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Diário de Porto 38 – O Efeito Elástico

Redação Webventure/ Vela

ABN AMRO VO 60 se afiando (foto: Divulgação Team ABN Amro)
ABN AMRO VO 60 se afiando (foto: Divulgação Team ABN Amro)

Como vocês estão podendo acompanhar agora, durante Route de l’Equateur as diferenças entre os barcos, como em qualquer competição de longo curso, depende de diversos fatores. Os mais fáceis de serem entendidos, claro, são o tipo de barco, seu tamanho, a área total das velas, as correntes, as marés e o trabalho da tripulação.

Existe também o componente meteorológico onde as opções se multiplicam infinitamente já que influem diretamente na qualidade, direção e intensidade dos ventos. Ventos que são o capital maior dos barcos a vela. Um capital sorrateiro, fugidio, impossível de guardar em estoque ou de imobilizar.

Onde – Na saída do Mediterrâneo, passagem pelo estreito de Gibraltar e entrada do Atlântico os barcos na Route de l’Equateur passaram por um “Efeito Sanfona” com os barcos da frente abrindo grandes distâncias (ainda no Mediterrâneo) para depois serem alcançados (antes da entrada no estreito de Gibraltar) e logo em seguida (na entrada do Atlântico) abrirem uma margem considerável outra vez. Tudo em função dos diferentes sistemas meteorológicos que cada um dos barcos, um após o outro, enfrentou em momentos diferentes.

Na prática – O ABN AMRO VO 60 no início da descida do Atlântico abriu uma bela distância. Depois de ter passado o Arquipélago das Canárias, porém, foi penalizado com a falta quase total de vento, foi de muito devagar até quase parado na altura do famoso Cabo Bojador. Com uma boa conversa em francês do Skipper Seb Josse se livrou ainda de sofrer uma inspeção oficial de um barco da guarda costeira marroquina e saiu de novo em busca do próximo marco, o Arquipélago de Cabo Verde.

Atrás dele os outros barcos descontaram muito, mas depois de passarem pelas mesmas provações a distância nesta 3ª feira de manhã já nas costas da Mauritânia, voltou a ser o que era, de mais de 100 milhas.

Para entender melhor vamos fazer uma analogia e imaginar que à frente na rota existe um uma zona sem ventos: um sinal de trânsito fechado, por exemplo. Os primeiros barcos, assim como os primeiros carros no trânsito das cidades vão parar forçosamente. Os veículos que vêm logo atrás começam a diminuir e os que vão mais atrás continuam em suas velocidades normais.

Assim que o sinal fica verde (ou o vento retorna e os barcos se livrem desse “buraco” de vento fraco), os veículos das primeiras filas são os primeiros a acelerar, enquanto ao mesmo tempo os que estavam parando ainda estão parados e os que vinham em velocidade normal estão desacelerando.

De volta para o passado – Os veículos da frente vão, portanto voltar, teoricamente, a abrir de novo a mesma vantagem que tinham exatamente como os barcos vão retomar as distâncias que mantinham anteriormente.

Existem ainda as condições que podem trazer vantagens para diferentes veículos (ou barcos) se tiverem sorte de não pararem totalmente no sinal (ou se pegarem uma “onda de tempo favorável”).

Por esses motivos é que o navegador é um tripulante tão importante a bordo em uma prova como a da Volvo Ocean Race. Pois é exatamente ele que, conhecendo a localização e o horário dos “sinais de trânsito do vento” vai evitá-los ou fazê-los trabalhar a seu favor. Em resumo fazendo mais do que o possível para manter um pacto com o vento.

Este texto foi escrito por: Carlos Lua, correspondente do TEAM ABN AMRO

Last modified: junho 13, 2005

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