Tripulantes do Brasil 1 passam por trote na travessia do Equador (foto: Divulgação)
(Nota da tripulação: Todos os tripulantes têm um número. Originalmente, os números começariam com o proeiro Andy como o número zero, até Torben, o camisa 9. Mas alguns números foram alterados e a escala começou com o Kiko, o número 1, até Torben. Andy, por algum motivo que ninguém aqui ainda conseguiu esclarecer, hoje tem o número 10 às costas.
Martin Carter não é parte da tripulação e, por isso, é conhecido no barco como “o homem sem número”. Em seu boletim, ele fala sobre suas funções, muito importantes, alias, a bordo. Ele é o engenheiro responsável por todos os sistemas elétricos, eletrônicos e hidráulicos do barco. Durante essa nossa viagem, sem se incomodar em sempre explicar o que está fazendo, ele manteve tudo funcionando perfeitamente. Mesmo sem número, ele é uma peça importante na nossa equipe e, por isso, foi também batizado no Equador junto com todos os outros!)
Dia 19
344 milhas (639 km) até Cascais
Ventos norte, com 12 nós (22 km/h)
Posição: Norte 36.04 Oeste 15.48
À medida que as milhas para o nosso destino diminuem, os dias parecem ficar mais longos. Na maioria das viagens de barco é assim. As últimas milhas se arrastam e os tripulantes sonham com sua comida favorita e um bom gole de cerveja gelada. Esses prazeres estão cada vez mais perto, mas ainda fora de alcance. Enquanto isso, a comida desidratada fica completamente sem gosto, não importando o que diga o rótulo. Mesmo assim, a vida não poderia ser melhor. O céu está azul e estamos velejando a 12 nós. Devemos aportar em Cascais no fim da quinta-feira ou no começo de sexta.
Muito trabalho – Minha relação com a tripulação é estranha. Não sou um deles, já que faço parte da equipe de terra. Sou o engenheiro responsável pela instalação e manutenção dos sistemas elétricos, eletrônicos e hidráulicos do barco. Ou seja, sou eu que faço funcionar a quilha, o dessalinizador e os motores, por exemplo. Minha função na travessia é mostrar à tripulação os segredos desses sistemas. O objetivo é que, durante as regatas, eles saibam quais são os problemas que podem aparecer e como evitá-los. Basicamente, sou um passageiro no barco, que não deveria ter uma função de velejador. Mas como minha rotina seria maçante assim, consegui convencê-los a me deixar participar de um dos turnos. Mas não tenho tantas responsabilidades, posso chegar dez ou 15 minutos atrasado e não tenho de ouvir reclamações.
Todo o equipamento embarcado funcionou muito bem até agora. O único “porém” fica por conta do dessalinizador. Ele estava com um pequeno problema na alimentação de ar quando estava muito aquecido. Resolvemos o problema com um dos potes para comida, que hoje serve como reservatório de ar para que a máquina funcione normalmente. Seria perfeito se esse reservatório não limitasse o espaço de armazenamento de água.
Agora, precisamos ficar sempre atentos quando o dessalinizador está ligado, para não começar a inundar o interior do Brasil 1. Quando chegarmos em Portugal, teremos mais ou menos um mês pela frente, com o barco fora da água, para ajustes, revisão da quilha e medição. O trabalho não pára nesse mundo da vela.
Martin Carter, o homem sem número
Este texto foi escrito por: Martin Carter, o homem sem número, responsável pela manutenção dos equipamentos do Brasil 1
Last modified: setembro 8, 2005