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Carga&Cia

Redação Webventure/ Parceiros

A partir desta edição de Carga & Cia. estarei contando para vocês com exclusividade como é ser piloto de caminhão na competição mais difícil e perigosa do mundo, o Rally Paris-Dakar. A prova, que começa sempre na virada do ano e atravessa vários países da África, como Marrocos, Mauritânia e Senegal, tem aproximadamente 10.000 quilômetros. Não contamos com a facilidade de estradas e rodovias, o conforto de um hotel, a orientação das placas de trânsito, um posto Siga Bem da Petrobras ou qualquer referência. Do alto da boléia do meu Tatra 815, fabricado na República Tcheca, só vejo duna, duna e mais duna.

Mas antes de falar com detalhes do Paris-Dakar, vou contar como tudo começou. Sempre fui um apaixonado por motos e meu pai me ensinou a andar sobre duas rodas com 12 anos de idade. Dois anos depois, com 14, ganhei uma motocicleta e aos 16 já estava correndo de motocross. O tempo foi passando, as provas se tornaram mais competitivas e sérias e depois veio o enduro. E foi numa dessas provas que conheci meu companheiro na Equipe Petrobras Lubrax, Klever Kolberg. Isso já está completando 15 anos.

Em 1988 resolvemos correr atrás de um sonho, que era disputar o Rally Paris-Dakar. Sem qualquer estrutura, saímos em busca desse desafio. Na minha primeira corrida, um fato me impressionou demais: a velocidade com que os caminhões me ultrapassavam. Afinal, a ordem de largada começa pelas motos, depois são os carros e só por último aparecem os caminhões. Numa etapa cronometrada, o velocímetro de minha moto marcava 120 quilômetros por hora e aqueles gigantes me passavam a pelo menos 150 km/h em pleno deserto africano. Não havia estrada, pista ou qualquer coisa do gênero. Na época, os holandeses DAF eram os favoritos ao título de campeão do Dakar.

Em 15 anos de participações no Rally Paris-Dakar, corri 10 deles na categoria Motos, um com um carro de imprensa com jornalistas brasileiros e em 2002 estou indo para a minha quarta participação com caminhão. Essa categoria me fascina e ainda estou aprendendo muito. Mas pilotar um caminhão de 11 toneladasem altas velocidades pelo deserto é bem diferente do que dirigir um monstro de 25 ou 30 mil quilos, como estes que cruzam as estradas de todo o Brasil. É preciso ter atenção redobrada, principalmente na hora de parar.

Um acessório importante que temos nos caminhões, e só agora está sendo instalado em alguns carros, é o sistema de encher e esvaziar os pneus com o veículo em movimento. Na duna murchamos e enchemos em trechos com pedras, facilitando muito a nossa vida. Esse sistema é um pouco diferente do tradicional Rodoar. No nosso, o ar comprimido vem por dentro dos semi-eixos (cada roda tem o seu) e sai bem no centro da roda, sem que peças fiquem no lado externo, o que dá mais segurança numa prova off road cheia de obstáculos, como pedras, galhos etc.

Outra facilidade do meu Tatra é que eu posso calibrar e regular a altura da suspensão traseira. Mas tudo vai depender da velocidade e do tipo de solo que estamos enfrentando. Nas retas mais velozes é hora de diminuir a altura e levanto a suspensão quando há muita pedra, “bitolas” ou “facões”, diminuindo as chances de atolar. Afinal, tirar um caminhão de um atoleiro no meio das dunas não é fácil. Em três participações de caminhão, só atolei uma vez. Em compensação, quando fui de carro, atolei mais de 30 vezes. No Brasil, disputo o Rally Internacional dos Sertões com um Iveco modelo Eurocargo, o mesmo que é usado para os treinos do Paris-Dakar.

Enfim, agora que vocês já conhecem um pouco do meu caminhão Tatra vou contar com a torcida de todos os brasileiros para o Paris-Dakar 2002, que terá a largada no dia 28 de dezembro deste ano. Na próxima edição da Carga e Cia. vou contar um pouco como dormimos, comemos e “sobrevivemos” durante 20 dias no deserto do Saara.

Até a próxima!

André Azevedo, 42, é piloto de caminhão e há 15 anos compete no Rally Paris-Dakar com Klever Kolberg, 39, na Equipe Petrobras Lubrax. André escreveu este artigo com exclusividade para a edição Número 30, Ano 02, da revista Carga&Cia .

A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, BR Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e Eletronet, e apoio das Concessionárias Honda, VAZ Sprockets Chains, Carwin Acessórios, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Iveco, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, Planac Informática, Nera Telecomunicações, Telenor, Dakar Promoções, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Vista Criações Gráficas e Webventure.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: outubro 18, 2001

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