Boa navegação é parte fundamental para se comemorar a vitória. Na foto Miltinho (esq) e o piloto Édio Füchter comemoram o título no Sertões 2001. (foto: Fábia Renata / Arquivo Webventure)
O navegador ou co-piloto é a pessoa responsável pela orientação com relação ao roteiro a ser seguido durante um rali, baseado num livro de bordo ou planilha fornecido pela organização do evento.
Além da responsabilidade de “não se perder”, deve estar atento a todas as informações de pontos críticos constantes no roteiro. Esses pontos críticos podem ser pontes, mata-burros, erosões, rios e quaisquer outros obstáculos que possam colocar em risco a dupla.
Em provas de velocidade, por não se conhecer previamente o roteiro, evitam-se as surpresas de percurso através das informações constantes na planilha e cabe ao navegador informar com a devida antecedência a presença desses obstáculos, além de ajudar na visualização dos mesmos.
Importância da planilha – Dessa forma, fica latente a importância de se correr baseado numa planilha bem elaborada, com riqueza de detalhes e com uma medição confiável. Quaisquer erros de planilha podem resultar em acidentes. Por isso existe a preocupação para que a organização das provas faça planilhas com muita atenção e critério, dando a segurança aos competidores. Nesse ponto, os atuais organizadores de rali no Brasil vêm evoluindo a cada prova e hoje em dia é muito difícil encontrarmos erros graves nas suas planilhas.
Um erro de roteiro levará a “equipe” a perder muito tempo para retornar à prova, podendo tirar-lhe muitas colocações no final de um rali. Já um erro de “atrasar” ou “não indicar” uma referência de perigo pode resultar num acidente. Dependendo da gravidade do obstáculo e da velocidade que se alcança este obstáculo, isso pode resultar em danificação do veículo, ou abandono da prova, ou mesmo num risco sério de se machucar.
Ao navegador não é permitido o erro. Quaisquer dúvidas que o piloto tenha sobre a qualidade da navegação resultarão em muita cautela no seu ritmo de prova, tornando-o lento e impossibilitado-o de disputar as primeiras colocações. O fator psicológico é fundamental no desenrolar de um rali. Portanto, cabe ao navegador, acima de tudo, passar segurança ao piloto.
O navegador deve utilizar-se dos seguintes instrumentos:
Odômetro – As planilhas são percorridas com base em medições das posições das referências no trecho. Para poder acompanhar essas medições é necessário o uso de um odômetro digital aferível, que também possibilitará que se façam pequenas correções nessa medição devido a patinagens ou pequenos erros nas quilometragens.
Além disso pode ser necessário o emprego do GPS. Em algumas situações, o GPS deve ser usado de forma integral, com navegação efetuada somente por este instrumento. Na maioria das vezes, é uma ferramenta auxiliar, com a indicação de diversos pontos constantes da planilha, servindo para verificação da correta navegação.
Para qualquer dúvida que o navegador possua sobre o roteiro, se está “perdido”, por exemplo, o GPS pode ser útil para lhe dar a certeza de que o caminho está certo ou errado.
Rádio – Um equipamento obrigatório em todo carro é o rádio, que servirá para comunicação entre competidores nas negociações de ultrapassagens e para quaisquer emergências. Uma regra clara no rali cross-country é que “um carro alcançado é um carro ultrapassado”. Quando se é alcançado é obrigatório que se dê passagem e essa negociação é feita via rádio.
Cronômetro – Por fim, um bom cronômetro servirá para confirmar se a cronometragem oficial da prova está correta e para se obter diferenças de tempos entre competidores. É comum ocorrerem locais no roteiro onde se pode avistar o competidor à frente. Quando isso ocorre, mede-se a diferença de tempo para avaliação da sua performance na prova até o momento com relação a este competidor.
Mantendo o foco
A maior dificuldade do navegador é manter seu poder de concentração e ter toda a situação sob seu controle. Apesar de exigir pouco fisicamente, o rali causa um desgaste mental muito grande e é realmente muito difícil ficar focado na prova o tempo todo.
Num carro de rali as coisas só funcionam perfeitamente se houver completa harmonia entre piloto e navegador. Mais uma vez destaco o fato de que o piloto só acelerará pra valer se estiver seguro e confiante nas informações passadas pelo navegador.
Fora do carro, piloto e navegador devem estar atentos a tudo relacionado à prova: briefings, manutenção do veículo, equipamentos individuais, refeições, estadas, entre muitas outras coisas.
Por isso, é fundamental que a relação pessoal entre eles seja excelente. Particularmente, com o Édio, apesar de já conhecê-lo antes de competirmos juntos, nossa amizade cresceu muito com os ralis.
Como começar – Uma pessoa que deseja navegar precisa ter muito auto-controle, conhecer bem seus equipamentos de navegação e buscar experiência. É no decorrer das provas que se vai pegando a segurança necessária para enfrentar as situações que aparecem no rali.
A grande escola para navegadores é a prova de regularidade. Um bom navegador de regularidade pode encarar um Rally dos Sertões sem medo de se complicar. As provas regularidade exigem muita atenção na navegação e nos detalhes é que se determinam os vencedores. Um navegador nunca está completo, sempre tem algo a aprender.
Este texto foi escrito por: Milton Pereira, especial para o Webventure
Last modified: janeiro 3, 2002