Vitor Negrete (foto: Arquivo pessoal)
Do ABC, Advanced Base Camp ou Campo Base Avançado, o colunista Vitor Negrete conta como está o avanço da expedição brasileira para escalar o Everest via face norte e sem uso de oxigênio suplementar.
Minha barraca contorceu-se pela força dos ventos na noite passada e agora pela manhã, vejo o cume do Everest com um imenso penacho branco formado pelos ventos. Continua a ventar moderadamente, estamos a 6.400m de altitude, no Acampamento Base Avançado (ABC) da face norte do Everest. Ontem, depois do jantar discutimos por horas qual será a nossa estratégia de ataque ao cume. Precisamos escolher um dia para subir, mas não podemos errar.
No ataque gastamos grande parte da energia que acumulamos ate agora. Acima dos 8300m o oxigênio que conseguimos respirar é suficiente para continuarmos respirando, quase não sobra O2 para as outras atividades fisiológicas, muito menos para escalar. Assim, depois de uma tentativa de ataque, não sobra energia para uma próxima tentativa. Temos somente um tiro.
As diferentes expedições têm suas previsões de tempo e nós temos a nossa também. Comparando todas as previsões, deveremos ter um dia bom para o cume no dia 19 e no dia 23 de maio. Nosso ataque ao cume segue as seguintes etapas: acampamento 1 (colo Norte 7.100m); acampamento 2 (7.900m); acampamento 3 (8.300m). Nos dormimos uma noite em cada acampamento. Para atingirmos o cume no dia 23, precisamos sair do ABC no dia 20 e do dia 20 ao dia 23 o clima pode também pode mudar.
A opção de atacar o cume no dia 19 tem um complicador, até agora as cordas não foram fixadas acima do primeiro escalão, ou seja, a maior parte da rota do dia do ataque ao cume ainda não foi percorrida, assegurada e indicada. Como é a nossa primeira vez no Everest, precisamos das indicações para encontra a rota durante a noite, pois como vamos sem O2 precisamos sair durante a noite do dia anterior para conseguir chegar ao cume antes do meio dia do dia seguinte. Sem O2, também não temos muita oportunidade para procurar a rota, ir e voltar. Sem O2 também temos o raciocínio prejudicado e a corda fixa é um seguro de vida.
Mas tudo pode mudar. Pode ser que a equipe consiga fixar as cordas até o dia 20, pode ser que o dia 20 seja um dia ruim e pode ser que o dia 23 e 24 sejam dias maravilhosos. Nestas próximas horas tomaremos decisões que podem mudar o curso da nossa expedição, e de nossas vidas.
Este texto foi escrito por: Vitor Negrete, da Try On Expedition 2 no Everest
Last modified: maio 17, 2005