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De volta ao passado

Redação Webventure/ Offroad

O líder da organização do Rally Paris-Dakar, Hubert Auriol, esteve no Brasil recentemente divulgando as novidades para a próxima edição da prova, que terá a largada no dia 28 de dezembro, em Arras, a 250 quilômetros ao norte de Paris. Essa já é a primeira novidade. Aliás, novidades não faltam nesta aventura. Alguns críticos desavisados, ou literalmente sem rumo, erram quando comentam que o Dakar se repete ano a ano. Se um jogo de futebol é uma caixinha de surpresas, a competição no deserto africano é um filme de ficção, onde as novidades começam a aparecer antes mesmo do apito inicial.

Numa próxima oportunidade vamos entrar nos detalhes técnicos do novo regulamento, que nos obrigou, por exemplo, a reconstruir nosso caminhão, um Tatra fabricado na República Tcheca. Vamos dar a largada falando das constantes mudanças. O percurso da edição 2002 do Dakar, com aproximadamente 10 mil quilômetros divididos em 16 etapas diárias, é desconhecido, muda a cada ano, nunca foi repetido e é secreto. Nós, pilotos, só recebemos a planilha (espécie de mapa) na véspera da largada. Não há tempo para testes, treinamentos ou reconhecimentos e é proibido montar bases avançadas de apoio.

Competidores, equipes e equipamentos estão sempre evoluindo, um copiando ou tentando superar o outro. Ou seja, as únicas certezas são as mudanças. Os sucessos do passado não garantem as vitórias do futuro. Nós precisamos estar em constante evolução, nos preparando previamente, continuamente e progressivamente.

Para o próximo Paris-Dakar, além das dificuldades naturais do deserto, possíveis armadilhas e ameaças de ataques terroristas, os organizadores decidiram inovar seguindo um rumo diferente do futuro. Ou melhor, na direção do passado. Na edição 2002 teremos duas etapas chamadas “Transaarianas” e um trecho com o GPS bloqueado. O GPS é um pequeno aparelho que recebe informações de satélites, indicando a posição geográfica exata.

A etapa Transaariana terá 1.700 quilômetros para serem percorridos em dois dias. Os concorrentes darão a largada para o primeiro dia, onde devem andar de 500 até 600 quilômetros. Chegando no ponto marcado para o acampamento eles deverão fazer uma parada obrigatória de seis horas para repouso e manutenção. Passado este período, os pilotos deverão largar novamente, à noite, para um trecho de ligação (não cronometrado de 300 quilômetros). Ao final do trecho, uma nova neutralização obrigatória de uma hora antes de se lançarem novamente ao ataque de outra especial de 500 a 600 quilômetros.

À primeira vista pode parecer moleza, mas refletindo um pouco mais, é importante ponderar que em todo o trajeto não há qualquer ponto de apoio, como postos de gasolina, borracheiros, oficinas, estradas ou placas indicando caminhos.

Depois também coloque na balança que foi extinto de vez o avião que levava mecânicos aos pontos onde são montados os acampamentos no meio do deserto. Então, qualquer profissional estará participando efetivamente da prova, enfrentando a trilha, num carro ou caminhão de apoio. Para aumentar de vez nossa preocupação, estes veículos naturalmente são mais lentos, e quanto mais rápido andamos, menor a chance de contarmos com a ajuda deste time que provavelmente irá chegar bem tarde em algum lugar no meio do Saara.

A etapa de GPS bloqueado será outro teste para os competidores. Após ter instituído a utilização de um GPS único e com os mesmos dados para todos os concorrentes, seguindo a tradição de que cada edição deve ser mais difícil que a do ano anterior, a organização da prova inovou novamente. Teremos uma etapa de navegação pura, onde não poderemos utilizar nossa principal e mais precisa ferramenta de navegação. O GPS será bloqueado, permitido usar apenas a bússola do equipamento. Por questão de segurança, cada concorrente receberá um código para desbloquear o pequeno aparelho caso se perca no meio do deserto, mas esse artifício resultará numa penalização. Ufa! Pelo menos isso.

Resumindo, o Paris-Dakar 2002 será uma volta ao passado, buscando o clássico, mas permitindo o uso de tecnologia sem que ela desvalorize o ser humano, o principal valor deste desafio.

Quer saber mais histórias interessantes de rali? Então nos ajude a escrever a próxima coluna. Faça perguntas, envie sugestões e tire suas dúvidas. Mande um e-mail: parisdakar@parisdakar.com.br.

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg (arquivo)

Last modified: outubro 18, 2001

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