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Situações extremas nos mostram o que vale a pena

Redação Webventure/ Montanhismo

Por quatro anos  a Patagônia tem sido um dos lares da alpinista. (foto: Arquivo pessoal)
Por quatro anos a Patagônia tem sido um dos lares da alpinista. (foto: Arquivo pessoal)

Considerada uma das principais alpinistas brasileiras, Roberta Nunes é a nova colunista Webventure e divide com você as impressões sobre esta atividade fascinante chamada escalada.

Comecei a escalar há dez anos, quando fui passear com amigos em uma montanha, Anhangava, perto de minha casa, em Curitiba. Foi algo tão impressionante e forte que, aos meus 20 anos, virou minha vida completamente. Foi uma mudança brusca e rápida e em poucos meses já me sentia conectada com todo o meio. Foi como encontrar um caminho onde me sentisse “de verdade”.

A partir daí me entreguei por completo e com a ajuda e a paciência dos amigos fui aprendendo e evoluindo. O que mais me encantava era a possibilidade do auto-conhecimento, algo de que geralmente esquecemos em uma vida tradicional na cidade. Acreditei e não parei mais. Por sorte, fui levada direto às montanhas, o que me fez conhecer não somente um esporte como também uma filosofia que podemos aplicar no dia-dia de nossas vidas.

No quarto ano desta trajetória começou meu envolvimento com a Patagônia e foi como uma grande paixão. Desde então são quase seis temporadas em que passo quatro meses na função de escalar suas imponentes agulhas.

Lições – É algo inexplicável… E toda vez que volto é como nascer de novo! Porque lá é tudo tão intenso que somente se tem tempo para o presente. Lá aprendi a deixar de lado o maldito ego, que muitas vezes nos foge do controle e nos faz lastimar; lá aprendi a importância de um companheiro, a humildade perante as montanhas e a estar mais livre dos bloqueios e medos que nos são impostos desde crianças.

Recentemente voltei de mais uma incrível experiência, desta vez na Cordilheira dos Andes. Estive por 20 dias no Aconcágua (6.962m), o teto das Américas. Foi minha primeira alta montanha. Nunca havia passado dos quatro mil metros e me pareceu bárbaro todo o esforço e trabalho mental com a altitude, como a gente se sente…

Equilíbrio – Estive um tempo em Vallecitos, onde pude fazer uma boa aclimatação, e logo fui para Aconcágua. Cheguei lá toda entusiasmada para tentar uma via mais técnica, mas a sapiência me colocou em equilíbrio. Por ser minha primeira vez naquelas condições que não são nada fáceis, elegi a rota normal.

Tirei da cabeça qualquer obsessão pelo cume, encarei como um teste comigo mesma. Pouco a pouco. Por sorte, tenho uma boa aclimatação. Em sete dias estava no topo, olhando a parede sul com sua beleza estrondosa e com a gratificação de me conhecer um pouco mais. Já penso em voltar… e também em conhecer outras grandes montanhas do mundo para continuar evoluindo como ser humano. Porque nada melhor que as situações extremas para nos fazerem repensar e analisar o que realmente vale a pena.

Este texto foi escrito por: Roberta Nunes

Last modified: janeiro 29, 2003

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