Serão 15 dias no deserto africano. (foto: Arquivo Webventure)
Mais uma vez desembarco na África, a segunda vez na Tunísia. Já cheguei algumas vezes de avião, que me dá menos medo e enjôo do que de navio, como o regulamento exigiu nesta edição do Rally Paris-Dakar.
O navio chega lento. Já começo a sentir saudades de coisas que não damos o devido valor no nosso dia-a-dia. Durante as próximas duas semanas não vou mais ter o prazer de sentar à mesa para saborear uma refeição. Banho, especialmente quente, passará a ser artigo raro e de luxo.
“Aqui começam as coisas sérias”, como costuma dizer o patrão do rali,
Hubert Auriol. Temos a última oportunidade de admirar a paisagem, a nova arquitetura. Em terra firme sentimos um novo cheiro. O continente africano tem aroma especial. Antes que alguém tenha um pensamento errado ou pense mal de nós, lembro que estamos entrando pelo norte da África, onde predomina a cultura árabe. Ou seja, não é o perfume feminino que faz a diferença, já que elas estão escondidas nesta atmosfera.
Aqui o ar é diferente porque chegamos respirando rali. É melhor que as distrações e as brincadeiras fiquem para daqui a 15 dias, depois da chegada. Mas isso não impede que tudo seja muito divertido. Nada de ficar curtindo a paisagem. É melhor ter muita atenção nos metros que estão pela frente e o jogo é passar rápido onde se deveria andar devagar. A adrenalina é forte.
Quando aceleramos sofremos uma metamorfose. O que pode parecer imaginação se torna realidade. Por exemplo, aqui existe música. Sim, é o ronco do motor, que para muitos parece um barulho, mas para nós é uma sinfonia. Na verdade, somos maestros e qualquer tom fora do normal deve ser detectado. Pode ser o sinal de uma má apresentação.
Temos que reger esta orquestra e deixá-la afinada. Ou seria melhor dizer na nossa linguagem de piloto, afiada? Afinal, quem quer vencer vem com a faca entre os dentes.
Este texto foi escrito por: Klever Kolberg (arquivo)
Last modified: janeiro 3, 2003