Viagem mais recente foi ao Cho Oyu (8.201m) em setembro de 2003. (foto: Helena Coelho)
A alpinista Helena Coelho conta na coluna deste mês como consegue escalar grandes montanhas do Himalaia sem contar com patrocínio.
Muitas pessoas nos encontram e perguntam como fizemos para conseguir patrocínios para as nossas expedições, ou então, como é que fazemos para escalar tanto lá fora sem eles. E ficam bastante surpresas quando dizemos que não temos e que nem nos preocupamos mais com isso.
Já tentamos várias vezes e não conseguimos. Talvez porque não sejamos interessantes do ponto de vista da equipe de marketing das empresas ou por não termos o canal certo ou até porque ainda não fizemos um trabalho sistemático de bater de porta em porta.
Com isso, o que acontece é que acabamos tendo muita dificuldade de dizer com antecedência se iremos ou não escalar determinada montanha neste ou no próximo ano. Pois, só saberemos dizer alguma coisa, quando vai chegando perto e, então, fazendo uma mera conta de somar e subtrair, conseguimos saber se temos o dinheiro necessário para cobrir os gastos com a nossa expedição ou não.
E ainda temos que fazer os amigos entenderem que nem sempre sobra grana para mandar e-mails de lá contando cada passo de nossa viagem e também temos que contornar o problema com as famílias que ficam sempre chateadas por não entender por que não gastamos aproximadamente 10 dólares por minuto de telefone via satélite para mandar um “oi” para eles.
Somar e subtrair – Nós sempre analisamos o ano e planejamos escalar essa e aquela montanha. Como vivemos exclusivamente de nossos salários e de algum ganho extra de palestras e por guiar algum trekking ou escalada, verificamos quanto iremos precisar incluindo autorizações, transporte terrestre, alimentação, equipamentos que temos e os que terão que ser substituídos, passagens aéreas, etc.
Feitas as contas até os centavos, começamos o nosso trabalho de economia de guerra. É tipo assim: precisamos economizar o equivalente a tantos dólares ao mês e aí, vamos. Diariamente, anotamos todo e qualquer gasto e fazemos a continha de subtrair do salário.
No final, quando vai chegando o prazo para decidir se vamos ou não escalar alguma montanha, vemos o saldo e se dá, ainda fazemos alguma mágica do tipo, as passagens aéreas, pagamos no máximo de prestações que conseguimos. Já chegamos a vender um carro para financiar expedição. Hoje não dá, só temos um e, apesar de que já está ficando velhinho, precisamos dele.
O que acaba saindo bem mais difícil é a reposição de equipamentos. Perdemos três barracas em duas expedições ao Himalaia por causa dos fortes ventos… e está superduro repô-las. Além disso, já tivemos que voltar de um ataque ao cume por falta de roupas melhores; as nossas botas, que custam muuuuuito, também precisam de reposição urgente e assim vai. E nem tentamos ainda ir para o Paquistão, pois não temos grana para isso.
Sabemos que não escalamos com as condições ideais, mas, o que sabemos é que acabamos indo para a montanha muitas vezes mais do que aqueles que ficam esperando as condições ideais ou patrocínio para ir.
O pouco apoio que conseguimos, sempre valorizamos e muito. Já tivemos, em duas das nossas viagens, a passagem aérea e um ou outro equipamento pagos pelos nossos apoiadores e isso representou uma superajuda.
Nada contra – No fundo, não temos nada contra patrocínios, desde que eles nos dêem as condições para escalar mas que não nos digam como escalar. Também não ficamos paralisados por não termos conseguido patrocínio. Como já somos bem grandinhos, não acreditamos mais em Papai Noel. Até gostaríamos de ter ganho de presente de Natal um bom patrocínio para as nossas próximas viagens. Mas esquecemos de colocar as meias do lado de fora da janela… então o negócio é colocar os pés no chão e tratar de economizar para as próximas escaladas.
Este texto foi escrito por: Helena Coelho
Last modified: fevereiro 2, 2004