se encontram nos restaurantes, nas lojas, nos mercados, no Ministério do Turismo – para a obtenção de permissão para os trekkings -, nas inúmeras agências de viagens que organizam o que você quiser – desde roteiros menos usuais que poucos conseguem ir, como a terra de Mustang, até os mais comuns como ir caminhar na região de Pokara.
Mas o mais legal de Kathmandu é, alguém já disse, que uma vez só é pouco para se conhecer, curtir, sair dali para algum ponto…na Cordilheira do Himalaia. É apenas uma cidade. Cidade obrigatória para todo montanhista, para todo apaixonado pela alta montanha. Na alta temporada, na primavera, você pode encontrar ali alpinistas renomados e outros nem tanto, se preparando para algumas das quatorze montanhas acima de 8 mil metros de altitude que há no planeta, todas localizadas no Himalaia. (saiba quais são no link abaixo)
Do artesão ao alpinista – O Thamel é um bairro que consegue estar na borda de um modo de vida bastante antigo, juntamente com lojas de conveniência, com seus cybercafés, discodance, supermercados e tudo que se constitui em facilidades da vida ocidental que traduzem um ritmo de vida tão intenso que não tem tempo para conversar com os vendedores de tapete. Eles parecem não ter outra coisa a fazer além de, sentados, tomando um chá com leite, mostrar a beleza das figuras tecidas, a trama de tantos fios… E discutir por um bom tempo qual seria o melhor pagamento para aquele trabalho.
Misturam-se aí os alpinistas que entram e saem de lojas de material de montanha, comprando um ou outro equipamento que se lhes escapou no meio de tantos itens a constar do planejamento da escalada, a ultimar as compras de alimentos frescos, mandar uma correspondência, jantar bem em um daqueles vários restaurantes pois vão passar, pelo menos, uns quarenta dias longe de tais delícias.
Andam despreocupados os jovens caminhantes, ou estão chegando de alguma trilha, ou, então, saindo… Trilhas que ligam as vilas, as cidadezinhas. E, como em tempos muito antigos, caminha-se de uma vila para outra, por trilhas bem feitas, com muro de arrimo em alguns pontos, pontes pênseis incríveis unindo margens em vales bastante fundos.
E dorme-se na casa de alguma família que transformou o lugar em hospedagem supersimples. Pessoas comuns, que seguem o ritmo de vida do campo sem a presença, ainda, de muitas facilidades da vida globalizada.
Pode ser também que os caminhantes tenham vindo de Chitwan, a selva nepalesa, onde podem ser vistos rinocerontes, elefantes, pássaros em quantidade e jovens rapazes nepaleses dançando músicas típicas com coreografias singelas. E dali os turistas seguirão para algum outro canto, provavelmente Índia ou Bali. E todos assumindo, pelo menos por esse tempo, a simplicidade do povo da região, sem complicações com roupas e aparência, a pairar na beleza dessa tranqüilidade.
O amanhecer ou entardecer na principal praça da cidade – a Durbar Square – é também inesquecível, há uma ligeira confusão sobre a época em que você está. Se em pleno terceiro milênio ou perdido em algum ponto da Idade Média. A arquitetura, as histórias que permeiam as pagodas, as pessoas vestidas como há tempos atrás, as tradições culturais, cores, o mercado com tudo exposto como em feiras.
Espiritualidade – A visita aos templos vários, numa diversidade religiosa, é outro ponto quase obrigatório, tão ligada é à vida dos nepaleses às religiões. Um sherpa, carregador ou cozinheiro em uma expedição, não sai de Kathmandu antes de passar num templo para receber as bênçãos do Lama, para benzer as bandeiras de oração, acender um incenso ou uma vela pedindo proteção. E os monges, que tranqüilidade!, recebem as pessoas, recitam os mantras. Parecem que não têm outra coisa a fazer, dispensam-lhe o tempo necessário.
Ah! Que bom! Não, não estou vendendo nenhum pacote turístico. Apesar de que o local vale a pena e os custos de vida lá cabem em qualquer orçamento, nem sei se você teria essas mesmas sensações. Só que, chegando nesta época, um lugar no mundo que me fica presente é Kathmandu, e fica tão impregnado que já me vejo no meio do burburinho com a nítida impressão de já estar nas montanhas, pois é por esse pequeno portal que o acesso à imponente Cordilheira do Himalaia se torna tão próximo.
As maiores montanhas do mundo estão na Cordilheira do Himalaia e as 14 que têm altitude superior a 8000 m de altitude são:
1) Everest – 8850 m – Nepal/Tibet
2) K2 – 8611 m – Paquistão
3) Kangchenjunga – 8586 m – Nepal/Sikkim
4) Lhotse – 8516 m – Nepal/Tibet
5) Makalu – 8463 m – Nepal/Tibet
6) Cho Oyu – 8201 m – Nepal/Tibet
7) Dhaulagiri – 8167 m – Nepal
8) Manaslu – 8163 m – Nepal
9) Nanga Parbat – 8125 m – Paquistão
10) Annapurna – 8091 m – Nepal
11) Gasherbrum I – 8068 m – Paquistão
12) Broad Peak – 8047 m – Paquistão
13) Shisha Pangma – 8046 m – Tibet
14) Gasherbrum II – 8035 m – Paquistão
Este texto foi escrito por: Helena Coelho
Last modified: maio 9, 2001