O Rally Paris-Dakar chegou ao seu verdadeiro terreno: África. Dia após dia a temperatura literalmente vai aumentando. Se por acaso o sol não desse conta deste recado, a adrenalina e o exercício da pilotagem já provocariam este calor. Mas para que ele seja gerado, alguma energia é necessária. Nós a buscamos de três maneiras:
A primeira é procurando dormir o máximo possível. Paradoxalmente, além de ser indispensável adquirir um ritmo para ser rápido nas areias, precisamos buscar esta cadência na hora de dormir. Não sei se o verbo ‘repousar’ seria o mais adequado, já que normalmente estamos mais para um desmaio. No acampamento todos o fatores são contrários. Pessoalmente, depois de suar a camisa e da adrenalina das etapas, seria ideal tomar um banho. Pausa para uma explicação. Aqui nem estou falando de higiene, mas de relaxar. Depois do banho, já na cama, também curtiria um bom livro.
Mas vamos à realidade. Os banhos diários ficaram no trecho europeu do rali; minha cama é um saco de dormir, dentro de uma barraca, em cima de um chão gelado e cheio de pedras. A luz é uma lanterna presa à minha cabeça, apagando a idéia de um livro. Não bastasse isso, estamos cercados por mecânicos, motores e geradores. Por isso, a barulheira é enorme e daí a necessidade de se adquirir um bom ritmo para dormir.
Outro modo com que adquirimos energia é na hora do café da manhã ou do jantar, já que almoço ou qualquer outro lanche não existe. O cardápio é único e não permite escolha, o que nos faz sonhar com aquela comidinha caseira. Mas quem é prevenido vale por dois. Então, sempre trago algumas vitaminas e algum suprimento extra dentro da mochila para substituir aquela visita noturna à geladeira.
Mas tão importante quanto o sono e a alimentação, recarregamos nossa força com a alegria e emoção dos bons resultados. Comemorar faz parte do nosso negócio. Tive a felicidade de conquistar a segunda colocação na classificação geral dos carros na etapa de Madri. Só fiquei sabendo deste resultado horas mais tarde, quando cheguei ao porto de Algeciras, no extremo sul da Espanha, e um concorrente e amigo espanhol veio me cumprimentar. A carga da bateria foi ao máximo em segundos. No dia seguinte, na etapa entre Rabat e Er Rachidia, o resultado foi de toda a equipe. O Juca Bala, o Luiz Mingione e eu fizemos um segundo lugar. O André Azevedo ficou em terceiro na classificação geral entre os caminhões.
Para nós isso gera uma energia que cobre as poucas e mal dormidas horas de sono, a falta de banho, de mordomias e a saudade do feijão com arroz brasileiro.
Até a próxima!
E-mail: parisdakar@parisdakar.com.br
Site oficial: www.parisdakar.com.br
Klever Kolberg, 39, é piloto da Equipe Petrobras Lubrax e participa do rali Paris-Dakar há 15 anos.
A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, BR Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli e Eletronet, e apoio das Concessionárias Honda, VAZ Sprockets Chains, Carwin Acessórios, Controlsat Monitoramento de Frotas Via Satélite (Grupo Schahin), Iveco, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, Planac Informática, Nera Telecomunicações, Telenor, Dakar Promoções, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Vista Criações Gráficas e Webventure.
Este texto foi escrito por: Klever Kolberg, em Er Rachidia (Marrocos)
Last modified: janeiro 3, 2002