Odair e Marcello no rapel de 40 metros. (foto: Camila Christianini)
Lama, lama e muita lama. Foi assim a Caloi Adventure Camp, corrida de aventura que aconteceu no último final de semana na cidade de Natividade da Serra, há 160km de São Paulo.
O Circuito Adventure Camp é bastante conhecido por realizar provas pequenas, de curta duração. Normalmente as provas têm em torno de 50 quilômetros, com as modalidades orientação, trekking, canoagem e mountain bike e as equipes de ponta, ou seja, as profissionais, que utilizam o Aventure Camp como treino para as provas mais longas, completam o trecho em aproximadamente cinco horas.
Em Natividade da Serra, 110 equipes participaram da prova que contou pontos para o Circuito Brasileiro de Corrida de Aventura. E mais uma vez o Webventure esteve presente para relatar tudo o que sentiu na pele.
Superação…de novo! – Superação de limites é a expressão que resume o sentimento de um corredor de aventura em qualquer prova que seja. Disputar cada minuto é como estar em uma guerra. Você não sabe que horas vai terminar a batalha, mas sabe que tem que sair vivo dela (leia-se no melhor estado possível).
Pode parecer exagero, mas as dores, o cansaço e a fraqueza pegam mesmo durante a prova, durante cada passo que parece não ter mais fim. E o pior é que pagamos por isso. Pagamos para sofrer. Ouvir do organizador da prova o percurso terá x quilômetros é a mesma coisa que ouvir você irão sofrer durante x quilômetros.
A perna trava e não responde ao nosso comando. A sensação de impotência com o próprio corpo é terrível. A cabeça fala vai perna, vai, e nada. Ela dói, fica dura que nem uma pedra, você olha pra frente, vê uma subida imensa, quer ir mais rápido e nada. O pior é que no dia seguinte já dá vontade de correr de novo.
Desta vez a equipe Webventure foi formada por Camila Christianini (jornalista – eu!); Rodrigo Rizzo (triatleta e professor de natação); Marcello Censi (advogado e atleta de aventura nas horas vagas) e Odair Pereira (atleta profissional de mountain bike, atual vice-campeão brasileiro). Decidimos nos juntar e ver no que ia dar.
O que eu sei é que eu nunca tinha visto tanto lama na minha vida. Pra chegar de carro no Hotel Fazenda Santa Rita, sede da prova, já foi um sufoco. Na noite anterior à largada também choveu, então…imaginem só o que aconteceu.
A prova – Era muita, muita gente amontoada atrás do pórtico esperando a buzina de início da prova. A largada aconteceu às 9h no Hotel Fazenda Santa Rita. Os atletas das 110 equipes cada uma era formada por quatro! saíram correndo em direção ao morro da torre, onde estava o primeiro PC (posto de controle). O PC1 era virtual e deveríamos saber o modelo da bicicleta exposta, para responder no PC 2. No total eram 14 Pcs.
Após descermos o morro pegamos a bike e seguimos por um infinito trecho de lama. Foi um empurra bike sem fim. Nós, como todas as outras equipes, demoramos bastante nesse trecho, que exigiu muita força. Entre os PCs 3 e 4 optamos por margear um rio, e o espaço para passar era muito pequeno, praticamente uma valeta de terra e tinha até fila! O tênis não fixava na lama escorregadia, e mais parecia um sabão. Ali, o espírito de equipe contou bastante, pois um tinha que ajudar o outro a não escorregar e a empurrar a bike ao mesmo tempo.
Eu tinha a impressão de que de noite iria sonhar que estava empurrando uma bike na lama. Ninguém agüentava mais fazer a mesma coisa por quilômetros e quilômetros. Ficou muito cansativo, e a paciência outra modalidade que tem de ser colocada em prática numa corrida de aventura – foi bastante exigida.
E nessa de querer cortar caminho, passamos também no meio de um mangue, no qual atolávamos a perna até o joelho e atravessamos um rio fundo com bicicleta, mochila e tudo.
Entre os PCs 8 e 9 a equipe se dividia: dois faziam canoagem em duck, num trecho de seis quilômetros, enquanto os outros dois atravessavam um pedaço de rio nadando e continuavam no trekking, até encontrar com a outra dupla no PC.
Ao se encontrarem as duplas trocavam de posição, e quem havia remado deveria voltar de trekking e vice-e-versa. Eu e o Rodrigo começamos no trekking enquanto o Odair e o Marcello remavam. Mas na volta não tivemos muita sorte. Como eu e o Rodrigo nunca havíamos remado juntos demoramos a acertar o ritmo na remada, o que resultou em grande perda de tempo. Percorremos o trecho em 1h10, 20 minutos a mais do que o Marcello e o Odair que, inquietos e preocupados, esperavam por nós na margem do rio.
Juntos novamente, corremos até o PC 11, onde haveria um corte para as equipes que não conseguissem chegar ali até às 16h. Como tínhamos perdido tempo na canoagem, estávamos preocupados, mas conseguimos alcançar o PC11 minutos antes do corte, o que levantou nosso ânimo, pois sabíamos que, de qualquer forma, continuávamos a competir na categoria Expedição, a principal, onde está o pelotão de elite.
Perdidos no rapel – Após passarmos pela zona de corte, fomos em direção ao rapel. O mapa indicava uma bifurcação. Mas, no terreno, havia uma trifurcação. Ou seja, alguma trilha ali estava sobrando. Mas, qual delas? O mapa era de 1970…
Primeiro, fomos pela trilha à esquerda. Mas encontramos com outra equipe voltando, dizendo que também estavam procurando o PC do rapel e que não era por ali. Então, traçamos o azimute (ângulo entre o local que estamos e onde queremos ir, pelo mapa) e seguimos pela trilha do meio. Entramos no meio de uns eucaliptos e ficamos perdidos, sem saber para qual lado ir.
Perdemos um bom tempo tentando reencontrar a direção no meio do morro, e finalmente achamos o rapel. A descida foi feita numa ribanceira de 40 metros, com um visual lindo. Muitas árvores com flores lilás aliviavam o cansaço dos competidores que passavam por ali. Apenas dois atletas faziam o rapel, enquanto os outros dois seguiam por trekking. Novamente segui por trekking, que era muito técnico e tinha até algumas cordas para segurança.
Nos encontramos lá embaixo, pegamos as bikes e seguimos para o Hotel Fazenda Santa Rita, onde terminava a prova. Passamos umas três equipes pelo caminho e fomos recebidos com festa. Ganhamos até medalha em forma de bússola com a frase eu completei.
Motivação – Por ser nossa primeira corrida juntos até que nos saímos bem tirando o duck. Eram 110 equipes. No duck estávamos na 35a posição. Ao final dele, na 55a. Terminamos a prova na 42a colocação, felizes, pois das 110 equipes apenas 44 conseguiram fazer o percurso todo. Completamos a prova em 8h55min. (A equipe campeã, a Oskalunga, que é profissional e tem provas internacionais no currículo, fez em aproximadamente 5 horas).
Foi uma prova muito técnica. Mas com problemas no duck, um pneu furado e os quatro tombos de bicicleta que levei, o resultado até que foi bom. O mais importante em uma corrida de aventura é agüentar os obstáculos que a prova impõe e conseguir completar todo o trecho, sem desistir, por mais cansado que esteja, por mais dor que tenha. E isso nós conseguimos. Parabéns à equipe Webventure por terminar a prova na categoria Expedição!
Maiores informações e resultados da etapa podem ser encontrados no site www.adventurecamp.com.br.
Leia mais: O biker Odair Pereira, da equipe Scott, conta como foi participar dessa corrida de aventura.
Este texto foi escrito por: Camila Christianini
Last modified: março 8, 2004