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Entrevista com o brasileiro que foi um dos capitães do evento

Redação Webventure/ Aventura brasil

Formação completa. (foto: Norman Kent / Azul do Vento)
Formação completa. (foto: Norman Kent / Azul do Vento)

O dia 12 de dezembro de 2002 ficou marcado na história do pára-quedismo mundial. Nesta data, no Arizona (EUA), foi estabelecido o novo recorde mundial de formação em queda livre (FQL), quando 300 pára-quedistas permaneceram em uma forma geométrica por 7,02 segundos.

Depois de várias tentativas, esta foi a primeira vez que 300 atletas conseguiram permanecer em forma por mais de 3 segundos, tempo mínimo para que os recordes na modalidade sejam homologados. A marca anterior aconteceu em 1999, na Tailândia, com 286 participantes.

Pára-quedistas de 30 países participaram do novo recorde, entre eles cinco brasileiros: Ricardo Pettená, Breno Assis e Márcia Farkou, da equipe Azul do Vento (Campinas SP), como pára-quedistas, além de Humberto Prado (fotógrafo-pára-quedista) e Carmem Pettená (integrante da organização).

Capitão – Ricardo Pettená foi o único latino-americano escolhido como um dos capitães, pára-quedista responsável por um setor da figura geométrica. Ele também participou do recorde na Tailândia, ao lado de mais 11 brasileiros.

Neste Aventura Brasil, Pettená fala mais sobre o novo recorde, sobre a preparação e comenta o atual estágio deste esporte no Brasil, acompanhe!

Aventura Brasil – Como foi formada a equipe que participou do recorde?
Pettená
– Na verdade, esse recorde era para acontecer no Brasil e nós convidamos a melhor equipe de competição do mundo, a Arizona Air Speed. A partir daí, é que nós começamos a traçar uma estratégia para juntar os 330 melhores pára-quedistas do mundo (300 saltaram e 30 eram possíveis substitutos).

Aventura Brasil – Quais foram os critérios para escolher os participantes?
Pettená
– A Air Speed escolheu a dedo. O critério era que os pára-quedistas fossem competidores de alto nível ou que eles tivessem participados de outros eventos do tipo, como o Challenge, organizado anualmente pelo Arizona Air Speed.

Esse evento é muito difícil e quem tem nível técnico para participar dele tem condições de estar no 300-way (como também é chamado o recorde).

Aventura Brasil – Qual foi o critério usado para que você fosse um dos capitães de setor?
Pettená
– Eu fazia parte da organização inicial, enquanto o evento aconteceria no Brasil, e eu já havia sido capitão no recorde anterior, na Tailândia.

Aventura Brasil – Qual a logística de um salto com tamanhas proporções?
Pettená
– A parte logística está dividida na logística comum, ou seja, juntar mais de 300 pessoas, transportá-las, hospedá-las, alimentá-las, etc. A logística especial para este evento era transportar todos até 20 mil pés de altitude.

Essa era a parte mais difícil, pois envolvia muitas aeronaves, número não disponível em nenhuma parte do mundo sem que haja um trabalho especial. Devido à grande altitude, é necessário oxigênio e toda a infra-estrutura de chão para que seja possível a comunicação com 300 pessoas que falam 20 línguas diferentes.

Aventura Brasil – Como foi sua preparação para o salto?
Pettená
– Comecei a me preparar seis meses antes. A preparação foi feita com meus dois preparadores, que me deram um acompanhamento tanto na parte física, como na alimentação. Estava consciente das exigências que vários saltos deste tipo impõem (o recorde foi conseguido depois de algumas tentativas). Fiz várias visitas ao meu médico para preparar meu corpo para agüentar o “baque”.

Na parte do pára-quedismo, voltei a saltar com meu time de competição, o Action, e fazíamos treinamentos mensais até o Campeonato Brasileiro, que nós acabamos ganhando. Participei do “Diamante”, que foi o recorde brasileiro (49 pessoas), praticamente um mês antes do 300-way. Fui para o Arizona com 10 dias de antecedência para poder me aclimatar.

Aventura Brasil – Como os pára-quedistas se preparam para enfrentar uma altitude de 20 mil pés?
Pettená
– O ideal, que os brasileiros fizeram, é fazer o teste da câmara hipobárica, para saber quais são os primeiros sintomas de hipóxia. Fora isso, você tem que estar preparado para respirar oxigênio em todos os saltos acima de 12 mil pés e estar preparado para o frio, que pode chegar a 35 graus negativos nesta altitude.

É preciso também fazer uma desnitrogenação no sangue. Nesse processo, é necessário respirar oxigênio puro de 15 a 30 minutos antes de se sair do chão. Isso elimina todo o nitrogênio do sangue. Se a desnitrogenação não for feita, o nitrogênio forma bolhas que vão aumentando à medida que você vai subindo e a pressão diminuindo.

Essas bolhas ficam dentro do organismo e não diminuem quando se volta ao chão, podendo ser levadas ao cérebro pela circulação ou ficar nas articulações causando sérias conseqüências.

Aventura Brasil – Como você se sentiu depois que tudo deu certo?
Pettená
– A comemoração começou no momento em que chegamos no chão e que os 300 pára-quedistas se reuniram. Nós sabíamos que o recorde havia sido batido, mas não tínhamos certeza. Todo o grupo foi para o hangar e lá aguardamos a decisão final dos árbitros que estavam julgando o salto. Quando o recorde foi anunciado, tudo virou uma baita festa, com todo mundo dançando e festejando.

A festa dos brasileiros foi especial, pois tínhamos uma bandeira brasileira lá e, acima de qualquer coisa, levá-la a esses eventos é emocionante.

Aventura Brasil – Como você analisa o momento atual do pára-quedismo no Brasil?
Pettená
– Hoje, o pára-quedismo passa por uma fase que ainda é resultado do que vinha acontecendo desde o começo dos anos 90. Com o interesse pelos esportes de aventura, o interesse pelo pára-quedismo foi crescendo e tivemos um aumento sensível no número de praticantes neste período.

O interesse continua grande, mas existem dois fatores negativos: o preço do dólar e o preço do combustível. Isso faz com que o custo para praticar o esporte aumente e não são todas as pessoas que conseguem agüentar. Quem pratica sempre dá um jeito de continuar praticando.

Aventura Brasil – E como está a parte de campeonatos no país?
Pettená
– Precisamos de mais. Desde que o Circuito Ford Ranger deixou de existir, tivemos uma queda de eventos de alto nível e, com isso, muita gente que pratica o esporte porque gosta de competição acaba perdendo a motivação. Precisamos de um novo circuito na parada.

Este texto foi escrito por: Samir Souza

Last modified: janeiro 31, 2003

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