Queda da cachoeira da usina. (foto: Arquivo pessoal.)
Outrora, aquela assustadora e misteriosa muralha verde fora um obstáculo. Hoje, a grande Serra do Mar da baía de Paraty, oferece tesouros e belezas para todos os gostos da aventura.
A sensação retarda o tempo e obriga-nos a viver. Inconscientemente, refletia sobre esta frase dirigindo a memória aos confortáveis e bem vividos dias em Paraty. Não me refiro às suas belas ilhas ou ao nostálgico conjunto arquitetônico existente por lá. Estou falando de um lado mais aventureiro que a histórica cidade portuária e seu município nos convida a conhecer.
Além de ter vivido boa parte dos meus 30 anos na região, tive a oportunidade de conhecer mais um pouco das ofertas naturais de Paraty. E posso garantir, tem para todos os gostos. Comecei esta viagem em grande estilo e pela porta da frente, pois, optei descer para o Atlântico pela antiga, esquecida e, principalmente, bela estrada Cunha x Paraty. Seria difícil explicar os inúmeros adjetivos e o aparente exagero, mas, tal rota proporciona um intenso contato com a natureza. Basta dizer que, despencando por entre as encostas da Mata Atlântica, é uma das raras estradas ainda não pavimentadas que cruzam a Serra do Mar.
Antes de iniciar a descida, alguns quilômetros após a pitoresca cidadezinha de Cunha, aproveitei para dar uma parada em uma cachoeira na estrada e pensar na vida. Observava a natureza tentando imaginar quantas emoções estavam reservadas para mim naquela semana, esboçando em planos o que pretendia curtir e praticar em meio à natureza.
Com muito cuidado vencia os 12 km de estrada de chão, pois são bem acidentados e com inúmeras pedras. No entanto, desfrutava novamente da oportunidade de descer sozinho para o Atlântico, avistando pelo caminho muito verde, cachoeiras e mirantes da baía de Paraty.
Ao chegar à antiga vila colonial, acomodei-me e procurei me informar das minhas intenções. A conversa com o amigo Sérgio, da Pousada das Canoas, me animou ao falarmos um pouco sobre algumas das cachoeiras existentes por lá, como a Iririguaçu, Pedra Branca, Tobogã, Poço das Lages, Andorinhas, Poço dos Meros, Curupira, Bananal e Usina, ou Taquari.
Inicialmente, fui ao encontro da Âprimeira Paraty, ou melhor, da histórica Parati-mirim, vilarejo fundado muito antes da famosa cidade de Paraty. Pretendia remar no rio dos Meros, utilizando um caiaque inflável (duck), percorrendo suas águas da ponte na BR 101 até o mar, passando pelo mangue Maria Caetana, Saco da Velha, Enseada de Itatinga, Ilha da Cotia e, finalmente, chegando à enseada da praia de Parati-mirim. Embora eu tivesse alguma experiência com remo, estava apreensivo, pois iria estar só e não possuo um bom preparo físico.
Após mais informações, verifiquei meu equipamento e entrei no rio. Ao final, os aproximados 12 km foram percorridos facilmente e, felizmente, com previsíveis doses de emoção. Eu estava certo, a minha desprendida e prazerosa atividade desportiva em meio ao belo lugar, longe dos rumores da moda e momento, me proporcionou mais uma daquelas aulinhas práticas da mãe natureza, que não implicam dólares, resorts, ou qualquer outra coisa.
Se não fosse por alguns moradores locais em suas pequenas canoas e casas escondidas por entre a mata, ninguém cruzaria aquelas águas. Quanto aos poucos anfitriões que avistava, cumprimentava-os gentilmente como se pedisse licença. O silêncio pairava enquanto eu remava pelas calmas águas da enseada.
Durante o trajeto, ultrapassava curvas e pontas de pedras, passando por diferentes ambientes compostos por manguezais, Mata Atlântica e praias. Enfim, depois de mais uma ponta de pedra contornada, avistei a vila de Parati-mirim ao fim do dia. Bastante satisfeito, dei minhas últimas remadas ainda emocionado pelos instantes de profunda admiração e paz conquistados de forma simples.
Em um outro dia, acompanhado de minha namorada Juliana, repetimos a dose, desta vez, em caiaques de fibra. Um rápido e divertido passeio pelo mangue do Rio Perequê e já foi o suficiente para mais uma terapia. Avistarmos alguns pássaros durante o passeio, incluindo dois gaviões que se aproximavam e exibiam-se, aumentando a minha boa inveja e impotência.
Ao olhar a carta topográfica ou uma simples foto de satélite do município, percebe-se que rios não faltam como boas opções para o remo. Seja qual for o curso dágua escolhido, curta, mas informe-se e, se possível, obtenha uma carta local.
Falando em rios, nos dirigimos ao Mambucaba, mais precisamente ao ponto final da clássica e antiga Trilha do Ouro da Serra da Bocaina. Tal rota, antes clandestina, teve seus saqueadores e tropeiros substituídos pelos contemporâneos aventureiros e apaixonados por natureza. É isso mesmo, ao terminar a famosa travessia, o felizardo poderá desfrutar também de um raffting bem divertido.
Imagine um rio com margens preservadas, muita mata atlântica, árvores retorcidas com dezenas de anos, corredeiras nível III em águas cristalinas e, como pano de fundo, a imponente serra do mar. Pois é, foi o que aconteceu. Fiquei imaginando enquanto fotografava e assistia aquelas carinhas felizes passando e se divertindo. Pacientemente, o grupo, que era formado pelo guia Márcio, outra guia e mais dois irmãos, esperavam o melhor momento para eu fotografá-los. O meu muito obrigado a todos eles.
Caminhadas – E se o assunto é simplesmente caminhar, opções é o que não faltam. Para os mais afoitos, sugiro travessias e caminhadas como a Ponta da Juatinga, Parati-mirim ao Saco do Mamanguá, Pedra da Macela ao Rio Graúna, as Trilhas do Ouro de Paraty e da Bocaina, dentre outras. Agora, para as curtas caminhadas, não deixe de visitar a bela e extensa cachoeira da Usina, beleza à parte da mãe natureza. Márcio, responsável pela Ilha do Breu, levou-me àquela maravilha natural, como se revelasse um segredo a alguém.
Ao lado do rio Taquari na Rio Santos, após um quilômetro em uma estrada de terra, seguimos por uma trilha com aproximadamente 800 m. Durante o curto trajeto, é importante tomar cuidado para não pisar e danificar os canos plásticos que conduzem o precioso líquido para os moradores da estrada. Encontramos a magnífica queda junto às ruínas de um pequeno engenho coberto de limo e raízes. Durante a trilha, infelizmente, deparamo-nos com uma cruel derrubada de árvores, que formavam uma grande clareira. Por instantes, enquanto passava e pulava os grandes troncos, senti-me pequeno e triste.
Ao chegarmos à cachoeira, notei o quanto tínhamos subido quando avistei o oceano. Suas águas caem formosamente por uns 10 metros iniciais, ao lado de uma imensa parede de granito coberta com finos verdes musgos. Em seguida, escorrem espumando-se por 60 a 80 metros em uma extensa rampa rochosa.
Tomando-se muito cuidado, pode-se descer e caminhar ao lado das águas devido a leve inclinação das pedras. Surgem diversos ângulos e quedas a partir dali. Depois de um banho, as águas frias daquelas pequenas piscinas recobraram-me as energias. Enfim, parti daquele lugar sentindo o gostinho de quero mais, mas essa é uma outra história.
Marco (Kiko) Bortolusso escreveu especialmente para o Webventure. É assessor de Imprensa da FEMESP – Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo e da Photoverde Produções. Ae atua também como guia de ecoturismo para algumas agências de São Paulo. É membro do CEG – Centro Excursionista Gravatá, grupo que atua em projetos exploratórios sócio-ambientais, é guia de ecoturismo para algumas das principais agências de São Paulo e membro do grupo Amigo Curtlo. Patrocinaram esta viagem: Curtlo e Canoar.
E para os amantes da companheira magrela e metálica, existem diversas trilhas e estradas para se pedalar. A já apresentada Cunha x Paraty, os belos 43 km que ligam a Vila Histórica de Mambucaba à Paraty, pela Rio Santos, além das inúmeras estradinhas nos povoados e limites da Serra da Bocaina. É só escolher, amarrar a danada no carro e aventurar-se!
Mas como nem tudo é belo, igualmente à clareira criminosa mencionada anteriormente, as questões ambientais na região não me agradaram muito. Apesar dos títulos naturais concebidos à região, aparentemente, muito se encontra esquecido e abandonado. Percebi também que antigas construções e ruínas de relevante importância, como às de Parati-mirim, estavam completamente abandonadas. Além disso, mansões já ocupam as poucas praias destes sacos, dificultando ainda mais qualquer ação de preservação pública, ecoturismo e restauração patrimonial.
Em contrapartida, acompanhando a nova vertente dos cidadãos que não esperam mais e fazem a sua parte, o Biólogo Paulo Nogara, residente e defensor do magnífico Saco do Mamanguá, mostra que é possível preservar. Juntamente com a população local e o apoio de algumas importantes mídias, conseguiu embargar uma incoerente obra dentro da APA do Cairuçu.
Uma estrada que liga um condomínio de classe média ao Saco, para mais uma marina particular. Não, não é legal, pois a paz e as águas limpas iriam acabar, com o barulho e cheiro do óleo. Este fora o comentário de um dos barqueiros que nasceu no local. A propósito, as opiniões locais a respeito pareciam unânimes.
Enfim, caros internautas, este é o lado de Paraty que falei. Muitas trilhas, cachoeiras e rios favoráveis à prática de atividades ao ar livre, como remo, pedal, caminhadas e até um rafting. Ah, já estava me esquecendo dos casarios e belas ilhas de Paraty. Que injustiça… são realmente maravilhosos! Mas, esta é uma outra história… Um forte abraço e boas aventuras PARATodos vocês !
Como Chegar
Onde Ficar
Onde Comer
Guias e o que Fazer
Guias e roteiros para o Saco do Mamanguá: Paulo Nogara (24) 3371 1951 ou (11) 9629 6355
Informações na Secretaria de Turismo de Paraty: (024) 3371 1222
Keaulana Esportes de Aventura: (24) 3362 2300 – O grupo opera o Rafting no rio Mambucaba, dentre outras atividades.
Este texto foi escrito por: Marco (Kiko) Bortolusso
Last modified: junho 10, 2004