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Spinelli/Vívolo, Zé Hélio e os Salvini vencem

Redação Webventure/ Offroad

Spinelli e Vívolo correm para a vitória (foto: Theo Ribeiro / www.webventure.com.br)
Spinelli e Vívolo correm para a vitória (foto: Theo Ribeiro / www.webventure.com.br)

O rali cross country é mesmo uma modalidade cheia de surpresas e vence a prova quem é surpreendido menos vezes. Entre os 221 competidores inscritos, dificilmente algum saiu ileso nestes nove dias de prova. Nem os campeões Zé Hélio, Guilherme Spinelli e Marcelo Vívolo escaparam dos obstáculos.

Juca Bala e Zé Hélio disputaram trilha a trilha esta 11ª edição do Rally dos Sertões. Juca tinha pouco mais de três minutos de vantagem sobre Zé Hélio e foi o primeiro a largar na última especial, de Barreirinhas para São Luís.

Mas apenas 8 km depois da largada, Juca viu seu sonho ir por água abaixo. O piloto afundou em um rio e não conseguiu tirar a moto do atoleiro. O caminho ficou livre para Zé Hélio, que vinha logo atrás e foi orientado por Juca a desviar do fatídico rio. Indignado por ter seguido a orientação da planilha, Juca ficou ali sinalizando o perigo, até a última moto passar. Depois, tirou seu veículo da água, secou e conseguiu fazê-lo funcionar. Chegou em São Luís pilotando.

Para Marcos Ermírio, organizador do Rally dos Sertões, o incidente de Juca foi por falta de atenção. “O problema dele foi pilotar sobre pressão e não ter a capacidade de raciocínio lógico, pois ele tinha duas alternativas pelas laterais, que passavam perfeitamente. Mas ele foi pelo meio. Não avisá-lo foi um procedimento normal. Se para uma pessoa foi assim, para todo mundo tem que ser igual. Ele precisava ter tido um pouco mais de calma na hora de decidir o que fazer”.

A dupla campeã nos carros também tomou dois sustos. O primeiro logo no começo da especial, em um brejo. O carro atolou e foi ajudado por Maurício Neves, que rebocou a L200 para fora do brejo. A um quilômetro do fim da especial, novamente Spinelli e Vívolo atolaram, e mais uma vez foi preciso a ajuda de outro carro para que saíssem do lugar. André Ramos, da categoria imprensa foi o segundo salvador.

“Larguei tranqüilo pela diferença de tempo, mas apreensivo pela dificuldade da especial. Pelo rádio, ouvi que o Riamburgo tinha atolado, mas tive o conforto de estar rodeado de amigos. O Maurício e o Palmeirinha, que estavam na frente me avisavam sobre as condições da pista. Até que veio o primeiro momento tenso, quando caí no brejo. A 1 km do final da especial, encontrei outro rio, não consegui sair e tive a sensação de morrer na praia, mas um competidor da categoria imprensa me rebocou”, comentou Spinelli.

Marcelo, o navegador da dupla, que com apenas 21 anos de idade mostrou enorme competência, tendo desempenho perfeito em etapas decisivas na competição completou: “Bateu o desespero, já perdemos alguns ralis nessas circunstâncias, o tempo todo corria uma tensão no rádio”.

A última especial – No último trecho cronometrado, marcado pela orientação por GPS, depois da saída de Juca Bala, Zé Hélio e Tiago Fantozzi passaram a andar juntos, e a errar juntos também. Em alguns trechos, os dois pilotos erraram na navegação, mas nada que pudesse comprometer o resultado. Zé também chegou a levar um tombo, mas levantou, sacudiu a poeira, subiu na moto e rumou para a vitória.

“Fiz uma mágica quando parei no segundo rio. Tenho umas manhas para quando a moto pára na água. Consegui fazer com que ela funcionasse e vim embora. Andei sobre pressão desde o primeiro dia, com um jogo psicológico muito forte, mas mantive sangue frio, fiquei calmo e poupei o equipamento”, afirma Zé Hélio, agora bicampeão do Sertões.

Os pilotos Antônio Berrocal e Glauco Guimarães também caíram na especial. O primeiro levantou e continuou, já o segundo pediu socorro médico e foi levado pelo helicóptero, estava bem, apesar das dores.

No fim do trecho cronometrado, os pilotos estavam aliviados.

“Foi muito complicado completar todas as especiais, mas estou contente pra caramba. Já é o terceiro ano consecutivo que consigo ficar entre os três primeiros e pra mim isso já é uma vitória”, revela Tiago Fantozzi, que em 2002 terminou a prova com a perna machucada, atingida por um galho.

“Graças a Deus acabou”, disse o piloto de moto Ramon Volkart ao cruzar a linha de chegada. “Ficar entre os cinco já é uma boa posição, pois não sou piloto profissional. O ano que vem estou de volta”, completou.

“Foi um rali muito irado, muito legal. Acho que vou pegar um troféu e isso, para quem está competindo, vale muito. É um sentimento muito grande”, disse o piloto de moto Rafael Capoani.

“Se eu pudesse até entregava minha moto para o Juca”, disse o piloto de moto Cláudio Nogueira.

Nos quadriciclos, Carlo Collet conseguiu sua terceira vitória consecutiva. “Hoje tinha lugares nas dunas que a gente andava e afundava. Até parecia areia movediça”, disse o piloto. “No fundo no fundo esse tricampeonato foi moleza”, completou Collet, líder dos quadriciclos e primeiro da categoria a terminar a especial.

“Tive muito azar neste ano. No primeiro dia caiu meu tanque, no terceiro fundiu o motor, no quarto não larguei e no sexto caí, levei um tombo e quebrei as duas barras de direção. Foram vários fatores que me deixaram de fora da briga pelo título”, disse o piloto de quadriciclo Robert Nahas, que capotou com o quadriciclo no Sertões do ano passado.

Primeiro carro também afundou – Riamburgo Ximenes e Rogério Almeida foram vítimas do mesmo atoleiro que tirou a chance de vitória de Juca Bala. A S-10 da dupla ficou atolada no mesmo lugar que o piloto de moto.

Depois do sufoco em outro atoleiro, Guilherme Spinelli e Marcelo Vívolo cruzaram a linha de chegada, onde eram esperados por toda a equipe de mecânicos e apoio da Mitsubishi Racing. A comemoração foi grande, mas Spinelli promete que a festa continuará hoje de noite em São Luís (MA), ponto final da competição.

Guilherme Spinelli, que conquista o Sertões 2003 após dois vices, em 2000 e 2001, fez questão de ressaltar a importância do trabalho em equipe: “Trabalho de equipe é fundamental, ninguém ganha sozinho, a vitória não começou em Goiânia. É um trabalho que vem sendo desenvolvido desde o ano passado. O Sertões exige muito, é preciso muita união. Eu dedico esta vitória a toda a equipe Mitsubishi Racing”, concluiu o piloto emocionado.

A grande surpresa do Rally dos Sertões foi, sem dúvida, o segundo lugar de Ulisses Filho/Miceno Neto, vice-campeões da classificação geral na categoria Carros. Mas para quem acompanha o Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country a surpresa não foi tanta, uma vez que os dois primeiros colocados no Sertões foram os mesmos que subiram ao pódio do Rally Terra Brasil.

O piloto Ingo Hoffmann sentiu na pele o que é um cross country. “Isso aqui é muito bom, mas causa cansaço em demasia. Não dá pra comparar a Stock Car com o Rally. Na Stock a coisa é curta, aqui é crescente e a longo prazo”, disse Ingo Hoffmann, doze vezes campeão da Stock Car.

Nos Caminhões, Carlos e Guido Salvini confirmaram a boa performance durante o rali. “Foi muito difícil, mas muito gostoso. Me sinto gratificado por ter derrotado tão bons competidores como o André, o Ricardo, o Luiz, o Alfredo e outros. Só tive certeza do título quando o André agarrou lá atrás”, disse o campeão Carlos Salvini.

A estréia da categoria Imprensa foi um sucesso. Os jornalistas puderam sentir na pele todas as emoções e frustrações de pilotos e navegadores em um rali. “Agora podemos falar de rali com muito mais propriedades. Nós vamos poder entender melhor o piloto, uma reação que ele possa ter, o estresse, porque muita gente pensa que a vida de um piloto é brilhante, mas na verdade não é. É um mix de emoções muito forte: tensão, adrenalina, tristeza, alegria, frustração e tudo isso num curto espaço de tempo”, disse o piloto André Ramos, da EPTV Rede Globo, que disputou o Sertões na categoria

Carros
Super Production – Guilherme Spinelli/Marcelo Vivolo
Production Diesel – Marlon/Joseane Koerich
Production Gasolina – Paulo Sergio Camara Rocha/Flávio M. De Franca
Protótipos – Maurício Neves/Emerson Cavassin

Motos
Super Production – José Hélio Filho
Production – Cláudio Nogueira
Marathon – Ricardo Medeiros
Quadriciclo – Carlo Collet

Caminhões
Carlos Salvini/Guido Salvini/Fernando Chwaigert

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: agosto 2, 2003

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