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Em entrevista exclusiva, André Mirky fala sobre a chegada da perna 3

Redação Webventure/ Vela

O Piratas do Caribe entra na briga (foto: Divulgação/ Volvo Ocean Race)
O Piratas do Caribe entra na briga (foto: Divulgação/ Volvo Ocean Race)

Desde o início da Volvo Ocean Race, essa perna, de Melbourne a Wellington, foi uma das mais disputadas e emocionantes. Com apenas 9 segundos de diferença, o Movistar chegou em primeiro lugar, quebrando a hegemonia do ABN Amro 1.

Para comentar a terceira perna, de Melbourne (Austrália) até Wellington (Nova Zelândia), de 1.450 milhas náuticas, finalizada no dia 15 de fevereiro, o colunista do Webventure e membro do Team ABN Amro André Mirsky, foi entrevistado pela Redação e fala com exclusividade sobre essa etapa, que não acreditava que fosse tão acirrada. Confira.

Webventure -Qual sua avaliação final dessa perna?
André – Eu achava que a disputa da perna não seria tão acirrada, pois não daria tempo dos barcos progredirem tanto. Mas, a vitória do Movistar por 9 segundos foi surpreendente. A briga foi ótima e eles foram disputando palmo a palmo nas últimas 24 horas. Parecia que era uma regata dentro da baía, cuja diferença de um barco para o outro era de 10, 15 segundos, não uma regata que durou quatro dias. Tiveram que usar o foto chart para definir quem era o vencedor.

Webventure -A vitória do Movistar foi uma surpresa?
André – Eu acho que a vitória do Movistar teve a ver com a navegação que foi muito boa. Eles viram que tinham chances desde o começo, capricharam, deram tudo de si e acabaram levando a melhor. O que foi surpreendente foi que venceram com a quilha quebrada, com o casco todo trincado.

Webventure -Alguns barcos, como o Brasil 1, escolheram uma rota mais ao norte, diferente do ABN Amro 1 e do Movistar, que seguiram para o sul. Qual a vantagem e desvantagem que eles levaram?
André – O Brasil 1 tentou ir pelo caminho mais curto e isso foi meio ruim, pois pegaram ventos fracos e caíram da 2ª para a 5ª posição. O padrão numa regata como essa é ir mais ao sul para pegar os ventos mais fortes. No final o vento diminuiu muito e os barcos praticamente estacionaram. Mas, com cinco, seis nós de vento durante a última noite o Brasil 1 velejou bem e recuperou as posições.

Webventure – O ABN Amro 2, que vinha obtendo bons resultados até então, teve alguns problemas durante a perna. O que aconteceu com os “garotos”?
André – Com a vela grande rasgada e problemas no trilho do mastro, não conseguiam subir plenamente a vela. O proeiro abriu o super cílio e luxou o osso do rosto e é até arriscado de ele não participar da próxima perna. Ele é um dos melhores proeiros da competição.

Webventure -Essa perna foi curta, mas causou alguns estragos nos barcos. A perna para o Rio de Janeiro é a mais longa e os barcos precisam enfrentar o Cabo Horn. As chances de quebras são grandes?
André – Essa é a perna mais complicada, uma das últimas grandes e a mais dura, porque passam pelo extremo sul, o Cabo Horn, depois viram e começam a subir pro Rio de Janeiro de contravento.

Os barcos serão colocados à prova. Na última edição da Volvo Ocean Race, essa parte foi a que quebrou mais barcos, pois após o cabo Horn muitos quebraram a quilha e acho que pode acontecer de novo.

Webventure -A partir de agora veremos disputas mais acirradas?
André – Eu acho que a tendência a partir de agora é dessas regatas serem mais disputadas, não só pelo Movistar mas também pelos Piratas do Caribe e o Brasil 1, mesmo passando por uma série de dificuldades, como a perda dos cabos, mas este tem tudo pra começar melhor. Faltava experiência para a tripulação, mas eles já a adquiram nessas três pernas.

Webventure – O ABN Amro 2, o Brasil 1 e o Movistar sofreram danos mais fortes nessa perna. Você acha que eles vão conseguir reparar tudo em 48 horas antes de largarem rumo ao Brasil, ou precisarão de ajuda externa, o que ocasionaria em uma penalidade de duas horas?
André – No ABN Amro 2 talvez a vela grande seja o mais difícil, pois precisa ser costurada, mas todos são bem qualificados pra fazer isso e acho que não vão precisar do auxílio externo. O Brasil 1 eu não sei o que vai acontecer, se terão que repor os cabos e roldanas que perderam no mar. Se precisarem, vão perder as duas horas e vão largar junto com o Movistar.

O Movistar está fora d´água e vão precisar de ajuda externa. Vão fazer uma nova bolina e vão reparar a quilha.

Webventure -E quanto ao Ericsson, que parecia ser forte no início da competição, mas agora está para trás?
André – Achei que a equipe iria mostrar a força igual a do começo da competição. Não sei se foi problema de rendimento da tripulação, ou se houve algum problema que não divulgaram.

Webventure -O ABN Amro 1 é o favorito para vencer a próxima etapa também?
André – Eu acho que o ABN 1 vai ganhar essa perna com mais distância do que ele ganhou as outras, pois é uma perna com mais vento. Eles estão bem treinados, o barco não tem nada quebrado e a chance de eles fazerem mais pontos é grande.

Webventure -Em relação aos “garotos” do ABN Amro 2, eles deixaram de ser uma pedra no sapato de Mike Sanderson, comandante do ABN Amro 1?
André – O Mike pode ficar tranqüilo (risos), pois os garotos têm outros problemas para cuidar. Estão todos evoluindo e chegaram ao nível deles. Então, essa dobradinha do ABN está cada vez mais difícil.

Webventure – Vinte dias, quase um mês no mar. Como você acredita que ficará a convivência entre os tripulantes?
André – Todo mundo fica no limite. Depois de 20 dias você já não agüenta mais olhar pra cara do outro. Assim que termina a perna tem umas pequenas férias e aí eles recomeçam tudo de novo.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda

Last modified: fevereiro 17, 2006

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