Roberta Borsari na Califórnia (foto: Arquivo Pessoal)
A canoísta e personalidade do Webventure Roberta Borsari ficou em sexto lugar no 20o Festival de Kayaksurf Anual de Santa Cruz, na Califórnia, na categoria Exrpert Open Woman. O evento reúne os melhores atletas do mundo e é considerado o mais importante da modalidade depois do mundial. No texto abaixo ela conta como foi mais essa experiência.
Deu um friozinho na barriga ao tomar a decisão de participar do tradicional campeonato de kayaksurf de Santa Cruz depois que li no site oficial do evento: “only experts in big waves” (apenas especialistas em ondas grandes) e “where 10 ft. plus waves are possible” (são possíveis ondas de dez pés ou mais)…UAUUU!
Não conhecia a Califórnia, mas o desejo de conhecer a Meca do surf e as histórias que ouvi falar sobre as excelentes ondas de lá, instintivamente me fizeram tomar aquela decisão.
Lá fui eu, sozinha, apenas com o telefone de uma californiana que conheci no mundial em 2003 e nos reencontramos na Costa Rica, no último mundial.
Seriam poucos dias, apenas dez, porém tinha certeza que seriam intensos. O evento é o mais importante da modalidade depois do mundial e conta com a presença dos maiores nomes do kayaksurf, além disso, ainda teria as provas de waveski e kayaks de plástico fazendo freestyle. Enfim tudo que um canoísta de onda gosta: ondas, Califórnia, grandes nomes do esporte, os lançamentos em exposição e muita adrenalina.
Adaptação – Nos primeiros dias surfei em Steamer Lane, um dos locais mais famosos da Califórnia, e conseqüentemente mais “crowdiado” também. Era um swell de sete pés, mas havia tantos surfistas na água que os kayaks não se atreviam a chegar no outside, naqueles dias os surfistas ainda eram donos do pico. Mesmo assim, as ondas um pouco menores eram sensacionais, perfeitas e com longas paredes para deslizar. Ficava um tempão surfando a mesma onda.
Durante o checkboat, momento onde você regulariza a sua inscrição e faz a aferição dos seus equipamentos foram mostrados muitos vídeos, de canoagem em rios e ondas. Foi passada uma das edições do evento onde havia ondas de 5 metros sinistras e o campeonato rolando, no mesmo lugar onde eu havia surfado pela manhã. Não acreditei!
A natureza de inverno diferente da nossa também chamou a atenção, surfar entre pingüins, lontras e leões marinhos foi bem diferente, tenho que confessar. Aliás, o frio foi um dos maiores inimigos, mesmo já tendo surfado em lugares gelados como o norte da Irlanda, por exemplo, foi difícil se acostumar com a água congelante da Califórnia. Já haviam me avisado que a corrente que vinha do Alasca era absurdamente fria, mas não imaginava que era tanto assim, e foi!
Gina, a californiana que eu tinha o telefone, foi muito bacana, me apresentou várias pessoas, me levou às festas da canoagem e para conhecer um dos picos mais legais que já surfei na minha vida: Davemport. Famoso local de boas ondas, onde ocorre uma das etapas do WCT (surf profissional) e é menos cheio que Steamer Lane. Bom, não preciso falar que depois que descobri este lugar só surfei lá.
Tive problemas com meu caiaque, como estratégia optei por um caiaque bem robusto, pesado e resistente para encarar as fortes e pesadas ondas do Pacífico americano. Em um dos dias que surfamos em Steamer Lane entramos por um local onde haviam pedras e acabei quebrando a minha caixa de quilha. Para poder competir, Gina me levou na casa do seu amigo Denis, futuro campeão da classe internacional 2006, que me salvou fixando minha quilha com resina.
A caixa de quilha, para quem não sabe, é o compartimento onde se fixa as quilhas podendo movê-las para frente e para trás, deixando o kayak com mais ou menos possibilidade de manobras. A grosso modo, em ondas grandes usamos as quilhas mais para trás, para que o kayak fique mais “fixo” e tenha mais controle das manobras. Com ondas menores colocamos as quilhas para frente, para o kayak ficar mais “solto”. Fixei minhas quilhas para trás pois estava pegando ondas grandes, mas no dia da competição as ondas não estavam tudo isso.
O kayak pesado e as quilhas para trás dificultaram demais a minha performance. Todos os competidores correram duas baterias de 20 minutos com mais três atletas, e uma somatória de pontos mostrou quem seriam os quatro primeiros colocados que correriam as finais no domingo.
Presente – Na sexta, achei que não tinha ido bem, que o kayak estava muito pesado para aquelas ondas. Saí da água e sem tirar o neoprene fui direto para Davenport, que ficava cerca de 15 minutos de Santa Cruz, ao chegar lá caí direto na água. Só havaiam mais três waveskis e surfamos excelentes ondas de seis pés. Logos depois os rapazes foram embora e eu inacreditavelmente surfei sozinha naquele que era considerado um dos melhores picos da região, foi sensacional. Um presente!
Na festa daquela noite, estava toda contente com a cabeça feita de boas ondas e nem parecia que estava no meio de uma competição. Conheci Corran Adison, polêmico, maluco e um dos grandes canoístas e shaper do mundo. Ele me contou um pouco da sua viagem ao Brasil para surfar a Pororoca, das dificuldades de logística que teve e depois disse que ficou interessado em conhecer o kayak brasileiro, achou o shape do meu interessante e disse gostaria de experimentá-lo. Reencontrei alguns amigos que fiz nos dois mundiais que fui, de estrangeiros estavam presentes também atletas da Inglaterra e Irlanda.
Dali um mês havia mais uma competição em Mundaka, na Espanha, e todo me perguntava se eu iria para lá, como se minha realidade fosse igual à deles que a cada dois meses então em um lugar do mundo. Para vocês terem uma idéia, tinha um casal de irlandeses que ainda não haviam voltado para casa desde o mundial da Costa Rica, que aconteceu em outubro. Estavam viajando pelo mundo, surfando e descendo rios.
Durante a competição os estandes com os novos lançamentos de kayaks ferviam, os kayaks da Dagger e WaveSport para rio e os da Mega para surf. Malcon, shaper e dono da Mega, mais uma vez estava presente com a sua equipe inglesa e seus mais novos lançamentos. Conversamos um pouco e ele me deu de presente um kit com as suas quilhas. Para se ter uma idéia de custo, os kayaks de onda de carbono custam cerca de U$ 2.000,00.
No dia seguinte um vento entrou para bagunçar, as condições não estavam tão legais. Mas gostei bem mais da minha performance nas ondas e só estava surfando com feras, as meninas eram muito boas. Mesmo assim não cheguei às finais, na somatória geral de pontos fiquei em 6º lugar.
Volto pra casa feliz e com a certeza de que fiz muito bem em tomar a decisão de participar deste evento. Voltei com experiência, amigos, contatos, boas ondas da Califórnia na mente e a idéia de que podemos ir um pouco mais longe quando acreditamos em nós mesmos!
Gostaria de agradecer ao meu patrocinador, UOL que mais uma vez viabilizou a minha participação nesta prova e aos meus apoiadores Adventure Gears, Aquabound, Fórmula Academia, Hidro 2, Mormaii e Tribo dos Pés, que me deram suporte para encarar mais esta aventura.
Até a próxima!!!
Bebeta
Este texto foi escrito por: Roberta Borsari, atleta brasileira no festival de Steamer Lane
Last modified: abril 5, 2006