Foto: Pixabay

Diário de Torben Grael : apresentação e recorde

Redação Webventure/ Vela

Triuplação do Brasil 1 antes da partida (foto: Divulgação/ ZDL)
Triuplação do Brasil 1 antes da partida (foto: Divulgação/ ZDL)

O Bicampeão olímpico Torben Grael agora é comandante do Brasil 1, o primeiro veleiro construído no Brasil a disputar a Volvo Ocean Race. Grael é o líder de uma equipe de feras da vela brasileira e internacional que irá dar a volta ao mundo pela competição. O Brasil 1 saiu no dia 20 de agosto para Portugal, local que servirá de base da equipe até a largada em novembro. No caminho e durante toda a preparação e competição, o comandante escreve um diário. A primeira parte dele você confere a seguir

Domingo (21/8)

Olá a todos os amigos do Brasil 1.
Estamos velejando em direção a Cascais, em Portugal. A viagem deve durar 20 dias, mas você não vai ficar sem notícias por tanto tempo. Começa aqui o nosso diário de bordo virtual. Mandaremos informações diárias de nossa primeira grande viagem. Volte sempre e viva essa aventura conosco.

Os primeiros momentos da travessia Atlântica foram de muita emoção para os tripulantes. A procissão de barcos e o carinho mostraram o entusiasmo do povo brasileiro pelo projeto do Brasil 1, gerando na tripulação um ótimo astral.

A velocidade do barco ainda surpreende. Alan Adler, um dos diretores do projeto e velejador nessa primeira viagem, ficou impressionado com as primeiras marcas. Com uma hora e meia, já estávamos em Maricá, depois da saída da Baía de Guanabara. Após seis horas velejando, passamos por Arraial do Cabo.

Visual – Tudo isso cercado por um belo pôr-do-sol e uma lua cheia que brilhou toda a noite. Ainda pela madrugada, as primeiras companhias: golfinhos no través de Cabo Frio e, pela manhã, baleias entre Arraial do Cabo e Macaé.

Na rotina de bordo, foram estabelecidos os turnos. Marcelo fez um excelente jantar com frango e todos parecem aprovar a comida de bordo. Por enquanto, neste domingo prevalecem os ventos fracos e calmarias. Ainda estamos velejando num ritmo bem tranqüilo.

O barco está em perfeitas condições, a tripulação começa a se entrosar com a rotina e, até Cascais, em Portugal, vamos fazer um bom treino enfrentando as mais variadas condições de tempo e mar.

Ate parece que o vento leste tinha data e hora pra soprar. No domingo, às 12h30, o Brasil 1 começou a ganhar velocidade na costa norte do Estado do Rio de Janeiro um pouco acima do Cabo de São Thomé.

Os ventos chegaram a até 15 nós, mantendo uma média de 11 a 12 nós, proporcionando uma velejada das mais bonitas, a uma velocidade de 10 nós. A cada mudança de intensidade, trocamos as velas. E como estamos velejando no contravento, a cada cambada, trocamos de lado as doze velas que carregamos no barco. Muito trabalho para toda a tripulação, em cima e em baixo do convés, e para os nossos dois convidados, Alexandre Haddad, do Mar Brasil, da ESPN Brasil, e Tino Marcos, da TV Globo.

No final da tarde, uma baleia saltou a menos de 30 metros do barco, um espetáculo raro de se ver. À noite, nossos turnos continuam iluminados por uma linda lua, dando um espetáculo a parte. Na cozinha, Marcelo sua em bicas, mas o rango a bordo está farto e dando aquela disposição necessária a um bom ritmo de trabalho.

Hoje, segunda-feira de sol, os ventos continuam de leste, são nove horas e estamos com latitude sul 19 41, com longitude oeste 39 30. De dar água na boca foi a passagem por uma traineira que mostrou um dourado enorme, digno de um sashimi.

É bom velejar pela Costa Brasileira, onde temos um bom conhecimento e podemos testar o barco com segurança. A beleza e o bom astral a bordo são o detalhe de bons ventos para esse inicio de caminhada do Brasil 1.

Enfim, as condições que eram esperadas para o teste do Brasil 1 surgiram na madrugada desta terça-feira. Os ventos de 25 nós, soprando de sudeste, possibilitaram o primeiro recorde dessa travessia. Com Kiko Pellicano no timão, “empatamos” com o vento e velejamos a 25 nós (46 km/h) no relógio.

Mas, se de um lado a alegria reinava, do outro o perigo rondava. Todos os tripulantes com cinto de segurança, água passando de todos os lados do barco, por cima da galera. Tudo por causa das ondas e do forte vento. Foram feitas duas trocas de vela nessas condições e o time correspondeu, deixando todos os tripulantes muito satisfeitos.

Esse foi, realmente, o primeiro teste do barco e da tripulação. Até agora, só tínhamos velejado em ventos médios e fracos. Não fazíamos idéia de como seria velejar nesse vento forte, com mar alto e tendo de fazer manobras com trocas de vela, ainda por cima à noite. Isso é bom, porque ao mesmo tempo em que gera cansaço em todos, também nos deixa confiantes com nosso desempenho e com o rendimento do barco.

No momento, estamos a 130 milhas náuticas (238 km) de Salvador e a 758 (1387 km) de Fernando de Noronha, nossa única parada no percurso. É lá que iremos deixar o Alan, diretor do projeto que navegou conosco até agora, e nossos convidados Tino Marcos e Alexandre Haddad. Estamos velejando em baixo dos pirajás (aquelas chuvas fortes e inesperadas), com vento e nuvens carregadas de chuva. Agora estamos em latitude 15 42 sul e longitude 37 43 oeste, com vento sudeste e velejando a 19 nós.

Bons ventos,
Torben Grael

Este texto foi escrito por: Torben Grael, comandante do Brasil 1

Last modified: agosto 24, 2005

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure