Acampamento (foto: Fernanda Preto)
Nesta coluna, a fotógrafa Fernanda Preto conta a experiência de participar da expedição comercial ao rio Tijucas, uma aventura no coração de canyon, um novo pólo de ecoturismo em Santa Catarina.
Com um visual de tirar o fôlego, o canyon do rio Tijucas nos envolve em seu ambiente selvagem de Mata Atlântica e corredeiras surpreendentes e nos convida a uma aventura dentro da natureza intocada e preservada! Enquanto todos se preparavam para esta aventura no canyon, eu pensava sobre a imersão do ser humano em ambientes outdoors, o que aprendemos com a natureza e o que nos leva a desafiá-la?
Desde quando comecei a fotografar ambientes naturais, esportes de aventura sempre busquei a sabedoria que existe em cada momento de inserção na natureza, de contemplação pessoal ou de pura adrenalina que encontramos a cada obstáculo difícil, seja na concentração da escalada, ou na euforia das águas. Entrar no canyon Tijucas estava se tornando um grande desafio.
Nossa expedição começou na região de Rancho Queimado, e separamos todo equipamento necessário e conversamos sobre as expectativas de cada um. Uma vez prontos, seguimos a serra durante uma hora e meia em direção ao município de Angelina até a última casa do bairro de Garcia. O clima estava perfeito, céu azul e um certo frio, mas isto nos dava certeza de que não vinha chuva!
Tudo pronto – Todos checaram seus materiais, roupas de neoprene, capacete, colete e eu conferindo todo o equipamento fotográfico, onde colocaria o equipamento de forma que facilitasse na hora de fotografar. Levei um tambor plástico estanque onde foi todo o equipo bem compactado e a tiracolo levei uma Nikonos V que é a prova dágua.
Ao todo no bote eram 130 quilos de equipamento com itens necessários para nossa segurança durante a expedição. Desde sacos estanques para garantir tudo sequinho, até um sanitário portátil para o acampamento para que não deixemos nenhum rastro de nossa presença, somente boas lembranças e claro, boas imagens!
O objetivo da expedição era percorrer em dois dias 25km de muitas corredeiras que passam entre pedras e lages, intercalados por pequenos poços. A cada corredeira enfrentada era uma barreira ultrapassada, cada uma com sua forma e sua dificuldade, entre classes II e III, mas também de classe IV, todas muito técnicas e de grande impacto emocional. Durante a descida, o trabalho em equipe é de extrema importância, pois as corredeiras ficam cada vez mais fortes, nos forçando algumas vezes a fazer a portagem para descer o bote pela corda.
Passamos por alguns lugares maravilhosos como o Salto do Leo, classe IV, o Desfiladeiro que é uma corredeira em S, até chegarmos na cachoeira Caldo da Cobra, são duas quedas dágua que terminam em um canyon cercado por paredões rochosos. Neste trecho, a descida pelo rio é impossível e toda equipe começa a portagem.
Depois da aventura que foi a portagem e também de um lanche reforçado continuamos por mais uma hora e no começo da noite chegamos ao tão esperado acampamento, no topo da Grota Funda ou Passo do Fitzgaraldo, uma cachoeira de 12 metros, imponente. O visual impressiona, pois podemos ver o desfiladeiro abaixo com corredeiras de classe VI por mais 300m.
Depois de um lindo dia descendo o canyon é hora de descansar, mas antes montar as barracas, buscar água, tirar os equipamentos, e colocar uma roupa bem quentinha. O jantar estava ótimo! Nosso acampamento foi em uma pequena plataforma dentro da mata, perto de um paredão que dá acesso ao canyon.
Outro dia – Logo de manhã, após o café começamos a arrumar tudo e mais uma portagem começa de todo equipamento pela trilha dentro da mata por uns 150m, inclusive os botes para uma plataforma que dá acesso ao canyon. Desta vez os botes serão lançados com cordas para atravessar o último refluxo. Isto mesmo lançados, com tudo dentro! Inclusive o equipamento fotográfico, pois agora seguiremos uma trilha até o início do rapel num paredão de 30 metros, terminando dentro dágua.
No primeiro momento fiquei meio assustada, pois a correnteza estava forte, mas logo passou… Fui a primeira a descer, pois precisava chegar no bote que já tinha sido lançado para poder fotografar os outros na descida do rapel.
E aí… chegamos no coração do canyon!!!
Todo o visual imponente estava acima de nosso olhar, e embaixo, um trecho calmo cercado por paredões. Uma grande sensação de desafio cumprido veio à tona, mas ainda tínhamos algumas corredeiras bem técnicas pela frente. Agora os eucaliptos tomam conta da paisagem e aos poucos vai substituindo a mata virgem completamente selvagem. Chegamos!
E mais uma vez a magia da natureza tomou conta de mim mostrando todo seu saber e me ensinando nos pequenos detalhes que é preciso ter coragem e acreditar!
Até a próxima aventura!
Confiram a matéria na Revista Adventure deste mês. Agradeço a Ativa Rafting pelo apoio e carinho! E a Ana Paula Brasil pela oportunidade.
Este texto foi escrito por: Fernanda Preto
Last modified: junho 10, 2004