Distribuição de cestas básicas (foto: Donizetti Castilho)
Araguaína (TO) Eles deixaram os negócios na cidade grande, a família e a preocupação com a conta bancária só pelo prazer de participarem do Rally dos Sertões. São pessoas que pela primeira vez, ou há anos, trabalham como voluntários do maior evento off road da América Latina, que começou no dia 24 de julho em Goiânia e terminará na sexta-feira em São Luís (MA) para carros, motos, caminhões e quadriciclos.
Daniel Lisboa, de 29 anos, advogado, não pensou duas vezes quando o convidaram para participar da equipe de ação social do rali. Ele é um dos encarregados na distribuição de cestas, livros e kits escolares para a população carente. Estou descobrindo realidades muito diferentes nas cidades por onde passamos. O que me chamou mais a atenção é a falta de informação das pessoas no que diz respeito a anticoncepcionais, alimentação e higiene, diz ele.
Outro advogado que também decidiu trabalhar como voluntário do rali é Ary Kolberg, pai do piloto Klever Kolberg. Com 65 anos e muita disposição, ele participa do evento pela primeira vez e está distribuindo 20 toneladas de alimentos. O contato com essa gente simples me deixa orgulhoso deste trabalho. Fora isso, estou impressionado como a dedicação das pessoas que fazem o rali e do coleguismo que existe entre todos, afirma.
Eles aceleram fora do rali
Enquanto os pilotos aceleram nas trilhas, os motoristas voluntários correm por fora para ajudar a imprensa e equipe da organização. E para essa gente, não há serviço duro, sono ou cansaço que tire o bom humor e a alegria de estar no rali. Saem de madrugada e só dormem depois que todos já se acomodaram. Dirigem horas no sol forte do sertão. Às vezes, 300, 500, 600 quilômetros por dia, sem contar as pequenas idas e vindas. Paguei uma pessoa para ficar em meu lugar na empresa onde trabalho só para estar aqui, diz Renato Francisco da Silva, office boy em São Paulo, que pela terceira vez vem ao Rally dos Sertões.
Rodrigo Carneiro, de 30 anos, empresário, também não perde a chance de estar no rali. Ele é motorista voluntário para as equipes de imprensa desde 2001. Enfrentamos situações estressantes no dia a dia, mas sempre somos recompensados. Conhecemos pessoas e lugares que nem todos conhecem, ouvimos histórias, diz ele. Carneiro conta que no primeiro ano participando do rali estava acompanhando uma equipe da TV Globo quando decidiram parar para comer num vilarejo e acabaram se perdendo. Só conseguimos chegar à cidade onde estava a organização às 7 horas da manhã do dia seguinte. Na época, a TV Bandeirantes noticiou que tínhamos desaparecido, conta rindo.
Quem também não perde um rali há três anos é Denir Serafim, 35. Ele acredita que o sucesso de um motorista que trabalha como voluntário, não depende apenas do volante. Ele precisa ter entrosamento com os jornalistas. Mesmo depois de deixar os repórteres, cinegrafistas ou fotógrafos na sala de imprensa, Denir e a maioria dos motoristas continuam trabalhando por opção. Temos a oportunidade de nos divertir em outro local, mas qual diversão pode ser melhor do que estar no Rally dos Sertões?, pergunta.
Este texto foi escrito por: Cláudia David
Last modified: julho 29, 2003