Eu me iniciei nos esportes no tempo em que a atividade de musculação tinha somente um objetivo, dividido em duas vertentes: o fisiculturismo e a hipertrofia. Estes dois caminhos significavam, em última análise, a mesma coisa: desenvolver a seção transversal dos músculos através de uma supercompensação fisiológica induzida pela atividade de força.
O que diferenciava as duas opções era quem fazia a atividade. Os mais dedicados ao esporte, em questões de horas de treinamento, variedade e minúcias de exercícios, sobrecarga utilizada e alimentação adotada, eram os Fisiculturistas. Na outra ponta estavam os que, quando muito, malhavam três vezes por semana (quando não chovia!), mas se sentiam otimamente bem sendo admirados pela sua definição muscular e seu abdômen de tanque de lavar roupa.
Ainda desta época, em alguns setores mais conservadores da sociedade, perduram até hoje pensamentos em que jovens com menos de 16 anos não deveriam, em hipótese alguma, praticar exercícios contra-resistência. Inclui-se aí, do outro lado do eixo x do tempo, os idosos. O conservadorismo proíbe terminantemente que eles façam qualquer exercício de força.
Análise – Vamos analisar um pouquinho estas duas situações. No caso das crianças vemos o apoio total dos pais, avós e médicos (não necessariamente nesta ordem) para que todas façam esportes, incentivando a prática não só da natação, dito esporte ideal para crianças, como do futebol, basquete, judô, karatê e jiu jitsu, entre outros.
Será que é tão difícil perceber que o esforço anaeróbio e a intensidade de carga em uma luta de judô ou jiu jitsu pode, e é, muito mais forte e totalmente sem controle, do que exercícios planejados e permanentemente vistoriados de uma sessão de musculação para crianças? E os traumas causados por contatos diretos no futebol? E os constantes saltos amortecidos por articulações do tornozelo e joelho, ainda em desenvolvimento, nos treinos de basquete?
No caso dos idosos, sabe-se que a melhor maneira de reagir contra a osteoporose é obrigar o organismo a produzir mais cálcio, fortalecendo as regiões ósseas que estejam mais deficientes, o que acontece naturalmente quando o osso recebe uma pressão longitudinal, obrigando-o a reagir. E qual o melhor meio de fazer isto, senão com o auxílio de um músculo fortalecido, inserido nas extremidades ósseas, tracionando-o das pontas para o centro?
Ainda sobre os idosos, aqueles que os condenam à inatividade já pararam para pensar que carregar sacolas de compras desde o supermercado até sua casa, levantar netos no colo, subir escadas, são atividades que continuam sendo exercidas, queiram ou não os médicos conservadores? E que seria excelente se neste dia-a-dia estas atividades corriqueiras não demandassem um excesso de energia exagerado, nem levassem a riscos de fraturas, caso seus organismos estivessem adaptados?
Na continuação deste artigo, falarei sobre a musculação adaptada aos esportes, acabando com a mesmice da hipertrofia, dando lugar à força de resistência, força máxima, força explosiva, entre outras valências de força. Quem viver, verá…
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Este texto foi escrito por: Carlos Sposito
Last modified: julho 31, 2002