Carro de Franco Giaffone terminou a sexta etapa sem a carenagem traseira. (foto: Luciana de Oliveira / www.webventure.com.br)
O 11º Rally Internacional dos Sertões percorreu 3.825 quilômetros durante nove dias e cruzou três estados, partindo no dia 24 de julho da cidade de Goiânia, em Goiás, chegando à Praia do Calhau, em São Luis, no Maranhão, no dia 1º de agosto, passando antes pelo Tocantins.
Competidores de motos, carros e caminhões lutaram dia a dia para superar as dificuldades e completar mais uma etapa no maior rali da América Latina. Carros e motos protagonizaram disputas muito emocionantes pelo título. Na primeira categoria, a “maldição da liderança” fez três duplas como vítimas. E nas Motos, uma grande surpresa no final.
O Webventure, responsável pela cobertura on line e oficial do evento, preparou uma retrospectiva dos fatos mais marcantes durante os nove dias de Sertões. Relembre com a gente:
23/07 – prólogo
Na manhã de 23 de julho os motores começaram a roncar em Goiânia para o prólogo que definiu a ordem de largada para a primeira etapa do Sertões 2003. Em um circuito de aproximadamente 2.500 metros, os pilotos correram contra o relógio para tentar sair pelo menos um segundo à frente de um concorrente.
Nas motos, o mais rápido foi Jean Azevedo, campeão da geral em 2002. Nos carros, a ponta ficou com a dupla Franco Giaffone/Alberto F. Júnior. Nos quadriciclos, Robert Nahas foi o primeiro e, nos caminhões, Ricardo Domingues saiu na frente. Carros pendurados em guindastes deram um charme especial ao circo do rali que já estava armado, pronto para brilhar em cada uma das cidades-destino.
24/07- 1ª etapa – Goiânia a Padre Bernardo (GO)
Foram percorridos 292km, sendo que o trecho cronometrado, apelidado de Especial dos Pirineus, teve 110 km. Este primeiro dia de prova já assustava a todos mesmo antes da largada, pois a etapa era Maratona, ou seja, ao fim do dia os próprios competidores é que tinham que fazer a manutenção em seus veículos, sem poder contar com a ajuda dos mecânicos.
De cara, uma fatalidade. Jean Azevedo, piloto de moto que estava em busca do quarto título, feito nunca nunca alcançado no Sertões, encontrou um colchete (cerca de arame farpado) fechado, logo após fazer uma curva numa velocidade de 130km/h. Na queda, ele quebrou um osso do ombro e passou por cirurgia logo no dia seguinte. Era o primeiro favorito fora da briga no Rally.
Venceram o dia José Hélio (motos), Klever Kolberg/Lourival Roldan (carros) e Carlos/Guido Salvini (caminhões), os primeiros líderes.
25/07 – 2ª etapa – Padre Bernardo a Porangatu (GO)
Após uma noite Maratona, consertando ou fazendo pequenos reparos nos veículos, os competidores encararam o dia mais longo do rali, com 597 km percorridos. Foram 200 km cronometrados para motos, carros e quadriciclos e 137 km para caminhões.
Segundo a organização, este segundo dia de prova foi o mais bonito do rali, com um visual de canastras. Mas muitos carros tiveram problemas. A dupla Guilherme Spinelli/Marcelo Vívolo tombou após passar num riacho e perder o controle. O mesmo aconteceu com Ingo Hoffmann/Alberto Zoffmann, que caíram em uma vala e não terminaram o trecho. E começou a “maldição da liderança”: Klever Kolberg/Lourival Roldan tiveram problemas mecânicos e forfetaram, ou seja, não conseguiram completar a especial no tempo máximo permitido.
Venceu o dia a dupla campeã de 2002 Édio Füchter/Milton Pereira, que assumiu a liderança. Nas Motos, Juca Bala, mas José Hélio se manteve na ponta. E nos caminhões, Ricardo Domingues/José Saraiva foram os mais rápidos, mas os Salvini continuaram intocáveis como líderes.
26/07 – 3ª etapa – Porangatu (GO) e Palmas (TO)
O terceiro dia de prova também foi longo, com 591 km atravessando do estado de Goiás para Tocantins. O trecho cronometrado teve 214 km e passou próximo ao grande acampamento dos sem terra naquela região.
E seguiu-se a “maldição”: Édio/Miltinho perderam a liderança da classificação geral dos carros por problemas mecânicos. Klever/Lourival tiveram outro dia de azar, desta vez com a caixa de direção. Venceram o dia: Guilherme/Marcelo (carros); Juca Bala (motos), que desbancou José Hélio da ponta; e Ricardo/José (caminhões). Reinaldo Varela/Edgar Fabre, campeões do Brasileiro de rali cross-country 2002, assumiram a ponta nos Carros; e os Salvini seguiram em primeiro nos Caminhões.
27/07- 4ª etapa – Palmas (TO) e Colinas (TO)
Pela primeira vez os competidores encararam duas especiais no mesmo dia. O percurso de 465 km entre as cidades de foi dividido em um primeiro trecho cronometrado de 100km e em um segundo de 66km.
O maior problema aconteceu na categoria Caminhões, com a equipe Yahn Racing. Luciano Cunha nem alinhou para a largada. Já Alfredo Yahn chegou a sair para a etapa cronometrada, mas voltou logo depois, seguindo um caminho alternativo pelo asfalto. Quem venceu o dia e surgiu na ponta da categoria foi Ricardo Domingues/José Saraiva.
E seguindo a maldição foi a vez de Varela/Fabre terem problemas mecânicos e fazerem apenas o 51º tempo do dia, perdendo a liderança, em princípio, para Paulo Nobre (o Palmeirinha) e Dico Teixeira. Mas, no fim da noite, a direção de prova pegou todos de surpresa suspendendo as penalizações de mais de 70 carros acusados de ultrapassarem a velocidade permitida na zona de radar da etapa 3. Com a mudança, Edu Piano/Nilo de Paula foram os novos líderes nos Carros. Venceram o dia Spinelli/Vívolo (carros). Nas Motos, José Hélio foi o mais rápido e retomou a liderança.
28/07 5ª etapa – Colina a Araguaína (TO)
Depois de quatro dias de provas, os competidores puderam encarar uma etapa mais tranqüila. Foram apenas 213 km ao longo do dia, com uma especial de 138 km, que a maioria encerrou ainda no horário do almoço.
No trecho cronometrado, uma bifurcação em forma de Y confundiu muitos navegadores. Nas Motos, cada vez mais emoção: Juca Bala venceu e roubou de novo a ponta com apenas 6 segundos de vantagem sobre Zé Hélio. Nos caminhões, Ricardo Domingues/José Saraiva forfetaram e Salvini reassumiu a liderança. Venceram o dia os “ressurgidos” Klever Kolberg/Lourival Roldan (carros) e Alfredo Yahn/João Hermann (caminhões).
O único caso de morte no Rally aconteceu nessa noite: Assunção Jorge Ribeiro Alves, motorista do motor home que prestava serviço para a equipe Atico morreu segunda-feira à noite no parque de exposições onde estava a caravana do Rally dos Sertões. Ele caiu de uma escada após levar um choque elétrico enquanto consertava o ar condicionado do motor home.
29/07- 6ª etapa – Araguaína (TO) a Carolina (MA)
Neste dia a caravana do Sertões percorreu um trajeto de 309 km até Carolina, o oásis maranhense. Foram duas especiais intercaladas por uma travessia de balsa: a primeira com 66km e a segunda 140 km e uma etapa definida como “a pior da vida” de muitos competidores.
O forte calor da região fez com que muitos pilotos chegassem ao fim do trecho cronometrado passando mal. Um helicóptero ficou estacionado próximo ao local para prestar socorro, já que a temperatura beirava os 40 graus. Mais uma vez as duplas Édio Fuchter/Milton Pereira e Klever Kolberg/Lourival Roldan tiveram problemas mecânicos e perderam tempo e posições. A maldição fez nova vítima: Edu Piano/Nilo de Paula quebraram. Guilherme Spinelli/Marcelo Vívolo venceram o dia e assumiram a liderança.
Também venceram o dia o líder Juca Bala (motos), ampliando a vantagem em quase 10 minutos; e Luciano Cunha/Carlos Brites (caminhões com Salvini ainda líder).
30/07- 7ª etapa – Carolina (MA) e Barra do Corda (MA)
Já no Maranhão, os veículos percorreram 436 km, com uma especial de 230km, onde os veículos atingiram suas velocidades máximas. A dupla Paulo Nobre/Dico Teixeira, liderando na categoria carros pela primeira vez no Sertões, deu adeus à briga pelo título após ter problemas mecânicos provocados por um galho de árvore. Com Spinelli/Vívolo na ponta, a vice-liderança passou a ser ocupada pela dupla que lidera o Brasileiro de rali cross-country Ulisses Marinzek/Miceno Neto. Nas motos, Zé Hélio venceu e tirou um pouco a diferença para o líder Juca Bala. E nos Caminhões, Salvini seguia tranqüilo na ponta, e André Azevedo/Róbson Pereira venceram o dia.
31/07- 8ª etapa – Barra do Corda (MA) e Barreirinhas (MA)
No penúltimo dia de prova, os competidores percorreram 536 km até a cidade onde começam os Lençóis Maranhenses. Foram duas especiais: a primeira com 132 km e a segunda com 66 km. A grande dificuldade das especiais foram as deps, depressões de poça.
Nas motos, Juca Bala e José Hélio estavam com uma diferença de 3min28 em favor do primeiro, o que era considerado empate técnico para a organização a decisão ficaria para o último dia. Mesmo apenas com o sétimo tempo na etapa, Spinelli/Vívolo se mantinham líderes rumo ao título dos Carros; Riamburgo/Marcos Rogério foram os mais rápidos. E, nos caminhões, dá-lhe Salvini, vencedor do dia e com mais de uma hora de vantagem para André Azevedo.
01/08 – 9ª etapa – Barreirinhas (MA) a São Luís (MA)
No último dia de competição foram 366 km, com um trecho cronometrado de 93 km que desde antes do Rally a organização indicava que não seria um “passeio” como nos anos anteriores.
O uso obrigatório do GPS, aparelho que dá através de coordenadas digitais a localização e direção correta para os competidores do caminho a seguir, foi o diferencial da etapa. E muita gente sofreu.
Logo no começo do último dia de prova, a apenas 9 km da largada, o inesperado aconteceu. Juca Bala, o líder nas Motos, afundou a moto em um rio e ficou por lá até que o último competidor da categoria passasse. José Hélio, que vinha logo atrás, desviou caminho e seguiu para ser o campeão do Rally pela segunda vez. Juca preferiu ficar para trás, segundo ele, para indicar aos concorrentes o caminho mais seguro para a travessia e terminou o Sertões em terceiro. Tiago Fantozzi também acelerou e levou como vice-campeão. Nos quadriciclos, Carlo Collet se tornou tricampeão.
Nos Carros, mais drama. Guilherme Spinelli/Marcelo Vívolo quase repetiram a sina de Juca Bala. Com meia hora de vantagem no tempo acumulado, ficaram atolados duas vezes e foram salvos por concorrentes, garantindo o primeiro título de Sertões para a dupla. Ulisses Marinzek/Miceno Rossi chegaram em segundo, sob aplausos de outros pilotos e equipes de apoio. Revelação desta edição, os irmãos Marlon e Joseane Koerich ficaram com a terceira posição na geral.
Nos Caminhões, só os Salvini completaram o trecho dentro do tempo, confirmando a supremacia no Rally. André Azevedo/Róbson Pereira ficaram em segundo, com Luís Antonio/Marcus Pinto em terceiro.
Campeões por categoria
Carros
Super Production – Guilherme Spinelli/Marcelo Vivolo
Production Diesel – Marlon/Joseane Koerich
Production Gasolina – Paulo Sergio Camara Rocha/Flávio M. De Franca
Protótipos – Maurício Neves/Emerson Cavassin
Motos
Super Production – José Hélio Filho
Production – Cláudio Nogueira
Marathon – Ricardo Medeiros
Quadriciclo – Carlo Collet
Caminhões
Carlos Salvini/Guido Salvini/Fernando Chwaigert
Este texto foi escrito por: Camila Christianini e Luciana de Oliveira
Last modified: agosto 5, 2003