Na prova considerada a mais dura de sua carreira premiada, o brasileiro bicampeão mundial dos 100 Km, Valmir Nunes (Memorial), garantiu na madrugada deste sábado (dia 29), na Grécia, a vitória na famosa “Spartathlon”, disputa feita em terreno montanhoso com nada menos que 246 Km de percurso, ou seja quase seis maratonas. Vencedor em mais de 20 ultramaratonas (corridas com geralmente 100 Km de trajeto), o corredor santista completou o desafio em 23 horas e 18 minutos, superando muitos obstáculos, principalmente as montanhas, o calor e depois o frio.
“Foi a prova mais difícil que já disputei. Quem termina já é um campeão. Estou muito feliz porque este era um sonho. Senti muita dor, daí entra a parte mental. Correr 246 Km é muito duro, ainda mais que estava sozinho, sem apoio, ao contrário dos meus adversários que tinham grandes equipes”, afirmou, por telefone, Valmir (foto), que está com 37 anos de idade e é dono da 3ª melhor marca do Mundo nos 100 Km: 6h18m03s.
“Na chegada só pensei numa coisa, na Kelly, minha mulher. Foi ela quem me deu a maior força para eu vir para cá. Insistiu mesmo. Durante o percurso, senti muita dor, mas superei tudo, pensando na Kelly. Devo meu sucesso a ela e também ao Pepe Altstut (patrocinador do atleta há oito anos), que sempre esteve ao meu lado, me apoiando, mesmo quando estive parado, devido a uma séria contusão”, disse Valmir.
Segundo ele, superar a temperatura e as montanhas foram os principais problemas.
“Largamos com quase 40 graus de calor. À noite, o frio chegou a 5 graus. Foi uma prova muito dura, passamos por todo o tipo de piso e o tempo todo subindo e descendo montanhas”, destacou o campeão, considerando a parte mais desgastante da disputa a Montanha de Parthenio (depois de 164 Km de prova), apelidada pelos organizadores de “traiçoeira” pelas rochas no caminho.
“Demorei uma hora e 10 minutos para subir só 2 Km e descer outros 2. Mas valeu o esforço. Corri tranquilo e venci sossegado, com mais de uma hora de vantagem sobre os outros. A prova é muito importante e tinha emissoras de TV de todo o Mundo. Infelizmente só faltou do Brasil”, enfatizou Valmir, que consumiu mais de 60 latinhas de refrigerante para repor a glicose.
Para participar da prova, é necessário uma aprovação prévia, baseada no currículo dos “candidatos” à loucura. Esta foi a primeira vez que um brasileiro disputou a Spartathlon.
“Agora pretendo descansar este ano e ver qual novo desafio vou fazer. Ainda pretendo correr por muito tempo. Este ano só não tentei o tricampeonato mundial, porque estava concentrado nesta disputa”, afirmou o corredor, que foi campeão do Mundo, em 1991, na Itália, e 95, na Holanda, e para esta prova na Grécia chegou a treinar de 40 a 70 Km diários pelas praias, porto, morros e estradas do litoral.
Vale lembrar que dentre as mais de 20 conquistas em ultramaratonas, destacam-se o bicampeonato na Prova Pico Subida de Veleta, na Espanha, com 50 Km só de subida íngreme, saindo de 656 metros de altitude e chegando a 3.470 metros acima do nível do mar. A temperatura também tem mudanças drásticas. Os corredores largam num calor de 36 graus e terminam a 10 negativos.
Outro feito memorável foi o Desafio 450 Km pela Rodovia Rio Santos, numa disputa particular com o russo tricampeão mundial, Konstantin Santalov, um de seus melhores amigos. Os dois correram 50 Km por dia, em ritmo de competição. Neste mesmo estilo, correu novamente pela Rio-Santos, desta vez 500 KM, com o corredor brasileiro Adilson Dama (Memorial), revelação do Mundial de 1999, na França.
Este texto foi escrito por: Fabio Maradei
Last modified: fevereiro 22, 2017