Foto: Pixabay

Poeira, adrenalina e suor: Sertões 2005

Redação Webventure/ Offroad

Belas paisagens sempre marcam a prova (foto: Daniel Costa/ www.webventure.com.br)
Belas paisagens sempre marcam a prova (foto: Daniel Costa/ www.webventure.com.br)

Em um rali longo não basta apenas acelerar e navegar perfeitamente. É preciso estratégia. Quem não se convenceu disso ficou na metade do Sertões 2005. Em dez dias de competição e 4.692 quilômetros rodados, das 228 equipes que largaram em carros, motos e caminhões, apenas 100 concluíram a prova.

“Fizemos uma prova em que prevaleceu também a estratégia. Foi muito dura e a tendência é ser cada vez mais”, explicou Marcos Ermírio de Moraes, presidente da Dunas Race, empresa que organiza o Sertões.

Uma prova dura é a melhor definição para a décima terceira edição do Sertões, e estava na boca da maioria dos competidores, principalmente os que ficaram pelo meio do caminho. A prova mais difícil da história, como estavam anunciando, parece ainda estar por vir.

Prova desgastante – Dificuldade não foi a principal característica da prova, algumas especiais foram até tranqüilas na pilotagem, outras de navegação simples. Mas todas, invariavelmente, foram muito cansativas. “Com certeza esse rali foi muito cansativo, não só para os pilotos e navegadores, mas também para a equipe técnica, os apoios e até a imprensa. Os deslocamentos eram duros e muito longos, e tiveram muitas dificuldades”, disse Simone Paladino diretora-executiva da Dunas Race, organizadora da prova.

Realmente, não foram só pilotos e navegadores que sofreram com o cansaço. Vários acidentes aconteceram com as equipes de apoio e alguns até com a imprensa. “Como aconteceu também nos outros anos, grande parte dos acidentes importantes foram com os apoios. Estamos pensando em tomar medidas para conter esse tipo de coisa”, comentou o Dr. Clemar Correia. De todos os acidentes com apoio, o pior foi o da equipe Território 4×4, no qual o navegador teve cortes sérios na cabeça. “Foi quase um escalpe”, contou Correia.

Duas novidades marcaram o Sertões 2005, o estabelecimento de penalizações para excesso de velocidade, ajudadas pelo SPY, e a entrada da prova no calendário do Mundial da Federação Internacional de Motociclismo (FIM). Segundo os representantes internacionais, como o espanhol Marc Coma e o chileno Carlo de Gavardo, as duas novidades eram incompatíveis.

“É uma prova excelente, mas não entendi até agora porque faz parte do mundial. O regulamento é completamente diferente. Não tem nada disso de penalizações nas outras provas do mundial”, disse Coma. “Estou adorando essa prova, a única coisa que me descontenta são essas penalizações”, disse Gavardo, que terminou a prova campeão mundial da categoria 450cc, com 1h1min46seg de diferença para Jean Azevedo, sendo que o chileno tomou uma hora de penalização.

Se a novidade não contentou os estrangeiros, alguns dos brasileiros aprovaram as penalizações. “Acredito que essas modificações vieram para ficar. Principalmente o SPY, que é uma forma de controlar irregularidades de todos os competidores”, disse José Neto, navegador campeão da categoria Caminhões.

Mundial para carros – Ainda é incerto se no ano que vem o Sertões continuará fazendo parte do mundial da FIM. Já nos carros, a tão sonhada participação das equipes internacionais não depende só de uma boa prova. “A questão da vinda do mundial de carros e caminhões para o Brasil depende de força política dentro da Federação Internacional de Automobilismo”, disse o português Jaime Santos, diretor de prova para carros e caminhões. “Mas o Brasil é uma potência, tem tudo para ter a segunda maior prova do calendário, atrás apenas do Dakar”, completou.

O Sertões é uma aventura para todos que resolvem desafiá-lo, dos mais conceituados pilotos do país, passando pelos melhores navegadores, mecânicos, motoristas, autoridades, organizadores, um batalhão de voluntários e a imprensa. Uma trupe itinerante de aproximadamente 1.200 pessoas que cruza o Brasil todos os anos pingando de cidade em cidade.

Esse ano, em especial, ao invés de cruzar o Brasil a prova fez um laço, começou e terminou em Goiânia. A chegada foi na última terça-feira, depois do almoço. Ao invés da cena clássica dos carros na beira do mar em Fortaleza, aguardados por uma multidão na praia, o Sertões foi recebido por cerca de uma centena de curiosos, no mesmo lugar onde aconteceu a largada promocional.

Os mais interessados na chegada dos veículos eram os jornalistas, ávidos para concluírem o trabalho de doze dias de muita aventura e, como não podia deixar de ter, muito perrengue. No começo de tudo, a primeira impressão para os que viajaram de São Paulo para Goiânia já anunciava o que viria pela frente. Após 14 horas de ônibus entre uma cidade e outra, o hotel não abriu vaga para acomodar os viajantes antes de duas horas de espera.

Começa a correria – No Sertões não há lugar para sono, como ficou comprovado em diversos acidentes. O prólogo começou seis horas após a chegada dos jornalistas que vieram de ônibus para Goiânia. A maratona começou ali.

Depois vieram mais cinco dias dormindo em barracas ou em salas improvisadas. A lembrança das belezas que vimos e as pessoas que conhecemos durante o dia se misturava com a ansiedade do que viria no dia seguinte e embalava o sono. Estar ali, no meio do nada, com pouca estrutura, não era problema para ninguém, fazia parte do jogo. Banho? Em vestiários das escolas que ficávamos ou na casa de algum camarada que nos abrisse a porta quando pedíamos. Nessas e outras que apareceu grande parte dos personagens que ilustraram a reportagem dos cerca de 40 jornalistas presentes.

No país dos extremos, a viagem ao cerrado no Rally dos Sertões só poderia comprovar a tese. Na maioria das salas de imprensa, em hotéis, improvisada nos colégios estaduais ou até mesmo construídas na beira do lago Luis Eduardo Magalhães em Palmas, enquanto os jornalistas penavam para conseguir conexão por rede, os que tinham Wi-fi conseguiram enviar seus dados sem o menor problema.

Em Santana do Araguaia, por exemplo, em qualquer lugar da região urbana do município havia conexão sem fio. Mas deixa estar, ao chegar de volta nas redações, com certeza o clima é unânime. Já estamos na contagem regressiva para o Sertões 2006.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: agosto 17, 2005

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure