Exclusivo – Criação de um posto dos Bombeiros, atuação de agentes de segurança… são diversas as medidas que estão sendo divulgadas na mídia como as próximas a serem adotadas na cidade de Brotas (SP) depois do primeiro caso de morte de um turista na prática de esportes na cidade: no último sábado, a bancária Andréia Cristina da Silva morreu durante a atividade de rapel em cachoeira. A polícia ainda está apurando a causa do acidente e o laudo deve sair em duas semanas.
Para saber o que realmente está sendo feito na cidade que é o quarto destino de ecoturismo mais procurado no Brasil, o Webventure procurou a Prefeitura de Brotas e, por indicação de sua assessoria de imprensa, ouviu Rubens Veríssimo Filho. Há mais de quatro anos ele é um dos dois representantes das agências de turismo junto ao Comtur (Conselho Municipal de Turismo).
Segurança virou lei – Proprietário de agência, a segunda a ser aberta na cidade, em 1997, Rubens comentou o que foi discutido numa reunião entre os empresários do turismo local, realizada na última terça-feira; deu sua visão sobre as propostas da criação dos Bombeiros e dos agentes de segurança na cidade; e também explicou como o assunto segurança vem sendo encarado em Brotas. Após o acidente começaram a divulgar a imagem de que somos amantes dos esportes e que agora é que a Prefeitura acordou para a segurança nestas práticas. Esta não é a realidade. O turismo na cidade existe há 11 anos. Somos profissionais, disse Rubens.
Em dezembro de 2003 virou lei a normatização do turismo na cidade, um trabalho que levou três anos para ser elaborado e que a própria Embratur quer implantar em âmbito nacional devido à qualidade dele, revelou. Por conta disso é que não imagino o que tenha causado este acidente. A empresa envolvida está dentro de todas as normas. Para mim, foi uma fatalidade.
Perda – Durante a conversa, Rubens repetiu diversas vezes que acima de tudo, a cidade está abalada com a perda desta vida. E enfatizou: Foi a primeira vez que um turista morreu na prática do esporte aqui em Brotas, mas a Andréia não é uma estatística. Para Brotas, ela não é um número. É uma perda lastimável.
Confira nos links abaixo a entrevista na íntegra.
Para ler a entrevista com Renato Scatolin, sócio-fundador da Mata ‘Dentro, clique aqui.
Webventure – Como está sendo vista por vocês a repercussão deste acidente?
Rubens Veríssimo Filho – A primeira coisa a se dizer é que aconteceu a perda desta vida e não tem o que repare isso. Mas muita gente começou a divulgar a imagem de que somos amantes do esportes e que depois deste acidente a Prefeitura acordou para a segurança nestas práticas. Esta não é a realidade. O turismo em Brotas existe há quase 11 anos. Antes da primeira agência abrir, que foi a Mata ‘Dentro (a empresa contratada pelo grupo de Andréia Cristina da Silva), hoje com 10 anos, já existia um turismo informal. De 1997 a 1999 houve um grande salto, um grande investimento na profissionalização, nos equipamentos. Há cinco anos os Bombeiros vêm a Brotas aprender com a gente as técnicas de resgate em ambiente natural. Eles também nos ensinam outras técnicas, como primeiros socorros, mas o fato é que eles vêm aprender e quem os ensina são as pessoas aqui de Brotas.
O que foi decidido na reunião entre as empresas de turismo da cidade?
Veríssimo – Na noite da última terça-feira fizemos essa reunião com as empresas de turismo. Havia três objetivos. O primeiro era que todos recebessem a mesma informação sobre o ocorrido no acidente. Ainda não se sabe a causa, a polícia está investigando, mas obtivemos o que foi possível. Também conversamos sobre qual seria a nossa postura diante da imprensa. Essa imagem que alguns veículos criaram, de que só agora se despertou para a segurança em Brotas, é revoltante. Durante os três últimos anos junto ao Comtur elaboramos normas, regras para as atividades de aventura na cidade. Montamos Grupos de Trabalho para cada esporte, convidamos gente de fora envolvida com essas modalidades para vir aqui e debater com a gente o que é o melhor para a segurança. Foi montado um dossiê de regras que supera em certos pontos o que existe lá fora em termos de normas de segurança. Um aspecto em que fomos mais rígidos do que são na Europa foi sobre o ponto de ancoragem do rapel.
Esse dossiê virou lei municipal em 30 de dezembro de 2003. Abrange todos os aspectos possíveis, não só a prática do esporte como também regras para a preservação ambiental, para a abertura de uma empresa de turismo… É completo. Para se ter uma idéia dos detalhes, está especificado nas normas do rafting qual o tamanho mínimo e máximo que a faca pode ter e em que posição ela deve ficar no colete do instrutor. Só para chegar à definição deste detalhe ficamos discutindo umas três horas numa noite…
Webventure – Essas leis, na prática, estão sendo seguidas? Existe uma fiscalização sobre as empresas?
Rubens Veríssimo – A fiscalização está por conta da Guarda Municipal, que também foi criada no ano passado. Ela já está acontecendo, mas ainda não está cobrindo 100% das empresas, a lei só foi aprovada no fim do ano… Também há grupos para avaliar os instrutores, chamados GATECs. São formados por pessoas técnicas nas modalidades, indicadas pelo Comtur, e que vão cuidar da formação dos novos instrutores e reciclar os que já trabalhavam antes da lei ser aprovada. O objetivo é sermos mais rígidos com as novas empresas que quiserem se estabelecer em Brotas, a fim de que a qualidade do que temos aqui seja mantida.
Webventure – A Mata ‘Dentro está em conformidade com essas normas?
Veríssimo – Está. O coordenador de Vertical deles (que dirige a atividade de canionismo), por exemplo, é uma pessoa extremamente técnica. Na minha avaliação, a equipes deles passaria tranqüilamente. No dia do acidente, eles estavam inclusive com um número maior de instrutores e monitores do que pede a normatização.
Webventure – Há empresas atuando em Brotas fora desses padrões?
Veríssimo – A grande maioria já está dentro deste patamar, eu não conheço quem não esteja. Mesmo porque as leis foram feitas pelas próprias empresas. Houve quem não queria tanta exigência em um ou outro aspecto, mas esses tiveram que se adaptar ao que foi escolhido pela maioria. Também existe uma cobrança interna. A gente mesma se fiscaliza. Se eu vir alguém operando fora dos padrões eu vou cobrar, aliás, agora que está na lei, eu vou denunciar. Agora autuar só a Guarda Municipal é que pode. E esses guardas conhecem o assunto, muitos deles já foram guias.
Webventure – Alguma empresa já foi autuada?
Veríssimo – Até agora não.
Webventure – A Prefeitura teria a intenção de solicitar ao Governo do Estado a criação de um posto dos Bombeiros em Brotas. Você acha que isso é fundamental?
Rubens Veríssimo – Isso seria uma ajuda pequena. Temos que lembrar que o Bombeiro não seria específico para o socorro ao turista, ele atenderia também as ocorrências na cidade, com a população local. Para a gente seria mais importante que os Bombeiros de São Carlos (que atendem Brotas) tivessem um helicóptero. Mesmo assim o helicóptero não vai chegar embaixo da cachoeira. Cabe ao profissional das atividades prestar os primeiros socorros e levar a vítima ao atendimento especializado. Está na lei.
Webventure – E quanto a idéia, que também tem sido atribuída à Prefeitura, de ter agentes de segurança atuando junto aos instrutores nas atividades esportivas?
Veríssimo – Quem no Brasil teria capacidade de avaliar os nossos instrutores? Estamos vendendo a nossa normatização para a própria Embratur, para que seja adaptada e usada em âmbito nacional, devido à qualidade do nosso trabalho, à qualidade do projeto. Brotas é o centro, todas as pessoas que se destacam nesses esportes vivem aqui ou têm uma íntima relação com a cidade. Se vier alguém de fora poderá no máximo trocar idéias, quem sabe ajudar em alguma coisa pequena….
Webventure – Enfim foi efetivamente definida alguma nova ação em decorrência do acidente?
Veríssimo – A gente tem buscado a segurança ao máximo. Por isso não imaginamos o que possa ter acontecido para culminar neste acidente fatal… Tudo o que é conhecido hoje, que já praticado, nós adotamos aqui. Não vejo qual teria sido a causa do acidente, acredito que foi uma fatalidade. De qualquer forma, parados não vamos ficar, nunca ficamos. Vamos correr ainda mais atrás de segurança. Mas não vamos buscar um caminho diferente do que já estamos trilhando, vamos continuar investindo no que já vínhamos fazendo. Só vamos mudar de rumo se a apuração do acidente nos indicar que esta ou aquela norma não está correta.
Não consideramos que nós temos o máximo, mas estamos no topo. E o motivo de tudo foi nunca deixar que algo como um acidente fatal pudesse acontecer. Mas as atividades esportivas de aventura têm risco e no caso de um acidente o acesso ao local é difícil. É uma realidade. Só que, se formos comparar, é menos perigoso do que vir para Brotas de carro. Já houve acidentes de trânsito fatais na estrada, enquanto é a primeira vez que isso acontece na prática do esporte aqui. Mas é uma comparação terrível porque a perda de uma vida é irreparável, não é uma questão de número.
Webventure – Qual é o histórico de acidentes em Brotas?
Veríssimo – Este foi o primeiro com morte de turista. Antes disso só tinham acontecido acidentes fatais com pessoas locais, que não estavam com agência, como aqueles casos de pessoas alcoolizadas que entram num rio, que acontecem também nas praias… O segundo caso mais grave que eu recordo, durante uma atividade monitorada com um turista, foi uma perna quebrada.
Mas quero deixar claro que a Andréia não é uma estatística, não é um número para Brotas. Acima de tudo toda a cidade, não só o mercado como também a população, está muito abalada, muito triste com a perda desta vida. A Andréia era uma pessoa que adorava Brotas, não foi a primeira vez que ela veio para cá.
Webventure – A imagem da cidade ficará muito prejudicada?
Veríssimo – Não tem o que fazer, não tem como esconder o acidente. O fato é que não vamos ficar de braços cruzados, nunca ficamos. Vamos continuar buscando mais segurança para dar mais prazer ao turista. O que ocorreu nos deixa ainda mais ansiosos para conseguir isso.
O sonho de Brotas é o que se propunha no Movimento Rio Vivo, é o turismo sustentável, em que se explora o meio ambiente sem destruí-lo e se leva a pessoa ao contato direto com a natureza para lhe agregar mais qualidade de vida. O que houve no sábado foi o inverso disso tudo… É algo que dói muito em toda a cidade. Mesmo com essa dor vamos seguir trabalhando para dar ainda mais segurança, melhorar sempre. Para nunca mais passar por uma situação como esta.
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Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: janeiro 30, 2004