Uma vez por ano minha antiga turma de colégio (antiga mesmo!) se reúne para recordar e rir dos velhos tempos (velhos mesmo!), além de contar os novos planos e projetos. Tente imaginar um grupo com mais de 60 quarentões e trintonas (as garotas de nossa turma jamais envelhecem!) aglomerados em um restaurante, esquecidos temporariamente de sua real idade e transportados em mente e espírito aos tempos de primário, ginásio e científico (não disse?!…).
E, para dar mais força a esta viagem no tempo, quase todos vão sem a presença controladora (no bom sentido, Odette!) do companheiro (há uma regra implícita que alguns teimam em infringir, ficando depois com ar de arrependidos…). Os que são mais observadores percebem o olhar recriminador dos freqüentadores do local diante de tamanha algazarra e adolescentes!
Além disso, graças a uma lista de discussão via Internet, os contatos ficaram mais freqüentes e isto acabou motivando alguns encontros extra-oficiais em que aparecem para uma descontraída happy hour apenas uma meia-dúzia de sete ou oito amigos.
No mais recente desses encontros vários assuntos foram postos na pauta do dia. Trocamos idéias sobre países visitados, empregos, pós-graduações e sabores de pizza. Tudo estava correndo muito bem quando o assunto descambou para política. Me arrepiei!. É agora que esta mesa pacata vai virar, pensei.
Mas, para meu espanto, a conversa entre os presentes continuou bastante tranqüila e amigável (leia-se: todos nós tínhamos a mesma opinião política…). Afinal, nós havíamos estudado em um dos melhores colégios da cidade e nada mais natural que todos possuíssem um elevado nível cultural e fossem bem informados sobre o que está acontecendo no mundo.
Assunto seguinte: aventura. Muito estranha aquela história dos alpinistas encontrarem os brasileiros mortos no Aconcágua…. “Por quê?”, indaguei. Mais adiante, em outra colocação, fiz menção ao vôo do Gerard Moss, acompanhado (acreditava eu!) por cinqüenta milhões de brasileiros durante quatorze domingos no Fantástico. Quem?!, perguntaram eles. Lembrei-me de outro comentário, numa outra mesa redonda, informal como esta: Paulo e Helena Coelho? Ué…O escritor se casou?….
A minha presença no Saara havia sido acompanhada apenas por quem estava em casa em uma certa quinta-feira, no horário do almoço, assistindo ao Globo Esporte. E mesmo assim, creio eu, prestaram atenção apenas porque eram meus amigos.
Os programas de televisão exibidos em outras emissoras, além de jornais e revistas, não foram suficientemente fortes para atrair a atenção de outros amigos e conhecidos. E o que eu digo das dezenas de artigos que escrevi sobre meus desafios no Saara, no Grand Canyon, no Mojave, na Ilha Grande?
Se todos que nos rodeiam acompanham, em graus de intensidade diferentes, os acontecimentos do mundo, por que com o nosso mundo da aventura e do desafio isso é diferente? Será um mundo fechado em si mesmo, só interessando aos que estão diretamente ligados a ele?
Antes de tentarmos solucionar como poderemos mudar este estado de coisas, devemos nos perguntar se realmente queremos tornar nossas aventuras e nossos desafios atividades como outras quaisquer, tão importantes quanto trabalhar em um escritório ou dirigir um ônibus, necessárias para o mundo continuar mundo.
Mandem e-mails (sposito@webventure.com.br), aguardo a opinião de vocês!
Este texto foi escrito por: Carlos Sposito
Last modified: maio 10, 2002