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Pilotos e organização falam sobre o boicote das motos no Rally Terra Brasil

Redação Webventure/ Offroad

Dionísio Malheiro:  rali de carro e moto têm que ser separado (foto: Douglass Fagundes/ www.webventure.com.br)
Dionísio Malheiro: rali de carro e moto têm que ser separado (foto: Douglass Fagundes/ www.webventure.com.br)

No pódio do Rally Terra Brasil 2005, apenas carros e caminhões receberam troféus. As motos, responsáveis pelo início das grandes provas de rali no país, decidiram abandonar a prova logo na primeira etapa, entre Belo Horizonte e Diamantina.

No final da segunda especial do dia, os pilotos alegaram que “a pessoa responsável pela cronometragem não estava no local para pegar os tempos de cada moto e que encontraram veículos locais na trilha que deveria ser fechada pela organização”.

O Webventure, que faz a cobertura de todas as etapas do Campeonato Brasileiro de Rali Cross-country, foi ouvir os dois lados da polêmica para que o internauta entendesse melhor o que aconteceu no fim de semana passado.

“Os últimos nove quilômetros da especial estavam totalmente abertos, encontrei um caminhão andando na contra-mão. O local parecia uma estrada estadual, com trechos de asfalto”, disse Jean Azevedo, o segundo a entrar na trilha, atrás apenas de Dimas Mattos.

“Era em uma estrada mais aberta, com uma trilha mais veloz. Chegávamos a 130km/h com facilidade, com curvas de média velocidade, que dava para fazer a 90, 100 por hora”, explicou o veterano Mattos. “Saber que o trecho estava aberto causou uma preocupação gigante e até um certo aborrecimento quanto ao risco que eu corri naquele momento, naqueles nove quilômetros que vim fazendo as curvas tangenciando, beirando os barrancos e o risco foi muito”, completou.

Alto risco – “Corremos um risco grande. Peguei um caminhão de areia no trecho, no mesmo sentido, mas tive que ultrapassar”, contou Fabrizio Marchesi. “Esperamos todos os pilotos chegarem, fizemos uma reunião e infelizmente tivemos que tomar a decisão de desistir da prova para ver se muda alguma coisa, fizemos esse protesto”, afirmou.

“Sempre esse tipo de problema acontece com a categoria motos por ser a primeira a largar. Na hora que não tiver mais moto largando, isso vai acontecer com os carros. Talvez agora eles tomem mais cuidado e aumentem a segurança para os pilotos porque é muito arriscado correr contra o relógio com trechos abertos”, reclama Azevedo.

Os pilotos afirmam que a decisão de desistir da prova foi muito difícil. Depois do Sertões, o Terra Brasil é a única prova do Campeonato Brasileiro que conta como peso dois para a classificação. Por ser próxima do Sertões, muitos deles a fazem de treino e preparação para o maior rali nacional.

“Na verdade, tenho certeza que todos os pilotos que estavam ali e abandonaram a prova não saíram felizes. Era um prova importante no campeonato, hora de testar o equipamento e treinar navegação. Todos queriam correr, ninguém queria ir embora.”, lamentou Jean.

“O Dionísio [Malheiro, organizador da Copa Baja], junto com o pessoal que ajuda ele, tem o dom de achar lugares maravilhosos. Saí de Diamantina com dor no coração, porque a planilha era perfeita, os lugares eram fantásticos. Só que a segurança que vem em primeiro lugar e infelizmente nós saímos de lá”, contou Mattos.

“Rali é um esporte que tem um certo risco, mas é calculado. Cada piloto decide o ritmo que quer andar, mais segurança que quer ter. Você define o risco que quer correr. Quando é uma especial aberta, o risco para a ser totalmente inconsciente, a gente não sabia do risco que estávamos correndo naquele momento”, completou o veterano.

Collet ficou – O nível técnico da prova agradou tanto que mesmo com o boicote, Carlo Collet continuou fazendo as especiais, sem competir, apenas para treinar. “Tinha que fazer o deslocamento de qualquer jeito, então fiz pelas especiais, uma hora depois de largar o último caminhão”, explicou.

Dionísio Malheiro é organizador da Copa Baja, participa e organiza ralis há quinze anos e é um dos responsáveis por provas como o Rally do São Francisco, que originou o Sertões anos depois, e pelo Rally dos Incas.

A redação do Webventure conversou com ele para esclarecer as reclamações dos pilotos de moto. As respostas estão na entrevista a seguir.

Webventure – Como você avalia a edição 2005 do Rally Terra Brasil?
Dionísio Malheiro – Essa prova foi um roteiro que eu fiz dos 15 anos de rali que eu tenho no Brasil. Foi onde passou os primeiros Sertões e Bajas, então é uma região que eu conheço muito, consegui tirar muito dela. Acho que foi uma prova bem difícil, muito boa em alguns aspectos, muito ruim em outros. Mas no frigir dos ovos fizemos nove das dez etapas cronometradas previstas, com índice técnico muito bom para os carros. Infelizmente aconteceu um incidente com as motos e eles resolveram tomar uma atitude deles. Eu respeito essa atitude.

Webventure – Que explicação você deu para o motivo do boicote das motos?
Dionísio – É inadmissível que se contrate uma empresa que garanta para os pilotos que o cronometrista estará lá e não estava. Ele abandonou o trecho porque fez uma avaliação errada, que era melhor ele fechar a primeira especial e não a segunda, não avisou ninguém da organização. Tinham mais de 40 pessoas tomando conta do trecho, e ele simplesmente foi embora sem avisar ninguém. Normalmente essa parte não é terceirizada, mas nessa prova foi. Geralmente nós que fazemos, e se for pegar os últimos 10 Bajas, não tivemos esse tipo de problema. Não vamos mais trabalhar com essa empresa.

Webventure – Quais medidas serão tomadas nas próximas provas?
Dionísio – Acho que rali de carro e moto têm que ser separado, não podem correr juntos. As motos hoje não têm mais o briefing. São uma categoria pequena, elitista e que não tem a devida importância que merece. A estrutura e os patrocinadores de carro são muito mais fortes. Nós já tínhamos pensado em fazer um dia para cada categoria e vamos fazer isso no segundo semestre. Para o próximo Baja [Balneário Camburiú, dias 18 e 19 de junho] a participação das motos ainda não está confirmada.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: junho 3, 2005

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