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O que é estar dentro de uma corrida de aventura

Redação Webventure/ Corrida de aventura

A equipe reunida em Campos (foto: Arquivo pessoal)
A equipe reunida em Campos (foto: Arquivo pessoal)

Temos acompanhado muitas corridas pelo lado de fora… Mas como será estar participando dela, vivendo as dificuldades, tomando as decisões? O atleta Marcos Martins topou o desafio de descrever ao Webventure as emoções de competir na etapa de Campos do Jordão do Circuito Brasileiro. Confira o que ele passou com a equipe Original Kayaks neste ‘Minha Aventura’ Especial.

A prova de Campos do Jordão começou para nós onde começam todas as provas, no briefing (realizado no último dia 02/08). Lá pudemos rever os amigos, ouvir as dicas da organização, pegar os mapas e sentir um pouco da adrenalina que acabaria por tomar conta de nós até a largada. Após a reunião, corri para casa para plotar os mapas, ou seja, marcar a posição dos PCs e escolher as trilhas que percorreríamos durante a etapa. Este trabalho é fundamental e pode fazer grande diferença no resultado da equipe.

Na noite seguinte, sexta-feira, véspera da prova, finalmente nossa equipe se reuniu, já em Campos. Ela leva o nome de Original Kayaks e é composta por mim, Marcos Martins, 33 anos, professor de inglês, navegador, capitão e “repórter” da equipe; Luciana Nascimento, 25 anos, professora de inglês; Pablo Comte, 44 anos, industrial; Denis de Oliveira, 28 anos, analista de processos.

Fazia em torno de zero grau na cidade e o céu claro nos deixava ver uma lua cheia maravilhosa. Fomos dormir por volta de uma da manhã, após termos organizado nossas mochilas e comida para o dia seguinte.
Esta prova seria interessante porque não contaríamos com equipe de apoio, e não sabíamos o percurso completo de antemão. Só receberíamos os dados para a plotagem da parte final da prova durante a mesma, algo que aumentava um pouco nossa ansiedade.

Susto na pedreira – Na manhã seguinte o tempo passou super rápido e, de repente estávamos pedalando pela cidade, ultrapassando algumas equipes e sendo ultrapassados por outras. Logo chegamos ao Posto de Controle (PC) 1, onde deixamos nossas bikes e prosseguimos a pé por 800 metros até o PC 2, onde iniciamos uma “escalaminhada” por uma pedreira.

Naquele trecho tivemos a infelicidade de presenciar um acidente que poderia ter sido trágico. Um dos competidores foi atingido por uma pedra que rolou da pedreira ao ser pisada por um dos atletas que estava escalando. Felizmente, ele não fraturou nada, apesar de a pedra tê-lo atingido nas costas. A organização imediatamente cancelou esta etapa, mas, como já estávamos no meio da pedra, continuamos mesmo assim.

Após a pedreira, fomos até um PC virtual de onde prosseguiríamos de volta ao local onde estavam as bikes. Perdemos um pouco de tempo, pois a trilha que pegamos era muito fechada e tínhamos medo que ela terminasse no meio do caminho, o que representaria uma grande roubada para nós. Após alguns minutos checando o mapa, bússola e outras possíveis trilhas, acabamos pegando a trilha fechada mesmo, que provou ser a correta. Desta forma, deixamos para trás muitas equipes que demoraram um pouco mais para localizar a trilha certa.

Deslize – Acabamos por desperdiçar esta pequena vantagem logo depois, no caminho para o PC 5. Por pura afobação, não conseguimos localizar a trilha que levava ao PC. Engraçado como um trecho de navegação simples pode se transformar em um pesadelo ao menor descuido. Depois de sermos alcançados pelas equipes que havíamos ultrapassado, encontramos a trilha certa e tentamos recuperar o tempo perdido.

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Após o PC 5, seguimos uma trilha no topo da montanha, por uma distância de aproximadamente 10 km, até o PC 6. A orientação era relativamente simples, pois podíamos ver muitos morros e utilizá-los para nos certificar da direção a seguir. Ainda assim, vimos algumas equipes seguindo na direção errada, e aproveitamos a oportunidade para desaparecer na trilha certa e tratar de abrir uma vantagem sobre quem vinha atrás.

O cenário era absolutamente espetacular, pedalávamos por uma crista da montanha, paralelo a um rio no fundo de um vale. De vez em quando a vegetação se abria um pouco e nos permitia visuais incríveis. A trilha se transformou rapidamente em um “single track”, onde só passa uma bike de cada vez. Descíamos a montanha o mais rápido que podíamos, ao mesmo tempo em que tomávamos cuidado para não sofrer nenhum acidente desnecessário, passando por várias árvores caídas na trilha, e atravessando muitos rios.

Pesadelo – A triste verdade é que a descida logo chegou ao fim e tivemos de empurrar a bike montanha acima pelos 3 km restantes, para chegar ao PC 6. Em uma subida mais leve, onde podíamos pedalar, a corrente da bike da Luciana arrebentou, nos obrigando a gastar aproximadamente meia hora para repará-la. Mais uma vez perdemos a vantagem conquistada com muito esforço nas horas anteriores e várias equipes nos ultrapassaram.

Após consertarmos a corrente, continuamos pela crista da Serra da Mantiqueira para logo em seguida descer por outra crista, que nos levou em direção ao Norte em busca de uma trilha que desse acesso ao PC 7. Depois de alguma dificuldade para encontrá-la, rapidamente chegamos ao posto 7 e fomos em disparada para o PC 8, onde terminou o trecho de mountain bike e se fez a transição para a próxima modalidade.

Do PC 8 em diante, continuaríamos com dois integrantes a pé, enquanto outro iria usar uma bike e o quarto teria um cavalo para locomoção.
Luciana foi a primeira a montar e também a primeira a se dar mal. O cavalo simplesmente se recusou a obedecer aos seus comandos e acabou caindo em um mata burro a apenas 100 metros do PC. Felizmente, o animal e Luciana saíram ilesos, mas trocamos de cavalo por via das dúvidas.

Para rir ou chorar? – O próximo a montar foi o Pablo, que conseguiu ser atingido por uma cabeçada dada pelo cavalo!! Este cavalo era tão louco que simplesmente se recusou a sair do asfalto e pisar na terra!! Lá fomos nós trocar de cavalo de novo, perdendo cada vez mais tempo. Finalmente pegamos um cavalo menos rebelde, mas que acabou sendo rebocado por um de nós o caminho inteiro, já que não estava mesmo a fim de ser montado.

O resultado é que acabamos andando mais lento do que iríamos se estivéssemos a pé, pois o cavalo nos atrasava. Todos começaram a reclamar, pois o trecho de mountain bike havia sido fantástico e era uma pena ter de prosseguir tão lentamente. Realmente, a maioria dos atletas não gosta de trechos que envolvam cavalos. Talvez porque os animais não tenham escolhido carregar um bando de alucinados noite a dentro, eles invariavelmente causam problemas a muitas equipes.

Neste trecho do bike/ride n’run, avalio que cometi um erro grave. Como capitão da equipe, deveria ter sido mais sensível e percebido o moral do grupo gradualmente baixando. É normal que os atletas tenham altos e baixos durante uma prova tão dura, mas deve-se trabalhar para manter o moral o mais alto possível sempre, rebatendo qualquer sinal de mau humor ou desânimo o quanto antes.

Estávamos muito atrasados por causa de todos os problemas que tivemos, mas é exatamente nisso que reside a essência de uma corrida de aventura: na habilidade em superar problemas inesperados no menor tempo possível e sem se deixar abater Até mesmo a Luciana, normalmente superanimada, se deixou levar pelo desânimo que acabou por contagiar a todos.

Apesar de tudo, nos aproximávamos do PC 9, que era um PC virtual – neste ‘posto’ não há ninguém da organização e deve-se observar o local para responder a uma pergunta elaborada de antemão. Neste caso, deveríamos observar quantos pneus de trator estavam espalhados pelo local do PC e responder isto para a organização no PC 10.

Onde está o PC? – Nas outras provas em que eu havia participado, os PCs virtuais tinham apenas uma faixa indicando a sua localização. Desta vez, encontramos um pneu de trator na beira da estrada, mas nenhuma faixa confirmando que aquele era o local do PC. Além disto, havíamos encontrado uma competidora que nos dissera que o PC era numa casa, após um ‘single track’, e por isso continuamos a procurar pelo posto. Apesar de estarmos em uma competição, é comum equipes rivais se auxiliarem em alguns momentos de dificuldade. No caso, esta atleta estava muito à nossa frente e não lhe atrapalharia em nada nos dar alguma ajuda.

Acontece que esta dica acabou por afetar a nossa imparcialidade e capacidade de julgamento. Acabamos desprezando o verdadeiro e PC e procuramos em vão por um PC que nunca encontramos. Depois de algumas horas, desistimos de procurar e resolvemos voltar até o PC 8 para então decidir o que fazer.

Fim da linha – Do ponto de vista da competição, àquela altura não podíamos mais marcar nenhum ponto, mas poderíamos completar a prova apenas por prazer e também para treinarmos. Nosso moral baixou ainda mais e, ao chegar no PC, Pablo e Denis não estavam a fim de continuar. Eu e Luciana ainda pensamos em seguir, mas também desanimamos logo em seguida, desistindo também.

E assim terminou nossa participação nesta prova, que foi considerada por muitos como a mais dura do ano, pois, a partir do rapel, a navegação e o terreno se tornaram muito difíceis, exigindo o máximo de todos os atletas. Só nos resta refletir sobre nossos erros e nos preparar melhor para próxima prova. Até lá!

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Este texto foi escrito por: Marcos Martins*

Last modified: agosto 10, 2001

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Redação Webventure
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