Série Água Corpo e Voz. (foto: Fernanda Preto)
Na coluna deste mês, Fernanda Preto aborda uma nova maneira de se encarar a fotografia.
A “nova” visão, uma forma de falar sobre a mudança de status da fotografia, hoje mais mundana, no sentido em que se relaciona com o avanço dos dias, das idéias, do tempo e do próprio fotógrafo como intérprete.
Lendo um artigo em uma revista de fotografia contemporânea, esta era a questão, a fotografia que antes documentava situações cotidianas como eventos, e era encarada como registro, hoje está intimamente voltada a sua própria essência, ou seja, voltada para sua fluidez.
Em seu artigo, Asko Makela comenta sobre o relacionamento entre fotógrafo, fotografia, mundo e espectador. Ele diz que esta ligação é bastante forte e que, ao contrário do início da fotografia, quando era acreditado que a única verdade que esta poderia atingir é a do espectador, hoje a imagem mudou de objeto a um meio. A imagem está viva, ela negocia com o espectador, e o que foi pensado para ter um fim, continua.
Ferramenta para a realidade – A fotografia se tornou uma ferramenta importante para moldar a realidade. Segundo Makela, é através de fotografias que entendemos o que constitui nossa visão de mundo, poder, identidade e opinião. Na fotografia atual, o motivo onipresente é o espaço metafórico para um estado mental, por esta razão situações e lugares comuns estão sendo temas de ensaios fotográficos.
Do documental como registro para a interpretação pura e íntima, a nova fotografia comunica a distância existente mesmo em um momento de multidão, busca o impermanente. Os trabalhos de fotografia contemporâneos falam na narrativa curta, dividem a intimidade, o fotógrafo explora seu tema de perto, o vivencia… As pessoas fotografadas estão cientes da presença do fotógrafo, mas continuam concentradas em seus sentimentos…
Influências – Segundo Makela, mesmo o fotojornalismo de hoje foi transformado, recebendo influências da fotografia artística, tendo oportunidade de colocar mais imaginação nas imagens do cotidiano. A fotografia contemporânea revela um mundo mais pessoal e íntimo.
Neste mês, escrevi um pouco sobre esta busca pela imagem de pura expressão da nossa percepção, pois percebo está busca nos trabalhos mais atuais. Espero ter deixado uma questão para refletir!
(*) Artigo publicado na revista ArtPhoto (www.artphoto.ro)
No trabalho Água, Corpo e Voz (foto na página anterior), o elemento água entra como um elemento transitório. Como os seres humanos: tem princípio, meio e fim. A água é um ser em vertigem profunda, sonhadora, lenta e calma… Dá à vida um impulso inesgotável… (Gaston Bachelard.
Todo este trabalho é voltado para a busca do eu, das origens esquecidas, é uma busca constante da percepção muitas vezes deixada de lado em razão de caminhos escolhidos. Uma tentativa de sincronizar mente e olhar, é o interpretar consciente através da experiência vivida.
Este texto foi escrito por: Fernanda Preto
Last modified: março 16, 2004