Karol em treino na pedreira no Salto de Pirapora em São Paulo. (foto: Divulgação.)
Karol Meyer é o que se pode chamar de sereia da cidade grande. Loira, cabelos compridos, olhos claros e rosto angelical, esta libriana de 34 anos divide seu trabalho entre o atendimento numa agência da Caixa Econômica Federal em Florianópolis, onde mora, e os treinos de uma supercampeã de apnéia.
Para quem não sabe, apnéia é quando a pessoa prende a respiração e fica embaixo da água com o ar preso nos pulmões. Parece coisa de criança, mas é aí que muita gente se engana: A apnéia é praticada por surfistas, nadadores e mergulhadores, para manter um fôlego maior quando estão na água. No caso do surfe para segurar o ar quando caem da prancha, e no caso dos mergulhadores para praticar mergulho livre.
Karol, que é tricampeã mundial na modalidade, ganhou novamente o título de Campeã Brasileira de Apnéia Estática no último campeonato realizado em março de 2004, ao atingir a marca de 5 minutos e 55 segundos.
A reportagem propõe a você um desafio: prenda a respiração e comece a contar os segundos… um, dois, três, vinte, trinta! Tente ficar sem respirar durante um minuto para ver o que acontece… Calma, é brincadeira! Não é nada fácil. Isto é só para mostrar que a apnéia exige muito treinamento e determinação. O Webventure conversou com Karol Meyer para saber qual o segredo de seu sucesso, seus gostos e sobre o esporte:
Webventure – O que leva uma pessoa a ficar debaixo da água sem respirar por vários minutos?
Karol Meyer – Primeiro a pessoa tem que gostar de estar em contato com a água e querer superar este desafio. Qualquer esporte é assim. Às vezes, passa pela minha cabeça o que eu estou fazendo aqui?, passa mesmo (risos). É um desafio a ser superado, como por exemplo, o Morro da Lagoa, que cada vez que eu vou pedalar lá quero subir melhor.
Webventure – Existe preconceito em relação aos praticantes de apnéia?
Karol Meyer – As pessoas acham que a apnéia é muito perigosa, porque confundem mergulho livre com a pesca submarina. Na pesca ocorrem muitos acidentes e dizem que eles ocorreram durante a apnéia. Isto é um problema muito sério. Foi realmente tentando fazer apnéia, mas para fazer outra coisa, não só o mergulho livre. Existe uma confusão muito grande com isso.
Webventure – A apnéia tem futuro no Brasil?
Karol Meyer – É um esporte que muita gente gosta, não só para competição, mas porque tem muita gente que adora a água, principalmente os praticantes de pesca submarina e natação.
Webventure – Como você concilia seu trabalho no banco com os treinamentos?
Karol Meyer – Das 9h às 17h estou direto na agência. De manhã, antes de ir trabalhar faço yoga e de noite vou fazer meus treinamentos, que no inicio é mais trabalho físico e menos apnéia, e vou mudando isso gradativamente até ficar só dentro da água. Intensifico meus treinamentos um mês antes dos campeonatos.
Webventure – Se você fosse um bicho, qual seria? Algum do fundo do mar?
Karol Meyer – Eu gosto muito da raia (risos). Sou lenta como ela na hora de fazer os movimentos dentro da água, e dou umas paradas. Mas não sou assim no meu dia-a-dia.
Webventure – O que você sente enquanto está em apnéia debaixo da água?
Karol Meyer – Tem atleta que é mais sinestésico, sente o toque, e vai se envolver mais na temperatura da água. Quem gosta da visão vai abrir os olhos e distrair. E quem é mais sensível na audição vai escutar música. Quando eu vou para o campeonato coloco a música que gosto. Um atleta do Uruguai me disse como você pode gostar desse tipo de música?. Ele gostava de música rápida e eu sempre coloco U2 (banda irlandesa de rock) bem alto!
Webventure – Que recado você deixa para as pessoas que não entendem as sensações da apnéa?
Karol Meyer – A apnéia é pra quem quer sempre melhorar, quebrar sua própria marca. É o estímulo que tenho para treinar todos os dias: melhorar sempre.
Este texto foi escrito por: Camila Christianini
Last modified: abril 16, 2004