O Thumbnail na Groenlândia. (foto: Arquivo pessoal)
Logo que retornei de minha subida ao Aconcágua (6.962m), tive um tempo mais tranqüilo, sem a obsessão do rápido ou extremo, com vontade de ficar em minha casinha, em volta de meus queridos, repôr minha energia. Pela primeira vez, me senti cansada de viajar… Acredito também que a perda de meu mestre e companheiro de escalada no México, José Pereyra, tenha me abalado profundamente. Então resolvi dar um tempo e pensar o que realmente quero das montanhas.
Essa reflexão e esse silêncio não duraram muito tempo. Foram rompidos justo com algo que desejei desde que comecei a escalar, 9 anos atrás: a oportunidade de participar de uma expedição feminina em algum lugar espetacular de nosso planeta.
Já escalei sérias paredes com outras mulheres e acho perfeita a conexão, pois fica equilibrada a divisão de tarefas, bem como as responsabilidades e resistências físicas. Nada contra aos meus queridos amigos e companheiros de escalada, mas este é um detalhe forte e importante para a maturidade completa de um escalador: compartir de igual para igual.
O convite – Faz vinte dias que recebi um convite para participar de uma expedição feminina espanhola na conquista de uma nova rota na Groenlândia. Cecília Buil, destacada escaladora espanhola, fera em big walls e com um currículo incrível, criou um fantástico projeto rumo ao cabo Farvel, ao sul da Groenlândia, com o objetivo de abrir uma nova linha na imensa parede de granito de Thumbnail, com apenas 1500m de altura.
Estou partindo dia 11 de junho para Barcelona para podermos escalar um pouco juntas antes do embarque para as frias terras. O plano é incrível. Em um mês exatamente estaremos embarcando para Narsarssuak (na Groenlândia). Logo outro avião menor vai nos levar ao último posto para abastecimentos, em Nanortalik. A partir daí a aventura toma outra cara, iremos em kayaks marinhos até a base da parede de Thumbnail, juntamente com uma pequena equipe de fotógrafos e cinegrafistas que registrará toda a nossa ascensão.
Este projeto está sendo patrocinado pelo Governo de Aragon, Mammut, Artiach, Bollé, Black Diamond, Jasmine Alimentos Integrais, Vibram, Kailash, Snake e Barrades.com (para onde estaremos enviando informações diariamente).
Semelhança com a Patagônia – A parede é maravilhosa, em um ótimo granito completamente retalhado em fissuras e fendas, o que faz lembrar muito a Patagônia, motivo pelo qual a Cecília me chamou para esta empreita. Já existe uma rota nesta parede, uma conquista inglesa de três anos atrás.
Falaram superbem da qualidade das fendas. Perfeito! Tentaremos a conquista n estilo mais bonito e ético, em alpina, ou seja, sem fixar cordas e fazer o ossível para não bater grampos, tudo na base da escalada tradicional. A temperatura deve oscilar entre 5 a 15 graus positivos, porque é verão. Pretendemos realizar a escalada em vinte dias.
Às vezes sinto que parece tudo ilusório, ter esta oportunidade… mas confesso que também estou morrendo de medo, afinal é um lugar inóspito com uma paisagem completamente mineral e icebergs imersos no frio oceano. Por outro lado, é a realização de um sonho onde o objetivo não é um cume ou a busca pela fama e sim o verdadeiro auto-conhecimento!
Este texto foi escrito por: Roberta Nunes
Last modified: junho 10, 2003