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O maior aventureiro do Sertões 2005

Redação Webventure/ Offroad

Tucunaré na brasa foi a primeira refeição da dupla em mais de 12 horas (foto: Arquivo Pessoal/ Rinaldo Pirro)
Tucunaré na brasa foi a primeira refeição da dupla em mais de 12 horas (foto: Arquivo Pessoal/ Rinaldo Pirro)

A cidade de Porto Alegre do Norte foi passagem do Rally dos Sertões na etapa que terminou em Santana do Araguaia, no Pará, no dia 2 de agosto. Dois dias depois, porém, uma equipe de apoio ainda esperava uma dupla chegar. Rinaldo Pirro e Luis Scarparo tiveram um problema duplo nessa etapa e um pequeno atraso de mais de 30 horas para conseguir chegar na cidade.

A dupla capotou o Troller em que competiam na especial e foram socorridos pelo caminhão-guincho da organização, que atolou alguns quilômetros para frente. “Vínhamos bem na especial até que meu navegador cantou uma referência de duas curecas e logo em seguida vinha outra de três, que ele demorou para avisar e eu já tinha capotado”, contou o piloto Pirro.

Ele afirma que todas equipes passaram, até os Canastras limpando a trilha, e diziam para ele esperar o guincho, que chegaria rápido. Três horas depois o caminhão da organização apareceu. “Eles tinham se perdido”, contou.

Com o Troller já em cima do guincho, parecia que estava tudo resolvido, “mas foi aí que começaram nossos problemas. O rapaz veio muito rápido e até quebrou o pára-brisa do meu carro, que tinha sobrevivido à capotada”, lembrou Pirro. Ao passar em um brejo, com estrada acima do nível da água, o piloto perdeu o controle do caminhão, quase tombou, mas conseguiu se recuperar. Mesmo assim o guincho, com carro em cima, atolou no meio da noite.

Dormindo na estrada – “Quando atolou eu vi que a situação estava complicada, quanto mais o pessoal cavava, mas afundava o caminhão”, disse. A capotada do Troller foi às 11 horas da manhã, a essa altura eram 2h30 da madrugada e eles ainda estavam no meio da especial. “A única coisa que restou fazer foi encostar nos bancos do Troller e do caminhão e dormir lá mesmo”, contou Pirro.

O dia amanheceu com o suprimento de água e bolacha se esgotando. O carro da dupla estava com os coxins do motor quebrado, radiador furado e a bandeja do câmbio torta. Mas diante do fato do único transporte estar completamente atolado, “decidimos arrumar o Troller!” A dupla improvisou remendos no radiador, desentortou a bandeja na raça e prendeu o motor com as cintas do estepe. “Tínhamos que parar a cada 20 quilômetros para completar a água do radiador e o óleo, já que o bloco do motor estava rachado”, lembrou.

No início da manhã uma idéia veio à cabeça de Pirro. “Enquanto consertavam o carro, decidi andar para ver se encontrava alguma pessoa que pudesse nos ajudar.” Cerca de 12 quilômetros depois o piloto ouviu um barulho e entrou na mata. “Era um grupo extraindo madeira. Ficaram meio desconfiados porque o pessoal do Ibama vai sempre pegar no pé deles. Mas eu estava de macacão, não tinha outra roupa para colocar desde que o carro capotou, e eles logo viram que eu era do rali”, contou.

Por sorte os madeireiros tinham uma moto e levaram o piloto até o trator mais próximo a 50 quilômetros de lá para conseguir desatolar o caminhão. “Eles foram muito simpáticos, até fizeram comida para mim, um Tucunaré na brasa com farinha, a comida que eles comem sempre”, lembrou Pirro.

No caminho o piloto conseguiu um telefone em uma fazenda e contatou o apoio e a família, dizendo que estava tudo bem. “Logo quando capotamos eu avisei que estava tudo bem, mas depois perdemos sinal do celular e o telefone satelital havia quebrado. Já eram dois dias sem dar notícias”, comentou. Perto das quatro da tarde o piloto voltou ao local onde o caminhão havia atolado com o trator e o Troller já tinha sido “remendado”. “Até o trator puxar o caminhão de volta ia durar mais um dia. Resolvemos partir com o jipe, levamos sete horas para percorrer os 110 quilômetros que faltavam até Porto Alegre do Norte. O único problema era o farol, só restou um, que meu navegador segurou com ele e ia iluminando o caminho”, disse.

Sem pânico – “Em nenhum momento fiquei preocupado porque sabia que andando no máximo 30 quilômetros nós íamos encontrar pessoas. Logo quando saí, depois de uns 4 quilômetros eu encontrei um rio com água limpa, era garantia de água para nós. O que eu não queria era largar o carro lá. Nessa hora o que vale é ter a calma e tranqüilidade”, concluiu o aventureiro.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: agosto 18, 2005

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