Transalp é o nome dado àqueles que se aventuram pelos Alpes, cadeia de montanhas da região do Tirol, na Europa. Insanos a pé e de bike cruzam trilhas de cascalho no meio da neve, a altitudes que passam de 2.500 metros. A tradição foi crescendo e virou uma prova, cuja edição 2003, a sexta, vai acontecer entre os dias 19 e 26 de jullho, com 25 países inscritos, entre eles o Brasil. Isso porque foram recebidos cinco mil pedidos de inscrição, vindos do mundo inteiro, para apenas 400 vagas.
O Transalp é descrito como a maior e mais difícil prova de moutain bike do mundo. Ao todo são 600 km, percorridos em oito dias de pedaladas, cruzando três países (Alemanha, Áustria e Itália), com uma média de 1.900 metros de altitude, e trechos de subida que somados chegam a mais de 18 quilômetros. Por motivos de segurança, foi implantada a norma que obriga os competidores a correrem em duplas.
Representantes – Pela primeira vez, o Brasil será representado no Transalp. O português Mário Roma e a inglesa Lucy Meyers serão a dupla que levará a bandeira brasileira para a Europa. Os dois fazem parte da Equipe Imigrantes, formada por gringos que vieram morar no Brasil a trabalho e dividem a rotina entre o serviço e a paixão pela bike.
O Transalp é cultuado mundo afora por exigir muito mais espírito aventureiro do que profissionalismo. A prova disso foi a colocação do pai da mountain bike, Gerry Fisher, na edição passada: um suado 34° lugar. Seu parceiro, Bryson Martin passou mal logo na primeira perna da prova e vomitou durante a etapa inteira. Mesmo assim, os dois continuaram just for fun e chegaram até a Itália.
Segundo as palavras de Bryson, em entrevista para a revista Mountain Biking, foi a melhor prova-de-bike/experiência-de-vida que tive. A celebridade confirmada para esta edição é o campeão olímpico Bart Brentjens (Holanda) em parceria com Carsten Besser (Alemanha), campeão da última edição.
O empresário Mário Roma, de 40 anos, folheava uma revista sobre as maiores corridas de aventura pelo mundo e viu uma reportagem sobre o Transalp. Já que era pra encarar alguma (prova de aventura), que fosse a maior de todas, disse ao Webventure. Roma convidou Lucy Meyers, de 35 anos, engenheira de alimentos, para ser sua parceira, e montou uma equipe de apoio. Os dois entraram no site da prova e tentaram se inscrever. Foi difícil conseguir a vaga, só acreditamos quando vimos a última lista sair e nosso nome estava lá, ficamos com o número 363 entre 400. Apertado, lembra Roma.
Segundo ele, as vagas são distribuídas primeiramente entre os locais, depois vêm as celebridades e as inscrições que sobrarem vão para os países que pleiteiam participar. Acho que o fato de estarmos representando o Brasil pesou para sermos aceitos, nunca ninguém daqui tinha ido, diz Lucy.
Desde que souberam da confirmação da inscrição, a vida dos dois mudou completamente. Roma e Lucy são pessoas comuns, que trabalham e têm família, e combinavam diversão com competição. Agora mudou tudo, em casa, a rotina, no trabalho, tudo, afirma o português. Ele já tem no currículo uma volta ao mundo de veleiro, pela Whitbread e algumas provas de bike pelo Brasil. Quando começaram a equipe, junto com outros cinco gringos, o lema era: Pessoas comuns em lugares incomuns.
Esforço – A dupla acorda por volta das cinco da manhã e, em dois dias da semana, faz musculação; nos demais, pedala uma média de 60 km. Nossos maiores trunfos são o foco e a concentração, a cabeça é um fator muito importante lá, afirma Lucy. Se a cabeça pifar numa hora dessas, tudo vai por água abaixo, emenda o parceiro.
De todas as condições adversas, os aclives são o que mais preocupa a dupla. De acordo com Roma, o grande desafio da Transalp é a subida. Só quem pedala sabe o que é subir 20 mil metros, dividindo, dá uns 2.500 por dia. Esse é o nosso pior inimigo. Para se adaptar à altitude e ao clima, a dupla chegará na Alemanha com cinco dias de antecedência.
Representar o Brasil vem tirando o sono desses dois gringos. Dá até dor de barriga, brinca Roma. Somos de fora, mas adoramos aqui, e vamos para lá com o espírito brasileiro. Na volta, eles prometem contar todas as histórias aqui no Webventure.
A largada acontece no dia 19 de julho, na cidade de Mittenwald, na Alemanha, a 900 metros de altitude. De lá, os competidores seguem para a Áustria, onde passam pelo ponto mais alto da prova 2.600 metros até chegarem em Riva del Guarda, em solo italiano, que fica ao nível do mar. Veja a seguir a lista de cidades dormitórios ao longo da prova:
Kirchberg atrai muitos praticantes de esportes radicais, principalmente ligados à neve, como esqui, snowboard e escalada. O balonismo também é praticado lá.
Neukirchen a maior atração é o Parque Nacional, a etapa passa por dentro dele.
Bressanone – mais antiga cidade do Tirol, com 1.100 anos de idade. É considerada um pólo cultural por reunir duas culturas diferentes. Ao final da Primeira guerra, a cidade foi anexada à Itália. Após a reunificação com a Áustria, Bressanone passou a ter a cultura alemã em sintonia com alguns costumes italianos.
Kaltern a principal prática esportiva são as caminhadas pelos Alpes. Segundo o site da cidade, ela é um dos primeiros lugares onde chega a primavera. Nos primeiros dias de fevereiro já é possível avistar algumas flores específicas da época.
Andalo atração turística são os Alpes italianos, esportes de inverno e náuticos.
Riva del Guarda maioria da população pratica esportes náuticos no Lago del Guarda.
(*) O jornalista Daniel Costa escreveu especialmente para o Webventure.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa*
Last modified: junho 26, 2003