Vitor Negrete e Guilherme Totó debaixo de uma nevasca (foto: Rodrigo Raineri)
Após a primeira tentativa de ataque ao cume do Everest, os montanhistas Vitor Negrete e Rodrigo Raineri decidiram abortar a investida por causa das más condições climáticas. A dupla afirma que foi uma decisão muito difícil, vinda de horas de discussões e baseada em dados meteorológicos enviados de vários lugares do mundo.
A Expedição Everest sem Oxigênio desceu para a altitude de 4.100 metros na face norte da montanha, para a cidade de Xegar, no Tibete. Vitor Negrete ligou para a redação do Webventure no começo da tarde desta segunda-feira, passou o boletim diário da expedição e concedeu a entrevista que você lê a srguir.
Nela o montanhista conta que a decisão de subir até o acampamento dois veio principalmente dos companheiros Rodrigo Raineri e Guilherme Setani, o Totó. Afirma ainda que ele e Raineri estão muito fortes para a escalada, que o processo de aclimatação vem dando certo até agora. O montanhista diz ainda estar confiante para a próxima investida da expedição para o topo da montanha mais alta do mundo, que deve acontecer no início de junho. Acompanhe:
Você parecia não estar muito animado com a decisão de ter descido. Você queria ir além?
Vitor Negrete – Pelo contrário. O Rodrigo e o Totó [Guilherme Setani], tinham uma previsão de subida e eu é que não acreditava que o dia seria tão bom. Nós decidomos, então, subir até o acampamento dois para decidir lá e quando chegamos lá de manhã, que seria a manhã que nós iríamos para o três, no mesmo dia do ataque ao cume, nós falamos com o Tomás Gridi Papp da barraca, a 7.530 metros e junto com ele e avaliando também as últimas informações do Totó nós decidimos descer. Os votos para ir para o acampamento dois foram do Rodrigo e do Totó e eu não acreditava que essa subida seria a nossa subida para o cume. Mas no fim eu estou muito feliz que a gente subiu, porque a gente passou da linha que muitos autores consideram ser a linha da morte, dos 7.500 metros e a gente dormiu uma noite a essa altitude e passamos muito bem. Dormimos bem, acordamos bem e acho que essa subida foi muito importante para a nossa aclimatação para o próximo ataque.
Como ficou seu corpo e sua respiração a 7.500 metros?
Vitor Negrete – É surpreendente, porque a gente está se sentindo muito bem. Acho que toda a estutura que fizemos para aclimatação foi muito boa. A gente fez primeiro uma subida até 7.100, que foi nossa primeira etapa de aclimatação e descemos até uma cidade a 4.100 chamada Tingri. Depois nós subimos e dormimos uma noite a 7.100, que é o colo norte, e na manhã seguinte nós caminhamos e escalamos até 7.400. Depois fizemos uma nova descida até o ABC [acampamento base avançado], ficamos no Mosteiro de Rongbuk, e agora na nossa terceira investida a gente dormiu a 7.530. Então acho que pela nossa aclimatação prévia, feita por subidas e descidas para cidades e lugares baixos em relação à altura que a gente estava, ficamos muito fortes. Essa noite foi muito boa, muito tranqüila, e surpreendente, porque nossa experiência anterior era do Aconcágua e estamos muito acima do que seria o cume do Aconcágua, e dormindo. Estamos nos sentido muito bem.
Como vocês estão de peso, emagreceram muito? Como está a alimentação?
Vitor Negrete – Cada um está tendo uma taxa de emagrecimento diferente. O Totó talvez seja o que está emagrecendo mais. O Rodrigo e eu não emagrecemos tanto. Não sou nutricionista, nem médico, mas acho que por colocarmos no nosso corpo esse tipo de estresse, o nosso corpo acaba perdendo menos peso nessa situação. Em especial pelas corridas de aventura que a gente corre, onde o corpo tem que lutar para não perder peso, talvez o nosso corpo já esteja acostumado. Além disso nos esforçamos para comer o máximo possível para não perder peso. Até agora estamos muito bem.
Como será feita a próxima subida de vocês?
Vitor Negrete – Agora estamos descansando, a gente tem informações que até o final do mês não vão existir dias bons para o ataque ao cume. Então a gente veio descansar, mas já vamos começar a subir, com uma margem de segurança para não perdermos a janela e vamos ficar preparados nos acampamentos, sempre em contato com o Tomás Papp, que está recebendo assessoria do Romão, lá do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para decidirmos, então, qual é o melhor momento para começarmos a subir. Acreditamos que vai ser no começo do mês que vem.
Pelo que vocês conversaram com os outros montanhistas no Everest, essa é uma temporada atípica?
Vitor Negrete – As informações que a gente teve, de um amigo nosso, o Pepe, do Equador, é que a monção atrasou por volta de quinze dias. Ela foi confundida com uma seqüência de nuvens que passou pela Índia. O que acontece é que esse ano a monção está atrasada. Esses ataques ao cume que estão acontecendo agora, na verdade, não são em uma janela, pelo menos não uma janela de clima que foi gerada pelo equilíbrio da monção com outros ventos. Esses cumes estão acontecendo em dias com um clima melhor, mas ainda não é o clima ideal para ser feito o ataque ao cume que seria em três até sete dias estáveis.
Como está a sua ansiedade?
Vitor Negrete – Normalmente eu não sinto muita ansiedade, estou muito tranqüilo. Nós estamos muito fortes e isso dá uma tranqüilidade muito grande. Estamos com uma estrutura muito boa, a Try On tem dado um apoio irrestrito para nós com essa prorrogação. Tem nos apoiado inclusive financeiramente. Então estamos muito tranqüilos e isso diminui muito a ansiedade. Também acreditamos que nós podemos chegar ao cume na próxima janela.
Quem está com você agora?
Vitor Negrete – O Clayton [Conservani, repórter da Globo] ficou no acampamento base avançado, a 6.400 metros para cobrir as histórias que estão se desenrolando nesse momento, nas tentativas de ataque ao cume. E o Rodrigo [Raineri], eu e o Totó viemos para Xegar, aqui no Tibete.
Este texto foi escrito por: Cristina Degani
Last modified: maio 23, 2005